30 abril, 2023

[...] FIEL E CIRCUMSTANCIADO, o jvlgamento a qve a Oniuersidade da Polynesia svbmettev o João Brôa, a Academia da Tripa, por este hauer attentado contra a Charamella...
[...]. [S.l.], [s.n.], [18--]. In-8.º (21 cm) de 29, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Paródia dos estudantes da Universidade de Coimbra, aparentemente impressa na década de 80/90 do século XIX.
Nada foi possível apurar acerca desta peça por, pelas palavras-chave disponíveis, não existirem referências bibliográficas, BNP incluída.
"(O sol plangente e funereo da «Cabra» deu signal. A multidão, fervilhando pelos claustros, condensa-se, toma os seus logares no prestito com o ar grave e proprio dos grandes acontecimentos. No grupo plantigrado dos Ursus observa-se o silencio meditabundo, gerador d'ideias. Ao longe, no final, onde pousa a legião dos Hercules, ouve-se o ruido extranho e indicador do «afiar» das mocas. Arrepiados harpejos denunciam do lado da Charamella o afinar dos instrumentos. Do grupo dos poetas partem, conforme a escola, ais doloridos, gargalhadas satanicas ou rythmos intraduziveis. Archeis, Bedeiros e Verdes Ais, Bacareis e todas as côres, coelheira e demais povo academico, agrupam-se e tomam logar no cortejo. A um eloquente e mudo signal da presidencia, a Charamella solta o «Hymno da Cabra» e o prestito desfila no meio d'uma incontinencia de gritos indignados de «Justiça e morte», como previamente se havia ensaiado. Do grupo dos Charamelleiros sahem por vezes vivas ás «gentis damas d'esta terra», e do grupo dos Ursus, partem rugidos eruditos em grego, latim e outras mais linguas vivas. No couce segue João Brôa entre uma duzia d'alabardas, e rodeados pelos feros Hercules academicos. Ha tambem quem ria, proteste e troce. O cortejo atravessa a Porta dos Cannelões, percorre a Via Estreita, passa ao Jardim d'Armida e desenrola-se, em direcção ao Circo, colleando-se pela Larga Avenida «como uma enorme, escura, serpente de luz justiceira» (sic). O cortejo entra no augusto recinto immortalizado já pelas glorias tribunicias de muitos kikeros e pelas cabriolas celebres de varios saltimbancos illustres.
Constitui-se o tribunal
A grande tragedia vai desenrolar-se.)"
(Preâmbulo)
"A Charamela é um agrupamento musical cuja presença na Universidade de Coimbra se perde no tempo, continuando a ser um pilar musical de referência na Alma Mater, desde há séculos. Era muito idêntico aos que existiam nas universidades medievais europeias, atuando a pé ou a cavalo, em cerimónias protocolares, recepções a Chefes de Estado e a altos dignatários. Anunciava também, nas vésperas, algumas cerimónias através da execução musical e pregões, abria os cortejos, sinalizava os momentos solenes do calendário académico e simbolizava a presença do Magnífico Reitor, facto esse que se foi adaptando no decurso da história e que ainda hoje sobrevive, com o mesmo brilhantismo de outrora."
(Fonte: https://www.uc.pt/patrimoniodehumanidade/participantes/franciscorelvapereira)
Exemplar brochado revestido com capas simples, lisas, tendo colado na capa frontal parte daquilo que terá sido o título da obra impresso na f. rosto (?).
Raro.
Sem registo na Biblioteca Nacinal.
Indisponível

