02 abril, 2023

COSTA, A. Soeiro da - SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA REVOLUÇÃO. Apontamentos da vida política dum sargento. 1.º Milhar. Viana-Valença, Tip. "A Plebe" (antiga Modêlo), 1916. In-8.º (20 cm) de 197, [5] p. ; [1] f. il. ; E.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história da implantação da República, o antes e tudo o que se seguiu, redigido por quem combateu na Rotunda e presenciou de perto as movimentações conducentes ao sucesso do movimento revolucionário de 5 de Outubro de 1910.
Livro ilustrado com o retrato do autor em extra-texto.
"No dia 3 de Outubro estando eu na Estação do Rocio, foi ali o meu amigo Azevedo prevenir-me de que o movimento libertador se iniciaria nessa noite.
Havia pouco tempo que um louco ou um bandido, não sei bem, havia desfechado o revólver da reacção sôbre Miguel Bombarda.
Sentia-se por isso ferver na alma da população de Lisboa o cachão revolucionário.
Quando a veste suja dum padre surgia ao voltar duma esquina, o povo, já sem poder conter a sua justa cólera, apupáva-o e, não raro, chegava a fazer-lhe experimentar o pêso da sua mão de gigante. [...]
Segundo o combinado, reúnimo-nos no café Santa Justa às onze horas da noite.
Pelas nove horas, para matar o tempo, tinha dado uma volta pelo Rocio e, ao chegar junto do placard do «Século», parára a lêr a notícia da morte de Bombarda.
Um forte cordão de polícia, sob o comando do capitão França, estacionava ali com o fim de não deixar parar pessoa alguma.
Um dos guardas, ao ver-me quedar para ler a notícia, dirigiu-se-me com aquela requintada delicadeza, que torna os nossos polícias admirados, e empurrando-me brutalmente urrou: «O que é que faz aqui? Rua! Andando!»
Como única resposta ao desencabrestado, voltei-lhe as costas, meti pachorrentamente as mãos nas algibeiras e fui-me, murmutando entre os dentes: «Se fôsse lá para a uma hora da manhã, serias tratado mais amenamente!»
Á meia noite, estavamos reúnidos no 1.º andar do prédio n,º 267 da rua dos Fanqueiros, uns quinze revolucionários. [...]
Desejava poder dizer claramente as sensações estranhas que experimentei naquela noite e lugar históricos.
Não parecia acharmo-nos reúnidos para uma revolução! Ninguêm tinha a consciência do perigo que atravessava! Todos riam e chalaceavam na mais bela das despreocupações!
Quando se aproximava do seu termo a nossa estada naquela casa disse eu: «Meus senhores, se acaso morrer na jornada que vamos empreender, não se esqueçam de comunicar a minha mãe a minha partida para o ponto onde tôdas as ilusões terminam». E dizia isto rindo, indiferente ao perigo, e bendizendo o acaso que permitia a minha inclusão na lista gloriosa dos libertadores da Pátria.
Decorrido algum tempo, José de Azevedo que tinha saído voltou com duas bombas, dizendo: «Tenho isto e um revólver».
Pedi-lhe o revólver e uma das bombas. António... pediu a outra.
Azevedo continuou, dizendo: «Nós vamos para caçadores n.º 5. Não é necessário armamento, porque em chegando ali ser-nos-ão franqueadas as portas e lá temos muita espingarda."
(Excerto de Na revolução)
Indice:
Prefácio. | A Revolução. | Na política. | No exército.| No 28 de Janeiro. | Exilado. | Fóra do exército. | Horas dolorosas. | Na revolução. | Epílogo.
António Soeiro da Costa (1887-1939). "Capitão de Infantaria. Nasceu a 3 de Dezembro de 1887, no humilde lugar de Carrazedo, freguesia de Pinheiros, onde também faleceu, em Março de 1939. Ali fez os seus primeiros estudos. Alistado no Exército, tomou parte, como 2.º Sargento, na Revolução de 1910, combatendo na Rotunda, às ordens de Machado dos Santos. Escreveu o livro "Subsídio para a História da Revolução" em que foi interveniente activo. Activista e militante das ideias progressistas, participou na Revolta de 3 de Fevereiro de 1927, que eclodiu no Porto contra a ditadura do Estado Novo; o que lhe valeu a deportação, por dois anos, para Angola. Regressado e desligado compulsivamente do serviço activo, voltou a ser preso em 1932 e deportado para Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, onde esteve encarcerado durante seis meses, sem culpa formada, na Fortaleza de S. João Baptista. Foi colaborador em vários jornais, antes e depois da implantação da República, com artigos polémicos e defensores dos ideais da liberdade que sempre acalentara, sem medo, nem ambiguidades. Pela sua acção de combatente durante a propaganda republicana, foi considerado "Benemérito de Pátria".
(Fonte: CM Tabuaço)
Encadernação simples em meia de percalina com selo de biblioteca na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
45€
Reservado

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