KEIL, Luis - UMA VISIONÁRIA SEISCENTISTA (notas ao viver monástico). Coimbra, Tipografia Reis Gomes, M.DCCCC.XV [1915]. In-8.º (24,5 cm) de 8, [4] p. ; [1] f. il. ; B.
1.ª edição.
Apontamentos biográficos sobre Joana da Trindade, freira mística que professava no convento feminino da Madre de Deus, em Xabregas, Lisboa.
Opúsculo ilustrado em separado com um retrato da biografada. No final, encontra-se reproduzido em 4 páginas o fac-símile da carta que a irmã dirigiu ao seu director espiritual - Fr. António das Chagas.
Tiragem de 75 exemplares. O Presente leva o n.º 21, pertencente ao Dr. Virgilio Correia Pinto da Fonseca.
"Folheando uma velha crónica monástica, ha dezenas de anos abandonada numa estante poeirenta, caiu um envólucro de papel amarelecido, onde escritas com mão trémula eu li estas palavras:
«esta cartinha he de Mᵉ
Sor Joan-
na da Trinᵉ
, da letra da Mᵉ
Soror
Luiza Mª de Jezus".
Abrindo-o, encontrei dentro a seguinte carta, dirigida a frei António das Chagas, carta que uma freira histérica e cheia de misticismo ditára á sua companheira:
[Carta]
Quem eram essas filhas da matriarca Santa Clara, que no mosteiro de Nossa Senhora Madre Deus, em Xabregas, assim escreviam ao seu director espiritual, o veneravel frei António das Chagas?
A signatária, soror Joana da Trindade, freira visionária, sempre tão alienada dos sentidos que nem de si se lembrava, nascera por 1640, em Castelo de Vide.
Fervorosa devota do Santissimo Sacramento, a sua alma, alheia ás cousas do mundo, estava onde mais amava.
E como êsse amor todo dedicado a Deus estava no ceu, onde ela esperava subir um dia a compartilhar da glória eterna, a sua oração mais íntima a fazia onde melhor pudesse contemplar a imensidade celeste, na qual ás vezes ela parecia querer penetrar, andando aos subidos saltos pelo mosteiro, sendo ainda «viadora na terra».
As freiras encontravam-na, bastas vezes, com os braços em cruz e os olhos no ceu; e dando gritos tão grandes que as faziam estremecer, as abraçava, deixando-as - « como a arder em fogo» qual «anjo em carne ou serafim abrazado em amorosos incendios»!
Tudo largava ouvindo nome de Deus;como louca corria e se fechava nalgum recanto, até que lhe passasse o excesso. [...]
Eram freqüentes os desmaios nesse temperamento de freira, mística e visionária, que a si própria se apelidava «a Peccadora»; e alguns prolongavam-se tanto que necessário era chamar-se o médico. [...]
Conta-se ainda, ser tão favorecida Soror Joana das graças do seu Senhor, que, um dia em que temerosa tempestade amedrontava as freiras, reúnidas em preces no côro conventual, invocando o Altissimo para aplacar a fúria dos elementos, que elas julgavam a cólera celeste - num ápice, como levada por ventania indomavel, Soror Joana se levantou «meio covado» da terra, e em êxtase e de mãos postas assim foi até junto do Santuário, onde em voz alta entoou um Te-Deum!
Asseverou o sacristão-mór, que da varanda do Hospício, onde assistia, estava implorando a misericórdia divina em tão angustioso lance, ter visto cair um raio do ceu sobre o mosteiro; mas no momento em que ia penetrar no côro, logo uma forte e poderosa mão, saindo de entre as nuvens, o desviára e lançára ao mar!"
(Excerto do trabalho)
Luís Cristiano Cinatti de Keil (1881-1947). "Quarto filho
de Alfredo Cristiano Keil, (autor de “A Portuguesa” - hino nacional escrito em
1891 e aprovado em 1911), seguiu também na senda das artes tendo sido
Conservador do Museu Nacional de Arte Antiga, Director do Museu dos
Coches e Vice-Presidente da Academia Nacional de Belas Artes. Morreu
tragicamente com a mulher e a única filha num desastre de automóvel, em
1947."
(Fonte: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/luis-keil/)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Indisponível
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