29 abril, 2023

SAMPAIO, Francisco -
ARTESANATO E TURISMO.
O Artesanato na Região de Turismo do Alto Minho (Costa Verde). [Sl.], [s.n. - Composto e impresso na Gráfica da Casa dos Rapazes - Viana do Castelo], [1984]. In-8.º (22,5 cm) de 44 p. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Separata do Tomo VIII dos Cadernos Vianenses (1984). Acrescido do Comentário «O Traje à Vianesa... um pouco de História».
Lista dos artífices da Região do Alto Minho, por nome individual (ou por empresa) e a localidade onde exercem a sua actividade. Muito interessante, com grande valor etnográfico e turístico.
Ilustrado com desenhos no texto.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.
"Subsistem por toda a Região do Alto Minho, um grande número de artesãos ocupados em quase todas as formas do artesanato tradicional muito ligados à vida quotidiana.
Do levantamento feito pelo CRTAM em quase todos os concelhos, estabeleceu-se uma carta provisória das actividades com a localização e identificação dum sem número de artesãos.
A nota informativa, que agora apresentamos, para além de uma breve descrição de cada tipo de artesanato, apresenta os mesmos três artesãos que mais se dedicam a essa actividade e que vem trabalhando já em colaboração com esta CRTAM.
Pela descrição verifica-se que a maior parte dos artesãos se situam no concelho de Viana do Castelo e limítrofes, Ponte de Lima, Caminha, Esposende.
Isto não significa que no interior não existe artesanato.
Pelo contrário. Em termos gerais, pode dizer-se que na zona do interior (Ponte da Barca, Paredes de Coura, Arcos de Valdevez, Monção e Melgaço), o relativo isolamento e a subsistência não intocada mas ainda sensível de formas de vida tradicional são acompanhadas pela mantença de todas aquelas actividades artesanais que produzem um grande número de objectos indispensáveis à vida quotidiana (carpintaria e tanoaria, latoaria, tecelagem, cestaria, olaria, pirotecnia, etc.). À medida que se desce das montanhas, que se parte do interior para o litoral, a função utilitária do artesanato transforma-se mais em decorativa (latoaria e ferragens, cerâmicas e olarias decorativas, estatuária de pedras, trabalho em madeira, confecção de bordados e trajes regionais, etc.)."
(Excerto de A situação do Artesanato no Alto Minho)
Índice: [Preâmbulo]. | A situação do Artesanato no Alto Minho. | Carta Provisória do Artesanato do Alto Minho: - Bordados regionais; - Tecelagem (trajes regionais); - Rendas; - Redes; - Branquetas; - Cordoaria; - Rodilhas; - Bonecas regionais e populares; - Tapeçarias; - Mantas, toalhas, cobertas, lençóis; - Cestaria; - Caroças; - Esteiras, capachos; - Luminária popular; - Cobres; - Ferros forjados; - Verguinha; - Alfaias; - Cangas e cangalhos; - Torneados de madeira; - Rocas e espadelas; - Tanoaria; - Tamanqueiros; - Miniaturas; - Mobiliário artístico; - Gamelas; - Carros de bois; - Peneiras; - Barcos; - Teares; - Alfaias marítimas e rurais; - Trabalhos em couro; - Trabalhos em pedra; - Arte floral : Palmitos e flores; - Lenços de amor; - Gastronomia tradicional; - Enchidos / Fumados; - Pirotecnia; - Tectos em estuque; - Cerâmica de Viana; - Diversos. | O Traje à Vianesa... um pouco de História. | Em resumo.| Nota final.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Capas algo oxidadas.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
15€

28 abril, 2023

GAVINHO, Elias - O CIGARRO E O HOMEM. O produto líquido da presente edição, que reverterá a favor das Vitimas da Guerra, destina-se ao cofre da Junta Patriotica do Norte. (Núcleo do concelho de Caminha). Viana-do-Castelo, Tipografia de José Souza, 1917. In-8.º (19 cm) de 69, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso trabalho sobre o cigarro e os prazeres inerentes ao "vício" do fumador.
"Não procuro - Deus me livre de tal!, - mostrar o cigarro debaixo do ponto de vista higiénico ou scientífico. Ha cigarros higiénicos, é bem verdade, mas o facto é que quasi sempre o vicio do cigarro é condenavel. Para certas organisações, porém, embora se reconheça o prejuiso que ele lhes possa causar, os doutos aconselham a que se não abandone.
Constitue, portanto, nestes casos, uma parte integrante da vida que o aprecia, e como que balsamo salutar para as dôres. Muitas vezes o tenho ouvido receitar para as dôres de dentes.
Ou seja por adorno, ou vicio, ou distração, ou medicamento, o facto é que ele constitue habito para a maior parte dos homens, e é sempre um tanto estranhavel ouvirmos dizer: - muito obrigado, não fumo...
Alèm d'isso, o cigarro é ainda muitas vezes o demonstrativo da classe social e dos hábitos da terra a que o individuo pertence. Afóra raras excepções, quasi todo o homem regularmente colocado compra cigarros feitos, não sucedendo o mesmo com aqueles a quem a vida tanto não sorri.
Um operario, um trabalhador, ou um carroceiro, fazem os seus cigarros; um banqueiro, um advogado, um jornalista, ou um comerciante, compram-nos já feitos.
Por muito que se queira estabelecer a egualdade na nossa sociedade, é sempre reparavel ver-se que alguem faz o seu cigarro. Porquê?! Talvez por habito? talvez por snobismo? Por qualquer coisa emfim. Mas o facto é que é assim."
(Excerto de I - Psicologia do fumador)
Indice:
I - Psicologia do fumador. II - O habito não faz o monge. III - Gavroche fuma. IV - Faina alegre. V - No Teatro. VI - Nós e «Elas». VII - Lançar da luva. VIII - Carta d'apresentação. IX - Historia triste. X - Amor com amor se paga. XI - Traço-de-União. XII - Primavera e Inverno. XIII - Na palestra e ao deitar. XIV - Sem reclamo. XV - Fecho.
Elias Lourenço Gavinho (1895-1935). Jornalista e escritor português. Natural de Caminha, Viana do Castelo. Com três anos foi para Manaus (Estado do Amazonas - Brasil). Regressou a Portugal para fazer os seus estudos, tendo voltado de novo ao Brasil. Aí, enveredou pela carreira de jornalista-boémio, tendo chegado a redator-chefe de "O Lusitano". Regressou definitivamente a Portugal, tendo-se estabelecido na sua terra natal, Caminha, onde viria a falecer em 1935.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas manchadas.
Invulgar.
15€

