01 maio, 2021

NOCHE, Pablo la - LUSCO-FUSCO. (Vida e morte de um desconhecido). Com uma introdução de Ingborg Moacyr, professora ginasial. Amadora, Livraria Bertrand, 1973. In-8.º (20 cm) de 400, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Curioso romance assinado por Pablo la Noche, pseudónimo de Marcello Mathias, escritor, político e diplomata português, que negociou e trouxe o espólio artístico de Calouste Gulbenkian para Portugal.
"Um cepticismo em permanente contraste com uma fingida candura, uma ironia subtil aliada a uma invulgar elegância e pureza de linguagem consagram este romance como uma revelação na moderna literatura portuguesa." (Retirado da contracapa)
"Entre os numerosos manuscritos que nos são enviados e ficam aguardando leitura para se decidir sobre a sua eventual publicação, encontramos agora, esquecido há mais de três anos, aquele que hoje publicamos. Apesar de todos os nossos esforços não nos foi possível descobrir o paradeiro da Senhora Ingborg Moacyr, que nos enviara o Lusco-Fusco e nos propusera a sua publicação. Como ignoramos a quem cabem os direitos de autor, ficam estes inteiramente salvaguardados para quem provar ter legitimidade para recebê-los. Não sendo conhecido o nome do autor, mas depreendendo-se do texto que, sob o pseudónimo de Pablo la Noche, exerceu funções de jornalista, sob esse pseudónimo aparece a atribuição da autoria deste livro.
Lisboa, 15 Janeiro de 1973”. "
(Nota do Editor)
"Nem toda a gente se lembra de Lusco-Fusco, romance de 1973 assinado por Pablo La Noche, vencedor do Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências. Poucos sabiam quem se escondia por trás do enigmático pseudónimo. Urbano Tavares Rodrigues foi um dos que não poupou nos elogios. Até que, em 1976, Robert Laffont editou a obra em França, como Pablo La Noche, de Marcello Mathias, obtendo o Prémio Rayonnement Français da Academia Francesa.
(Fonte: daliteratura.blogspot.com)
"O Colégio do Marquês, em Barbacena, tinha uns cento e vinte alunos, todos se preparando para o curso ginasial. Eu era ali professora de Alemão, mas leccionava também, provisòriamente Latim por se encontrar vago o lugar.
Um dia o director, que era o padre Segismundo - homem severo que não perdoava em questões de disciplina -, me avisou de que se havia apresentado um pretendente ao lugar de professor de Latim, convindo que fosse eu a receber o candidato e a medir as suas habilitações.
Logo pelo forte sotaque percebi que se tratava de um português. De tez morena, estatura meã e uma barba cerrada onde já começavam a pratear alguns fios, estava de pé junto da janela e tão absorto que me não ouviu entrar na sala. Os documentos que ele trazia provavam apenas que já fora repetidor de Latim e de Francês num colégio, em Sorocaba. Tive, por isso, de saber dele alguma coisa mais, visto me não apresentar diploma algum de habilitações que o inculcassem para o lugar, nem mesmo documento bem claro sobre a sua identidade.
Com algum embaraço, respondeu-me que era um autodidacta; estava, porém, disposto a me dar ali mesmo as provas de sua competência, pois podia traduzir à primeira vista, e sem ajuda de dicionário, qualquer texto clássico que eu escolhesse. E trazidos os livros assim fez, com uma facilidade que me deixou surpreendida porque revelava uma cultura latina pouco comum e bem mais profunda e completa do que a minha. Tudo isto, todavia, era realizado com uma espécie de tédio, como se lhe fosse penosa a demonstração do que ia fazendo. [...]
O homem era tão bicho do mato que apenas cumprimentava os colegas, e todo o tempo que não estava dando lições se encerrava no seu quarto. Não sabia, ou talvez não queria, fazer amizades, nem tão-pouco estreitar relações; uma ou outra vez que o convidámos para um passeio, mesmo em domingos ou feriados, sempre se recusara com o pretexto de que necessitava preparar as prelecções."
(Excerto da Introdução)
Marcello Mathias (1903-1990). "Nasceu em Lisboa em 1903 e morreu no Estoril em 1999. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, foi advogado e Delegado do Procurador-Geral da República, tendo depois entrado para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde exerceu funções em Atenas, no Rio de Janeiro e em Paris, antes de ser Director-Geral, Secretário-Geral e mais tarde Ministro dos Negócios Estrangeiros (1958-1961). Foi por duas vezes Embaixador em França, num total de mais de 20 anos. No Rio de Janeiro publicou, em 1943, Doze Sonetos e Uma Canção, que teve várias edições, a última das quais em Portugal, em 1984. Mas foi a publicação de Lusco-Fusco que o consagrou em 1973, quando obteve ex-aequo o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências. A tradução da obra em francês, em 1976 pela Robert Laffont, valeu-lhe o prémio «Rayonnement Français» da Academia Francesa."
(Fonte: https://quetzal.blogs.sapo.pt/14284.html)
Belíssima encadernação em meia de pele, com cantos, com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Invulgar.
Indisponível

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