1.ª edição.
Curioso manual de socorro em caso de envenenamento. Contém a descrição de substâncias, plantas, etc., susceptíveis de provocar intoxicações, e respectivos antídotos. Inclui ainda, no capítulo II, a descrição de casos reais de envenenamento, alguns passados em Portugal e do conhecimento do autor.
"Muitos são os envenenamentos sem intenção criminosa, que se apontam, lastimam, por seus effeitos desastrosos, nas paragens faltas de homens competentes, dos que se promptificam, á primeira voz, para socorrer os envenenados. Esta terá sido a sua última obra a sair dos prelos.
Esta verdade, sobejamente demonstrada, reclama um remedio especifico.
Nas cidades de Portugal, e principalmente em Lisboa são tantos os facultativos (de que ha tanta falta em outras localidades do reino) que não procederiamos erradamente se affirmassemos que, no movimento regular dos individuos que adoecem por dia, possam tocar a cada enfermo, cinco duzias de peritos, outros tantos dos que se inculcam e exercem como taes, e uma brigada de visinhos, amigos, e conhecidos, d'esses que, arrogando a tarefa humanitaria de charlatães apavonados, vão prodigalisar receitas officiosas, com tanta philaucia, que deixam a perder de vista os hespanholados rompantes dos bachareis de Salamanca, contempoiraneos do grande Gil Braz de Santilhana!...
(excerto do preâmbulo, Aos leitores)
"Na authopsia que, aos 10 de Outubro de 1774, na presença das auctoridades e varios medicos, se fez em Brest a certo alienado, que durante a vida se dizia padecente de fome canina, e que morreo com symplomas de uma indigestão pavorosa, acharam-se-lhe no estomago:
1.º Um bocado de arco de barril de dezenove polegadas de comprimento sobre meia de grossura. 2.º Dois pedaços de pão de seis polegadas, e um de oito. 3.º Vinte e sesi fragmentos de madeira, de trez a cinco polegadas cada um. 4.º Uma colher de páo, quatro d'estanho, e o cabo de outra do mesmo metal. 5.º Um fragmento de funil, de duas polegadas e meia. 6.º Um fusil de ferir fogo, de duas polegadas e meia de comprimento. 7.º Um pedaço de cachimbo de barro. 8.º Dois pregos, um de seis polegadas e meia, e o outro, que era muito agudo, de polegada e meia. 9.º Trez boccadinhos d'estanho. 10.º Uma lasca de chavelho. 11.º Uma tira de coiro. 12.º Dois fragmentos de vidro branco de forma irregular. 13.º Uma faquinha pequena com seu cabo de páo!!!
Todas estas coisas pezavam para mais de dois arrateis. O estomago, endurecido e quasi schirroso em partes, patenteava-se, n'outras, sob a influencia de lesões organicas tendentes á perfuração."
(Contos e historias verdadeiras... II)
Indice:
Aos leitores. I - Noções preliminares e alguns dizeres indispensaveis para facil comprehensão dos capitulos seguintes. II - Contos e historias verdadeiras, parecidas com envenenamentos. III - Considerações geraes applicaveis a todos os envenenados, logo em seguida ao envenenamento; seja este occasionado por substancias toxicas propriamente ditas ou por outras, das que por quaesquer circumstancias especiaes se tenham tornado contrarias á saude, e á vida. IV - Socorros applicaveis aos individuos envenenados por substancias contra as quaes se não conhece antidoto ou neutralisante especial e directo. V - Socorros applicaveis aos individuos envenenados por substancias que teem contravenenos ou neutralisantes directos. VI - Tabella alphabetica dos venenos, repetidos pelos seus differentes nomes em relação á letra por que começam, e seus caracteres distinctivos.
Guilherme Centazzi (1808-1875). “Escritor e médico português, natural de Faro. Formou-se na Faculdade de Medicina de Paris, obtendo o grau de Doutor, após ter sido expulso da Universidade de Coimbra, onde estudava Matemática, por causa das suas opções liberais. Esteve exilado em França entre 1829 e 1834, durante as Guerras Liberais.
Após as Guerras Liberais, regressou a Lisboa, tendo-se
dedicado à actividade médica, publicando uma vasta obra nesta temática, com
destaque para a higiene e saúde profiláctica. Devido à sua prestimosa acção
durante a epidemia de febre amarela, nos anos 50, recebeu a comenda de
cavaleiro da Ordem de Cristo. Foi também inventor dos então famosos rebuçados
peitorais «Dr. Centazzi», produzidos industrialmente até meados do século XX.
Foi o verdadeiro precursor do romance português, mesmo antes
de Alexandre Herculano e Almeida Garrett, através da obra «Carlos e Julieta»,
publicada em 1838, que reformularia uma década depois sob o título «Beatriz e o
Aventureiro».
Foi ainda proprietário e redactor de dois periódicos efémeros: «Desenganos da Vida» (1863) e «O Semanário» (1867-1868)."(Fonte: wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos na lombada. Contracapa apresenta mancha antiga desvanecida.
Muito raro.
Indisponível
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