27 abril, 2023

CERCA, António -
RITOS DA MORTE EM CASAL DE CINZA.
[Prefácio de Cameira Serra]. Guarda, Associação Distrital de Jogos Tradicionais e do Lazer, 1987. In-8.º (21 cm) de 47, [1] p. ; il. ; B. Cadernos Jogo, Tradição, Cultura - 3 : Colecção Tradições Orais, N.º 1
1.ª edição.
Interessante subsídio antropológico. Estudo sobre a morte e a forma como esta era encarada há cem anos atrás, sobretudo na província, sendo apresentado como exemplo a freguesia beirã de Casal da Cinza, Guarda, que inclui sete povoações.
Livro ilustrado com fotogravuras no texto.
""As Ciências humanas sempre negligenciaram a morte", diz-nos Edgar Morin. Esta afirmação tem todo o cabimento em relação ao vasto rol de monografias regionais, em cujo texto a temática ora versada não é referida ou, quanto muito, é apenas esboçada em breves páginas.
Todas as sociedades criam mitos para explicar a morte e as suas causas.
Esta brochura põe o leitor em contacto com as superstições e ritos que precedem, acompanham ou sucedem a morte, numa pequena comunidade rural da Beira: o tema da morte, os factos prenunciadores, a crença no renascimento dos mortos, as encomendações e homenagens aos defuntos, são aqui narrados com clareza e autenticidade.
A descrição do autor ganha um mérito ainda mais relevante pelo facto de a maioria destes costumes fúnebres ter já desaparecido na poeira dos tempos."
(Excerto do Prefácio)
"O empenho posto na tentativa de salvação da alma condiciona de forma efectiva a existência, e orienta de um modo geral os comportamentos.
Preocupações de tipo espiritual, cultural e social são observadas com o rigor possível durante a vida, e com atenção redobrada nas últimas horas.
Neste tipo de estudos é frequente ter apenas como objecto de análise as circunstâncias que rodeiam a morte quando ela está iminente, deixando quase sempre sem referência todo um conjunto de atitudes e comportamentos tidos ao longo da vida e que, de algum modo, preparam também a morte nalguns de seus aspectos essenciais."
(Excerto de Prevenções para a Morte)
Índice:
Prefácio. | Introdução. | Prevenções para a Morte: 1) Consuetudinárias: a) Encargo feitos à família; b) Aquisições feitas em vida; c) Agregação a instituições. 2) Testamentárias. | A Morte: 1) Presságios da morte; 2) Causas da morte; 3) Agonia; 4) Logo após a morte. | O Velório. | O Funeral. | Práticas posteriores ao Enterro: 1) O luto; 2) Missas e peditórios; 3) Ofícios; 4) Acompanhamentos; 5) O toque às almas; 6) A encomendação das almas; 7) O mês das almas; 8) Monumentos e santuários; 9) Outros costumes. | O Culto dos Mortos: 1) Ideias populares a respeito da continuação da vida e da existência de outro mundo; 2) A possibilidade da existência de relações entre os vivos e os mortos. | Apêndices: 1) Funerais com características especiais; 2) Caixões; 3) Covas e coveiros; 4) Cemitérios; 5) Contos populares a respeito da morte.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
20€

