SILVA, Portugal da - CONTOS D'UM NEVROTICO. Lisboa, Livraria Central de Gomes de Carvalho, editor, 1907. In-8.º (19 cm) de 363, [5] p. ; E.
1.ª edição.
Livro curioso - conjunto de contos - a que assenta bem a classificação "nevrótico", tanto ao autor, como ao conjunto de histórias da sua lavra. Raro e muito interessante.
"Convém acentuar: os contos que se seguem são todos originaes.
O auctor faz passar a acção de muitos d'elles no estranjeiro, jogando com as personagens dos differentes paizes.
É facil a explicação.
Em primeiro logar o meio, a mór parte das vezes, não se podia adaptar ao nosso, depois, nunca esqueceremos a desillusão soffrida ao ler um romance d'Arnaldo Gama, em que a heroina, uma creatura toda mocidade, formosura, tinha o nome da nossa vizinha do quarto andar, uma engommadeira, velha, torta e rabujenta.
Foi tão grande o choque que pozemos o livro de lado.
E não quizemos que acontecesse o mesmo - a vulgaridade dos nomes portuguezes é tanta - aos que se dessem ao trabalho de ler os Contos d'um Nevrotico."
(Introdução, Duas palavras)
"Os animos estavam muito alterados.
Tratava-se de eleições e os partidos dispunham-se a travar combate.
- Nada! - Nada! D'esta vez o povo ha-de levar ao parlamento o seu legitimo representante! berrava um que sempre vendia o voto.
- Ohem que o filho do Barão não fez grande cousa pelo circulo, atalhou o Bento, que não podia esquecer que o pae lhe prendera na taberna alguns dos freguezes por estarem a jogar.
- Eu cá não quero mais ser degráo!
- Nem eu! Nem eu! prorompiam todos.
- E quem se propõe d'esta vez? perguntou um estranho que se acercara do grupo.
- Um doudivanas que para ahi anda, que persegue as raparigas e a quem chamam doutor. Se um dia o apanho a espreitar a minha Carlota vae tudo raso.
E as suas mãos apalpavam, com ancia, um respeitavel varapau.
- O sr. administrador é unha com carne com elle.
- O melhor é correr toda esta cafila. Um raio me parta se eu o não fizer! gritou um homem baixinho e em cujo rosto se denotavam visiveis signaes das longas meditações a que se entregava com as garrafas.
- Quando me derem o tal papelinho para a urna, rasgo-o immediatamente. Eu cá tambem sei ser gente.
- Caluda!
Na estrada ouviam-se os passos cadenciados d'um cavallo e n'uma das voltas viram Arthur de Menezes que o montava.
Todos tiraram o chapéu ante elle, e como que imploravam um ar de graça d'aquelle que ainda havia pouco criticavam. Mas Arthur conhecia-os bem.
Cumprimentou-os ligeiramente e deu de esporas ao animal.
- Que modos...
- Parece alguem...
- A urna t'o dirá, meu...
E o resto das phrase perdeu-se para dentro da locanda onde aquella matula se refugiou."
(Excerto de «Black»)
Indice:
Duas palavras. | No hospital de alienados. | Historia d'uma lagrima. | A duvida. | A commoção do bandido. | Carta d'uma noiva. | Clara Hartington. | «Black». | O assassino. | Moribunda. | Impressões d'um doudo. | O segredo. | O sermão. | Romance d'uma actiz. | O passado. | O roubo. | Um romance em cartas. | Um suicidio. | De queda em queda. | A parte telegraphica. | A ultima homenagem.
Encadernação editorial inteira de percalina com ferros gravados a seco e a ouro na pasta frontal.
Exemplar em bom estado de conservação. Pasta anterior apresenta mancha junto da margem lateral.
Ex-libris de Matos Sequeira no verso da capa.
Raro.
Indisponível
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