BRITO, Rosalino Candido Sampaio e - A CAMPANHA Á PORTA FÉRREA ENTRE ESTUDANTES E POLICIAS. Campanha formidavel á Porta Férrea. - Não ha-de ser F'rrezeida nem Ferrãozáda, Ha-de ser, p'ra rimar, gran ferroáda, (Quem verdade não vê, se quizer abérrea) Bom humor em, heroico, verso escripto, De... Coimbra, Typ. e Lit. Minerva Central, 1898. In-8.º (21,5 cm) de 15, [3] p. (inc. capas) ; B.
1.ª edição.
Curioso opúsculo de Rosalino Sampaio e Brito, uma das mais conhecidas, castiças e acarinhadas personagens do meio estudantil coimbrão do último quartel do século XIX, autor de dezenas de folhetos satíricos.
Acompanha o livrinho uma folha volante de propaganda ao mesmo, também ela muitíssimo interessante, pela "prosa" e pela justificação da obra:
"Acabrunhado já pelos annos - minado pouco a pouco, pelo venêno d'uma desgraça immensa, cujo unico antidoto possivel, está só na resignação evangelica, acompanhada pela corágem - horrorisado da perversão dos homens; não pelas injustiças que se me teem feito, que essas ficam sempre, logo logo bem esmagadas, pelo proceder de toda a minha vida; mas sim pelo cynismo do desprêzo delles proprios: sem offender ninguem; porque, se castigar é uma alta virtude, impósta pela propria dignidade; ofender, alem de canalhice, é, em certos casos, um crime; o meu pequenino Poema Heroi-Cómico = A campanha á Porta Ferrea = pelo estado d'excitação em que me acháva quando a fiz, por ter castigádo da maneira mais dura que é possivel haver, por uma grande vileza sua, um individuo, de quem eu era amigo..."
(Excerto da folha volante, Aos Ill.mos e Ex.mos Srs Estudantes)
"Se as minhas pobres (pobrissimas) publicações, teem sido todas, propriedade, deixe-se-m'o dizer, dos estudantes, pela elevação dos sentimentos nobilissimos do seu coração, é que constantemente, e com inexcedivel delicadêza sempre, m'as teem recebido; esta agora, mais o é ainda, por todos a estarem esperando, visto que todos m'a pediram, e a todos eu prometti."
(Excerto da Advertencia)
Rosalino Cândido de Sampaio e Brito. "Todas as gerações academicas nos ultimos trinta annos o conheceram, de guitarra em punho arremedava-o uma das personagens da trindade que entrou na apotheose do Auto da Sebenta. Pobre como Job, nunca acceitou esmolas, estava sempre a publicar folhetos e os estudantes para o proteger exgotavam-lhe as edições e d'esses parcos ceitis vivia arrastando vida miseravel com as suas longas barbas, capote no fio, de uma côr duvidosa, e o classico chapéo, em que era impossivel descortinar a forma primitiva.
Nos seus ultimos dias, alquebrado pela velhice e soffrimentos, farto de privações e á mingua de recursos foi para o hospital de S. José, onde teve uma das derradeiras alegrias ao reconhecer no director da enfermaria um dos velhos amigos. Gregorio Fernandes, extremamente bondoso, condoendo-se da triste situação, a que se via reduzido o pobre do velho, que passou a vida como litterato sem nunca o ter sido, arbitrou-lhe as melhores das dietas, mas o melhor da passagem é, que isto não se faz sem ficar o devido registro na papeleta do doente e na casa respectiva a razão determinante. Por demais era conhecida a já bem notoria, ferocidade do enfermeiro mór (um excellente cavalheiro, aliás, quando se não tratava d'aquellas suas funcções), mas Gregorio Fernandes, que nenhum razão medicamente plausivel podia indicar, não hesitou, lançando com mão firme na papeleta este singular motivo - Rosalino Candido - e graças a esta extraordinaria sahida e ao facto de o sr. enfermeiro ter ficado entupido com ella até esta data, pôde o pobre do Rosalino quasi á beira da sepultura saborear as delicias do bife, que a sorte adversa lhe recusara durante a vida."
(Fonte: L. F. Marrecas Ferreira, Revista Brasil-Portugal, n,º 270 - 16 de Abril de 1910)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito raro.
Indisponível
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