26 abril, 2023

UM ROSTO PARA FERNANDO PESSOA -
Obras de trinta e cinco artistas portugueses contemporâneos. [Textos de apresentação deJosé Sommer Ribeiro e José Saramago]. Lisboa, Centro de Arte Moderna : Fundação Calouste Gulbenkian, Julho 1985. In-4.º (24x22 cm) de [80] p. ; mto il. , B.
1.ª edição.
Catálogo sobre diversas representações de Fernando Pessoa publicado por ocasião das comemorações do cinquentenário da  morte do poeta. "O catálogo apresenta trabalhos de trinta e cinco artistas portugueses, [onde se contam, entre outros, Almada Negreiros, Mário Cesariny, Martins Correia, José de Guimarães, Lagoa Henriques, Júlio Pomar e Cruzeiro Seixas]. Contém um texto de apresentação, um ensaio e biografia de cada artista representado acompanhado de uma obra. Editado em português."
Livro esmerado e graficamente atraente, ilustrado com 35 imagens de Pessoa a p.b. - umas mais singelas, outras mais elaboradas.
"Neste ano de 1985, em que se comemora o cinquentenário da morte do poeta Fernando Pessoa, o Centro de Arte Moderna não podia deixar de homenagear a figura maior da Poesia do nosso século, a quem o Modernismo português tanto ficou a dever. É que Pessoa também se interessou pelas artes, e já em 1913 publicava, na revista A Águia, uma crítica à exposição de Almada, que aliás foi o primeiro artista a retratar o poeta, em 1915.
O Centro de Arte Moderna entendeu que a melhor forma de celebrar esta comemoração seria apresentar trabalhos de artistas influenciados pela obra e figura de Fernando Pessoa."
(Excerto da apresentação José Sommer Ribeiro)
"Que retrato de si mesmo pintaria Fernando Pessoa se, em vez de poeta, tivesse sido pintor, e de retratos? Colocado de frente para o espelho, ou de meio perfil, obliquando o olhar  três-quartos, como quem, de si escondido, se espreita, que rosto escolheria e por quanto tempo? O seu, diferente segundo as idades, assemelhado a cada uma das fotografias que dele conhecemos, ou também o das imagens não fixadas, sucessivas entre o nascimento e a morte, todas as tardes, noites e manhãs, começando no Largo de S. Carlos e acabando no Hospital de S. Luís? O de um Álvaro de Campos, engenheiro naval formado em Glasgow? O de Alberto Caeiro, sem profissão nem educação, morto de tuberculose na flor da idade? O de Ricardo Reis, médico expatriado de quem se perdeu o rasto, apesar de algumas notícias recentes obviamente apócrifas? O de Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na baixa lisboeta? Ou um outro qualquer, o Guedes, o Mora, aqueles tantas vezes invocados, inúmeros, certos, prováveis e possíveis? Representar-se-ia de chapéu na cabeça? De perna traçada? De cigarro apertado entre os dedos? De óculos? De gabardina vestida ou sobre os ombros?... [...]
De uma pessoa que se chamou Fernando Pessoa começa a ter justificação que se diga o que de Camões já se sabe. Dez mil figurações, desenhadas, pintadas, modeladas ou esculpidas, acabaram por tornar invisível Luíz Vaz; o que dele ainda permanece é o que sobra: uma pálpebra caída, uma barba, uma coroa de louros. É fácil de ver que Fernando Pessoa também vai a caminho da invisibilidade..."
(Excerto da apresentação José Saramago)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Com interesse pessoano.
Indisponível

25 abril, 2023

VASCONCELLOS, Teixeira de - COMEDIAS. O dente da baroneza. A botina verde. A liberdade eleitoral. Lisboa, Typographia Portugueza, 1871. In-8.º (16,5 cm) de VII, [1], 278, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Teatro de comédia. Conjunto de três comédias por Teixeira de Vasconcelos, conhecido escritor português afecto à corrente literária do romantismo.
"Tenha cada theatro o genero que mais cabido lhe seja, mas não adoptem todos o mesmo menoscabo da arte e ludibrio dos que a cultivam.
Taes foram os pensamentos de que proveiu a tentativa modesta de escrever O dente da baroneza que sae agora á luz em primeiro logar n'este livro e que a imprensa talvez para honrar as minhas boas intenções, acolheu com a maxima benevolencia.
A botina verde e A liberdade eleitoral queria eu que se chamassem entremezes. Nem são outra coisa. Mas o nome está condemnado por plebeu. A mais reles farça não sobe ao cartaz sem o titulo de comedia. Até na propria republica das letras se vae despachando fidalga a arraia miuda!"
(Excerto do preâmbulo)
António Augusto Teixeira de Vasconcelos (Porto, 1816 - Paris, 1878). "Foi um escritor e jornalista português, vice-presidente da Academia de Ciências de Lisboa, com vasta obra publicada, sobre quem Camilo Castelo Branco disse que foi «o mais rijo pulso de atleta que teve a arena dos gladiadores políticos em Portugal». Obras mais conhecidas: O Prato de Arroz-Doce (1862); Viagens na Terra Alheia: de Paris a Madrid (1863); Lição ao Mestre (1872 em folhetim, 1875 em livro); A Ermida de Castromino (1875)."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capa de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas cansadas, com selo de biblioteca colado na pasta anterior. Assinatura de posse na f. rosto.
Raro.
Indisponível

