25 outubro, 2020

IN MEMORIAM a Artur do Canto Resende, Engenheiro Geógrafo. (Herói e Mártir de Pátria em Timor) : 1897-1945.
Condecorado com a "Torre e Espada" a título póstumo
. [Lisboa], Publicações do Sindicato Nacional dos Engenheiros Geógrafos, 1956. In-4.º (26 cm) de 149, [5] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Homenagem a Artur do Canto Resende, prisioneiro das forças de ocupação japonesas em Timor, viria a falecer num campo de detenção, em 1945, vítima da fome, doença e maus tratos. Inclui o testemunho de diversas personalidades, incluindo aqueles que com ele privaram e acompanharam no doloroso cativeiro.
Livro ilustrado com inúmeras fotografias a p.b. e um mapa - carta geográfica - de Timor, a duas cores, em página inteira.
Exemplar n.º 130 de uma tiragem não declarada.
"Pelos exemplos de rara nobreza de que havia dado sobejas provas, jogando, vezes sem conta, a vida em defesa dos seus compatriotas, o Eng. Artur do Canto, ao solicitar a exoneração do lugar que havia desempenhado a contento unânime da população de Timor (é prova irrefutável desta asserção o apelo que os portugueses fizeram ao Governador, Sr. Cap. Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, insistindo para que ele continuasse desempenhando o mesmo cargo), leva-nos a crer que factos ponderosos deviam brigar com a sua dignidade para tomar esta fatídica decisão que o desapossou de um lugar oficial na vida administrativa da Província e cujos reflexos depressa se fizeram sentir nas represálias, cujas circunstâncias propícias o seu denodado patriotismo criara na polícia das forças ocupantes.
Ele, que nunca pesou as consequências das suas atitudes desassombradas que assumia em perfeito holocausto à Pátria e para salvar da morte certa muitos portugueses, aliviando os sofrimentos morais e materiais de uma população subjugada e martirizada, não teve, no momento crucial da sua partida para o cativeiro, e depois ali, quem o livrasse da vingança ardilosa que havia fatalmente de o conduzir à morte pelas severas privações que lhe foram impostas.
Foi-se desta vida, envolvido em miseráveis farrapos, tendo por catre meia porta, sobre caixotes. Era o seu leito no cativeiro. As últimas palavras,ainda em perfeita consciência, proferiu-as ele três dias antes de morrer para um dos seus companheiros de cativeiro: «... vou tranquilo; não levo a mais pequena mancha que possa conspurcar a minha consciência»."
(Excerto do preâmbulo)
Artur do Canto Resende (Vila Franca do Campo, Açores, 7 de Agosto de 1897 - Kalabahi, Alor, 23 de Fevereiro de 1945) foi um engenheiro geográfico, trabalhador do Instituto Geográfico e Cadastral, que se notabilizou pela sua acção durante a ocupação japonesa de Timor. Foi condecorado, a título póstumo, com o grau de oficial da Ordem da Torre e Espada.
Em 1937, já com uma década de experiência em trabalhos de levantamento cartográfico, foi nomeado adjunto da recém-criada Missão Geográfica de Timor do Instituto Geográfico e Cadastral, tendo, após um período de preparação, chegado a Díli em Agosto de 1938, a bordo do paquete Colonial.
Estava em serviço em Timor Português quando em 1939 se desencadeou a Segunda Guerra Mundial na Europa, a que se seguiu em 1941 o ataque aéreo do Japão a Pearl Harbour e o desencadear a Guerra do Pacífico. Por razões estratégicas, os governos da Austrália e dos Países Baixos, esta última ao tempo a Potência administrante do território da actual Indonésia, uniram-se na ocupação de Timor Português por forças australianas e neerlandesas. Seguiu-se a Batalha de Timor e a ocupação da ilha pelas forças japonesas em Fevereiro de 1942. Artur do Canto Resende foi um dos poucos técnicos superiores da administração portuguesa que permaneceu no território.
Após a ocupação de Díli pelos japoneses desenvolveu-se uma difícil convivência entre as autoridades coloniais portuguesas e as forças de ocupação japonesas, com o Governador português de Timor, o capitão de Infantaria Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, com residência fixa no Palácio de Lahane e a sua acção fortemente condicionada pelo comandante das forças de ocupação japonesas, o tenente-general Yuichi Tsuchihashi, e pelo cônsul-geral japonês Masaki Yodogawa, figura a quem estava, de facto, confiada a administração civil do território. Embora as autoridades portuguesas fossem superficialmente toleradas, os japoneses governariam Timor de Fevereiro de 1942 até Setembro de 1945.
Foi nesse difícil e perigoso contexto, já que as prisões, os fuzilamentos e massacres se sucediam numa permanente guerra de guerrilha um pouco por todo o território, que Artur do Canto Resende se ofereceu voluntariamente, para exercer as funções de administrador do Concelho de Díli, cargo equivalente ao de Presidente da Câmara Municipal respectiva, em substituição de Lourenço de Oliveira Aguilar, que se encontrava doente e não era tolerado pelas autoridades de ocupação japonesa.
Aceite a nomeação pelo governador, passou a desenvolver uma notável missão de ajuda e socorro à população local e aos residentes portugueses, distribuindo comida e roupa e apelando para a libertação de prisioneiros em mãos japonesas. Simultaneamente a violência alastrava pela ilha, num crescendo de vandalismo e selvajaria, a que se seguiam prisões em massa, massacres e fuzilamentos. Foi num cenário de permanente desconfiança e de odiosa perseguição aos ocidentais presentes no território e de opressão pela força das populações locais, que foi obrigado a desenvolver a sua acção.
Apesar de repetidos bombardeamentos dos Aliados, entre ataques de guerrilhas e duras retaliações das forças japonesas contra os insurgentes timorenses, Artur do Canto Resende exerceu uma notável missão de ajuda e socorro, incutindo coragem com o seu exemplo, acudindo sempre que podia em situações de perigo.
As pressões das autoridades de ocupação nipónicas, que o acusavam de parcialidade em favor da resistência, levaram a que fosse exonerado do cargo de administrador de Dili a 9 de Março de 1944. Sem gozar da protecção, ainda que pequena, que era concedida às autoridades portuguesas na ilha, em 10 de julho daquele ano foi preso pelas forças militares japonesas e deportado para um campo de prisioneiros de guerra na vizinha ilha de Alor.
Faleceu a 23 de Fevereiro de 1945 em resultado dos maus tratos infligidos pela polícia militar japonesa, da mal-nutrição e da falta de cuidados médicos no campo de prisioneiros de guerra de Kalabahi, na ilha de Alor, então uma possessão colonial neerlandesa sob ocupação japonesa, hoje parte da Indonésia. Ficou sepultado naquela ilha."
(Fonte: wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

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