ABREU, Solano d' & COELHO, Trindade & RAMOS, Taborda & MACEDO, Costa - Á BEIRA DA CAMPA DE ANTONIO PINA CALLADO. Coimbra, Imprensa Aacademica, 1884. In-8.º (19,5 cm) de 24 p. ; B.
1.ª edição.
Homenagem dos estudantes do 4.º ano de Direito da Universidade de Coimbra a um colega de 20 anos recém falecido.
Obra oferecida pelos autores, condiscípulos do infeliz moço, ao Curso do Quarto Anno Juridico na Universidade de Coimbra que representaram na cerimónia. É composta pelos discursos alusivos ao acto de Solano de Abreu, Trindade Coelho e Taborda Ramos, e uma poesia de Costa Macedo.
Opúsculo muito raro, fora de mercado, impresso para ofertas, constituído por textos inéditos dos autores.
"Condiscipulos:
Vimos de vos representar junto da campa de Antonio Pina Callado, a quem fomos levar o vosso ultimo adeus.
Se foi honrosa a missão não foi para nós menos penoso o seu desempenho. [...]
No dia 22 estavamos em Teixoso, e depositamos do tumulo do nosso infeliz condiscipulo a corôa que o curso do quarto anno de Direito lhe mandava offerecer, e uma outra que a comissão levára para o mesmo fim.
As palavras, que alguns dos vossos representantes pronunciaram nesse acto verdadeiramente imponente ahi vão impressas; quizeram que ellas vos fossem offerecidas não porque lhes reconheçam merito, mas porque entenderam que as deviam á vossa apreciação."
(Preâmbulo)
"Viemos de longe numa santa romagem, visitar-te no tumulo, trazer-te em lagrimas presentes valiosos, offertas sinceras. [...]
Entretanto não nos quizeste legar o coração, que devia ficar em Coimbra depositado em uma urna, visitado por nós todos os annos á chegada das primeiras violetas da primavera, e á despedida das ultimas rosas do inverno. Era a legião triste, immovel e fria dos cyprestes do cemiterio de Coimbra, que devia fazer a guarda do teu tumulo; era ao vento, passando por elles, que pertencia cantar-te uma elegia todas as noites, no momento em que o teu espirito nos põe na alma saudades dilacerantes, e á hora em que a natureza nos seus côros tem toadas funebres, e a decomposição cadaverica nas suas phosphorescencias claridades sinistras. Devias áquella cidade o teu coração; não se passam annos inteiros a magnetisal-a com sympathias, a endoidecel-a com encantos para depois a deixar de todo sem uma esperança de regresso, sem uma lembrança de despedida."
(Excerto do discurso de Solano de Abreu)
"Quando por ahi fóra, sobre a amplidão immensa d'esta paisagem encantadora da Beira, o bom sol do estio soltava lá do azul as primeiras estrophes da sua epopêa gloriosa de luz; [...] quando, finalmente, após metamorphoses admiraveis, a terra expellia do seu ventre os primeiros productos da sua fecundação, - aqui, dentro d'este recinto, a mesma terra - estupida contradicção!... - abria-se para receber uma flõr mal desabrochada ainda, e em cujas petalas veludineas o orvalho das primeiras alvoradas se crystallisava em perolas. [...]
Loucos visionarios que nós somos!
O fogo da mocidade que nos arde dentro do peito estontea-nos o cerebro provocando nelle a
apparição feerica de miragens seductoras, e são precisos estes momentos de luto pesadissimo e de profundissima dor para que possamos comprehender, em toda a sua hediondez a fragilidade vitrea d'esta existencia que levamos a rir, parece que fiados na propria immortalidade phisica.
Ah, mas é que a alvorada não sabe comprehender a noite, - e a mocidade é a alvorada da vida, alvorada deslumbrante, em cuja luz vivissima os aureos colibris das illusões e das esperanças a cada instante adejam rimando cançonêtas...
Que tristissimo quadro este, meus senhores!
Que romagem de luto nos trouxe de tão longe!
Nós que tantas vezes rimos com elle, com esse infeliz rapaz, vimos hoje pagar-lhe em lagrimas de saudade a immensa divida de amor que lhe devemos.
Elle era nosso amigo! Elle era nosso irmão!"
(Excerto do discurso de Trindade Coelho)
Muito raro.
A BNP faz menção ao livro, com a indicação "sem informação exemplar".
Peça de colecção.
45€
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