06 agosto, 2021

ABREU, Solano de - MULHER PURIFICADA.
[De como esta novela aconteceu em nossos dias]
. Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira, 1926. In-8.º (19 cm) de 190, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Romance naturalista de ambiência rural. Alberto Doirado - o Doiradinho -, oficial dos correios, tudo faz para subir na escala social (e material) pelo casamento.
Obra interessante e muito bem redigida, rica em vocabulário e expressões patuscas, como é apanágio do escritor abrantino. Trata-se de uma história que o autor reputa de verídica, conforme inscrição na capa do livro: "De como esta novela aconteceu em nossos dias".
"O Alberto Doirado, ou o Doiradinho, como familiarmente o tratavam as damas, a quem com freqúência e multiplicidade fazia a côrte, era dos primeiros oficiais dos correios e telegrafos e fazia serviço nas ambulancias postais. Tinha figura, gestos, maneiras para alinhar com distinção na sociedade, que freqúentava. Podia até ser árbitro de elegancias, se as condições dos Petronios atuais fossem compativeis com os ordenados dos correios. Alto, talhado em esguio, escanhoado como um leitão em toilete de forno, a espinha levemente curvada anunciando marreca precoce, os braços caídos ao longo do corpo, o olho direito envidraçado com monoculo constante. Sempre enluvado fora do mister profissional, embora muitas vezes os dedos protestassem contra a prisão da pelica e da camurça, deitando a cabeça de fóra num esfôrço libertador. [...]
Economico, até quási à avareza, amealhava todo o ano para no verão gastar nas estancias de águas e termas e mais freqúentemente em Vizela, campo de preferencia escolhido para a ambicionada conquista de noiva rica entre afamadas herdeiras, com quem era facil o conhecimento e o trato nos piqueniques, nas ceias americanas, nos chás dançantes de cada hotel, e no baile do casino, onde ele todas as noite tomava de empreitada as javas, os foxtrots, os one stép, os tangos e os maxixes. [...]
A realisação dum bom casamento era o seu sonho constante, de todas as horas, porque mesmo acordado trazia sempre a imaginação cheia de fantasia, que era um ideal absorvente de todos os pensamentos e acções. De procedimento correto, maneiras educadas, facilmente conquistava simpatias, cercando-se duma atmosfera benígna, acolhedora mesmo, num meio social em que lhe era facil entrar e manter-se dignamente na posição vertical, que o Creador lhe dera e ele aperfeiçoára."
(Excerto do Cap. I)
Francisco Eduardo Solano de Abreu (1858-1941). "Nasceu a 19 de Julho de 1858 em Abrantes, tendo-se formado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1885. Embora tenha exercido advocacia e a magistratura, foi noutras áreas que se tornou conhecido na sociedade abrantina, nomeadamente como empresário agrícola e sobretudo na área de assistência social, onde a sua filantropia o tornou estimado de muita gente a quem ajudou a minorar múltiplas carências socio-económicas. A título de exemplo refira-se a fundação em 1921 da Sopa dos Pobres ligada ao Montepio Abrantino a cujos corpos sociais pertenceu. Pelas suas atividades humanitárias recebeu o grau de Comendador da Ordem de Benemerência e a medalha de Mérito, Filantropia e Generosidade.
Homem de cultura e amante das atividades cénicas, foi diretor do jornal "Correio de Abrantes e escreveu romances e peças de teatro, como a revista "No País da Aletria" que foi representada no desaparecido Teatro Ator Taborda. Solano de Abreu faleceu em 1941."
(Fonte: ae1abrantes.esdrsolanoabreu.pt)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos.
Raro.
Indisponível

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