12 maio, 2021

GUIMARÃES, Dr. J. J. d'Oliveira - VIRGEM MARIA.
Sermão recitado na Real Capella da Universidade no dia 8 de dezembro de 1902. Pelo... Lente da Faculdade de Theologia
. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1903. In-4.º (24 cm) de [2], 21, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Sermão interessantíssimo, com o foco em duas vertentes: o dogma da Virgem Maria e o despontar do movimento feminista mundial, mostrando Oliveira Guimarães lucidez e pragmatismo sobre as matérias versadas, naturalmente à luz do pensamento e práticas da época .
"Ao levantar pela primeira vez a minha humilde voz na presença de assembleia tam illustrada, que outra mais eu não conheço em meu país, não é sem motivada tibieza de ánimo que balbucio as primeiras palavras da pobre oração, que em obediência á lei e compellido pelo dever me vejo hoje obrigado a pronunciar.
Mas, se me sinto absolutamente despido de dotes oratórios, necessários para o bom desempenho da missão de que estou incumbido, e me reconheço portanto incapaz de emprestar a qualquer assumpto o relêvo e colorido, que o torne attrahente e interessante a espíritos tam cultos, resta-me ao menos a consolação de que a matéria sôbre que ha de naturalmente versar o meu discurso é de si tam grandiosa e sublime, que nada lhe poderá obscurecer o alcance, nem empanar o brilho.
Trata-se effectivamente do dogma mais suggestivo, mais sympáthico, mais fecundo em effeitos morais, de toda a economia do christianismo - o dogma da Immaculada Conceição de Maria, definido pelo supremo Hierarcha da Igreja, a instâncias de toda a christandade, a 8 de dezembro de 1854. [...]
Trata-se enfim dum ponto doutrinal, que muito antes de ser imposto pelo inffalivel Magistério de Igreja à crença cathólica, com a verdade irrecusavel dum dogma, já nesta Universidade fôra objecto duma profissão de fé, como prova a inscripção commemorativa que ali está, no topo do transepto desta Capella, profissão que se repetia todas as vezes que houvesse de se conferir algum grau em qualquer das faculdades académicas."
(Excerto da primeira parte da obra)
"Meus senhores: - No momento em que estou fallando, talvez em muitas cidades de Inglaterra ou dos Estados Unidos da América do Norte, em várias dessas reüniões e congressos que revelam ao mundo a crescente importância do movimento feminista, se estejam nesta hora discutindo acaloradamente algumas das questões referentes á mulher, aos seus direitos, aos seus deveres, à sua missão no mundo, às profissões que julgam dever-lhes ser facultadas, à sua situação em relação ao homem, etc. [...]
As multidões impacientes de dôr e de oppressão, cansadas de miséria e de gritos, adquirem a consciência real do seu mal estar. [...]
Este estado de profundo desalento, que tam dolorosamente aggride as consciências e perturba os espiritos, ha de aggravar-se ainda mais, se possivel fôr, quando a mulher, pelas condições económicas, morais e sociais que o meio lhe está preparando, fôr arrastada a reclamar no immenso banquete da vida, pela violência da selecção, a parte que lhe pertence.
Quando esse lúgubre momento chegar, quando a mulher num esfôrço supremo do instincto da conservação, para garantir a sua sobrevivência, fôr obrigada a disputar ao homem a primazia do talento e do domínio, invadindo todas as profissões e misteres até agora a elle exclusivamente reservados; quando ella tiver de pôr ao serviço da necessidade as brilhantes qualidades que a caracterizam, o seu engenho, a sua paciéncia, a sua capacidade esthética, o seu gôsto artístico, a sua rara habilidade manual, a sua astúcia, a sua subtileza, etc., então a lucta pela vida tornar-se ha tam intensa e tam cruel, a selecção social será tam mortífera e violenta, que o mundo nos offerecerá certamente o espectáculo ignóbil e doloroso dum immenso pandemónio, onde a felicidade e o bem estar nunca encontrarám pousada nem lograrám abrigo."
(Excerto da segunda parte da obra)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

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