GOMES, Dr. João Carlos Celestino - A FISIONOMIA DA MORTE. Conferência proferida na Sala nobre da Companhia Portuguesa Editora L.da, do Porto, na noite de 10-4-931. Capa desenhada por Cândido Craveiro. Porto, Companhia Portuguesa Editora, L.ᵈᵃ, MCMXXXII [1932]. In-4.º (24 cm) de 41, [3] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Interessante conferência do autor, tendo por base a sua tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa de Celestino Gomes ao Doutor Carlos Lopes.
Livro ilustrado ao longo do texto com desenhos esquemáticos, e fotogravuras reproduzindo "máscaras da morte" de conhecidas figuras nacionais, entre outros, Mousinho de Albuquerque, Sousa Viterbo, João Chagas, Alexandre Herculano e Guerra Junqueiro, e personalidades estrangeiras, como J. J. Rousseau, Marat, Napoleão, Wellington, Beethowen, etc.
"Diante da morte a gente descobre-se, a gente ajoelha, a gente chora. [...]
Em todo-o-mundo existe um fetichismo fúnebre. E a crença popular que tudo embruxa de sortilégios, criou todo o patético que urdiu a obra nevrótica de Poë: são vidros que se quebram, rumores que se produzem, no momento do trânzito, como avisos a distância. É o ar-dos-mortos, desprendendo-se do defunto a tolher quem quede à sua beira. É a convicção de que, quando o assassinado cai de bruços, o criminoso não pode afastar-se até que seja tomado pela Justiça e as mais que já andam nos provérbios, de que «quem com ferro mata, com ferro morre» e «quem morte alheia espera, a sua lhe chega».
Mas o que é a morte? [...]
O que dela se sabe é pouco para estabelecer uma segura definição e é muito o que se não sabe para que diante da incógnita venham curvar-se todas as frontes. E aqui se travam os combates os combates dos cientistas sempre em desacordo nos grandes problemas. Quando é que verdadeiramente se está morto? [...]
A chamada morte aparente é, também, um estado tão semelhante à morte rial, havendo tal dificuldade em os distinguir nitidamente... [...]
No que todos estão de acordo, não faltando mesmo o depoïmento de alguns enterrados vivos em morte aparente que regressaram à vida e puderam escapar à morte rial, é que nêste estado de morte aparente existe uma hiper-lucidês que permite sentir, compreender tudo quanto à volta do indivíduo se passa... [...]
Fisicamente, sabemos, o momento da morte é marcado de maneira bem diferente, mais ou menos longo em sofrimento. Mas esta fase de sofrimento físico cessa ainda antes da morte rial, do aniquilamento. Porém se aquela sensibilidade espiritual, consciente, vai além da Morte - aparente ou rial o substantivo é o mesmo - se, por outro lado, a contractilidade muscular e a vitalidade nervosa são um facto, não faltando para nós mais que a continuidade dinâmica, porque não há-de a fisionomia do morto ser a despedida plástica e extática do seu último sentir reprodutível?
Diante da Morte, certamente, cada homem há-de ter a sua psicologia e sua atitude, sua consciência. Daqui, que admiração se a máscara da morte estiver sujeita a êsses factores primordiais, se a fisionomia dos mortos revelar alguma coisa mais do que o adormecimento, a paz!"
(Excerto da Conferência)
João Carlos Celestino Gomes (Ílhavo, 1899 - Lisboa, 1960). "Foi um médico, professor, escritor e pintor português. Pertence à segunda geração de artistas modernistas portugueses. Foi pintor e ilustrador, área em que utilizou o nome João Carlos; escreveu sobre medicina; dedicou-se à literatura de ficção, à crítica e história da arte, sob o nome "Celestino Gomes".
João Carlos Celestino Gomes (Ílhavo, 1899 - Lisboa, 1960). "Foi um médico, professor, escritor e pintor português. Pertence à segunda geração de artistas modernistas portugueses. Foi pintor e ilustrador, área em que utilizou o nome João Carlos; escreveu sobre medicina; dedicou-se à literatura de ficção, à crítica e história da arte, sob o nome "Celestino Gomes".
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro e muito curioso.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
35€
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