12 junho, 2024

BRAGANÇA-CUNHA, T. -
ESCRAVATURA HIPÓCRITA. Por... [S.l.], Editor: O advogado Venctexa V. Sar Dessai, Com o curso do liceu. [Composto e Impresso na Tip. Bragança & C.ª - Nova Goa], [1929]. In-8.º (20x13 cm) de [2], 36 p. ; B.
1.ª edição.
Protesto do autor contra os abusos e arbitrariedades da administração portuguesa de Goa, que reputa de medieval, e acusa de enganar e escravizar os naturais da colónia.
Opúsculo clandestino, raro, sem menção bibliográfica na Biblioteca Nacional.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória manuscrita do autor à Redacção do jornal República.
"Emquanto os senhores congressistas e conselheiros do govêrno entretinham-se em esboçar planos de valorização do emigrante e outros projectos destinados a ficar no papel, chegou ao nosso conhecimento um facto escandaloso e revoltante que vem fazer luz sôbre a triste realidade do problema da nossa emigração, e temos por dever levá-lo ao conhecimento do público.
Em Maio de 1926, alguns curumbins de Vernã e Cortalim fôram engajados por um cavalheiro, funcionário do Estado, residente em Carambolim, a irem trabalhar naquela aldêa do Concelho das Ilhas e daí fôram enviados pelo mesmo cavalheiro para um destino desconhecido. As familias dêsses desgraçados - pais, mães, maridos, mulheres, - ignoram desde então o seu paradeiro. Possuimos os nomes dum certo número dessas pessoas, algumas delas menores de idade, de cuja ignorância se abusou no propósito evidente de ganhar dinheiro fornecendo mão de obra barata a alguma empresa estrangeira. O engajador recusa-se obstinadamente a dizer para onde elas foram enviadas. Pensa-se que foram para uma dessas plantações em Assam ou em Ceilão, onde os fazendeiros ingleses que cultivam o chá e o ópio, costumam enriquecer-se explorando gente pobre e reduzindo-a á escravidão.
Não teria êste facto chegado ainda ao conhecimento dos nossos governantes?"
(Excerto de Uma agência de escravatura)
Índice:
Nota introdutória | Uma agência de escravatura | Goa, mercado de escravos | Tráfico de escravos | Escravatura encoberta de Assam | Cidadãos-escravos | Resposta á imprensa oficiosa | Novos escravos de Goa | Libertados! | Páginas suplementares: O catolicismo, instrumento de dominação política.
Tristão Bragança Cunha (1891-1958). Herói da resistência goesa. "Nascido a 2 de Abril de 1891, o jovem Tristão estava destinado a liderar o movimento patriótico dos goeses que almejavam a libertação de Goa do domínio português. Quando a Índia se tornou independente da Grã Bretanha em 1947, tornou-se incongruente que um minúsculo território integrado nas fronteiras físicas da Índia pudesse continuar sob o domínio de Portugal.
Tristão completou os seus estudos franceses em Pondicherry e em Paris, onde se envolveu em actividades anti-imperialistas conduzidas pelo Comité Pro-indiano da Agência de Informação fundada por Romain Rolland na capital francesa. Deu publicidade à causa da Índia e de Goa num conjunto de artigos em jornais franceses e publicou em episódios um estudo biográfico de Mahatma Gandi, antes de Romain Rolland elaborar o seu.
Em 1926, Tristão de Bragança Cunha voltou a Goa onde, como seria de esperar, era um homem marcado, e foi perseguido pelo Governo por causa dos seus escritos nacionalistas. Em 1929 lançou uma campanha contra os produtores britânicos de chá de Assam, que tinham aliciado kunbis (membros de castas inferiores) goeses a trabalhar nas plantações como trabalhadores escravizados e, por volta de 1940, conseguiu que fossem repatriados para Goa. Angariou fundos para ajudar o povo de Salcete e Mormugão atingidos por chuvas torrenciais de monção em 1941.
Publicou diversas brochuras de propaganda, tais como Índia Portuguesa e Desnacionalização dos Goeses, tendo o Governo Português pedido ajuda ao Governo Britânico para confiscar as cópias distribuídas em Bombaim. Todavia, revertendo a decisão do procurador MC Chagla do Supremo Tribunal de Bombaim, a proibição foi levantada.
Seguiu-se uma sistemática perseguição em Goa a Tristão Bragança da Cunha. Foi preso, espancado, e encarcerado na prisão de Aguada. Foi julgado e condenado a oito anos de detenção no Forte de Peniche, em Portugal. Foi libertado dois anos mais cedo, graças a uma amnistia, em 1952, mas não foi autorizado e regressar a Goa.
Tendo porém obtido meio de chegar a Paris, com um passaporte de turista, foi daqui até Bombaim, onde recomeçou, com redobrado vigor, a militar na causa goesa, publicando textos no quinzenário concani Azad Goem, e noutros periódicos, até à sua morte em 26 de Setembro de 1958. Foi condecorado a título póstumo pelo Conselho para a Paz em Estocolmo com a medalha de ouro da paz.
Os seus restos mortais repousam no memorial T. B. Cunha erguido nos Monumento aos Mártires em Panjim."
(Fonte bibliográfica: J. Clement Vaz, Profiles of Eminent Goans. Past and Present. Nova Delhi, Concept Publishhing Company, 2016 & Wikipedia)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas manchadas.
Muito raro.
Com interesse histórico.
Sem registo na BNP.
85€

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