17 junho, 2020

AMORIM, Guedes de - A BAILARINA NEGRA (novela). Lisboa, Empreza Nacional de Publicidade, 1931. In-8.º (19 cm) de 85, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Capa de "Paulo".
Novela naturalista, porventura das mais surpreendentes obras do autor, referente ao seu 1.º período literário. Retrata a boémia nocturna e o bas fond lisboeta dos loucos anos vinte.
"As vinte e cinco máquinas de escrever da grande sala dos escritórios da Companhia Inglêsa faziam lembrar vinte e cinco pianos na hora apoteótica de um grande concerto musical. Todas as dactilógrafas interpretavam a ópera do trabalho de correspondência, fazendo bailar incessantemente os dedos nervosos sôbre os teclados das letras. E o matraquear dessas cinquenta mãos, embora afogado numa estranha confusão de ruídos, marcava um ritmo que transpirava actividade e desejo de viver. [...]
Quando o velho relógio marcou a hora solene do meio-dia, o peito de todas as raparigas sentiu-se descomprimido de uma pesada inquietação. Chegava, finalmente, o instante da sua libertação, que não duraria mais do que duas horas, mas que a-pesar-de tudo, lhes chegaria de sobra para correrem a casa, debicar o almôço, e, logo a seguir, aparecerem num jardim ou numa praça onde as esperava o noivo, para adormecerem num rápido sonho de felicidade!... [...]
Maria Fernanda, a dactilógrafa negra, a única figura negra naquela grande população de empregados brancos, desceu no último elevador e, ao chegar à porta da rua, ficou surpreendida de não ver o Humberto, o noivo, à sua espera."
(Excerto do Cap. I)
António Guedes de Amorim (Peso da Régua, 1901 - Lisboa, 1979). Foi um jornalista e escritor autodidacta. Tem crónicas e artigos dispersos pela imprensa - jornais e revistas. Escreveu contos, novelas e romances. A sua obra de ficção está dominada por histórias dramáticas e sobre conflitos sociais, que se desenrolam em ambientes mórbidos e sombrios. Numa primeira fase está próximo do naturalismo; a partir de 1939 envereda pela corrente do Neo-Realismo aproximando-se do Marxismo e, por fim, converte-se a um cristianismo dedicado a S. Francisco de Assis, "que certamente tornou mais conhecida a obra franciscana em Portugal e no mundo."
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Indisponível

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