23 abril, 2023

ALVES (Cave), Carlos -
A MULHER CONGO-PORTUCALENSE.
Colecção «Mucandas do Congo» : Segunda Série - Dedicada à Mulher. Carmona-Uige, [s.n. - Composto e impresso nas Oficinas Gráficas da E. G. U. L. - Carmona - Uige], 1960. In-4.º (24 cm) de 28, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante trabalho sobre a condição feminina no Congo Português, onde a mulher indígena era alvo de exploração pelo seus pares, subalternização e humilhação.
Com dedicatória impressa do autor: "Acorda e toma o teu lugar. Quando ganhares a consciência do teu valor, como dona de casa e mãe responsável na educação dos filhos, serás a luz de maior brilho a iluminar os caminhos da civilização e do progresso."
Opúsculo ilustrado com duas fotografias em página inteira.
"Olho para trás e vejo a mulher maltratada do tempo antigo, sem vontade, sem alegria, vergada ao peso dum trabalho penoso, obrigada a dar de comer a todo o povo. Vejo-a dobrada, a cavar, a cavar, o corpo suado, as mãos calejadas, a cabeça parada, sem poder pensar nada sobre a sua triste situação.
Vejo-a fazer o mesmo trabalho, todos os dias, todos os meses, todos os anos, sem ganho nenhum para ela. O corpo andava nu, apesar de tanto trabalho. Não tinha casa, não tinha roupas, não tinha o direito de possuir coisa nenhuma. As cubatas eram do homem. As mulheres eram pertença do homem. E quando ele morria, quem ficava com elas era o sobrinho favorito.
O «camalongo» era a marca da servidão. O homem dava o «camalongo» e levava a mulher para a cubata, como quem compra uma máquina para trabalhar. E tinha que trabalhar bem. Quando não dava bom rendimento era devolvida à família. Também tinha a obrigação de gerar filhos. Barriga que não dava filhos era barriga enfeitiçada. E a mulher voltava para a casa da família, e a família restituía o «camalongo».
A mulher não tinha qualquer direito. Só tinha o dever de trabalhar, trabalhar sempre, sem pedir nada a ninguém. Quando o homem queria, dava-lhe um «paco», pano minúsculo de sessenta centímetros por vinte, que servia só para tapar a vergonha."
(Excerto de 1- A Mulher Congo-Portucalense)
Índice:
1- A Mulher Congo-Portucalense. 2 - O Trabalho da Mulher. 3 - O que a menina deve aprender. 4 - O que a noiva deve Saber. 5 - O que a noiva deve esperar do noivo. 6 - A casa do Casal. 7 - O que a mão deve Saber. 8 - A mulher perante o homem. 10 - A mulher e a família.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa ligeiramente oxidada.
Muito invulgar.
15€

22 abril, 2023

TRÊS PORTUGUESES -
ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA. Edição semanal de "O Seculo" : II Serie - N.º 819. Lisboa, 29-10-911 [29-10-921]
. Director - J. J. da Silva Graça. Lisboa, Editor - Antonio Maria Lopes, 1921. In-fólio (30x19,5 cm) de 24 p, [2] p. (301-324 pp.) ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Número histórico da famosa revista portuguesa, totalmente dedicado aos acontecimentos da Noite Sangrenta, designação por que ficou conhecida a "caça ao homem" na madrugada de 19 para 20 de Outubro de 1921, que resultou na morte de destacadas figuras do regime republicano, entre as quais, António Granjo, Machado Santos e José Carlos da Maia.
Revista muito ilustrada no interior com os funerais das vítimas, bem como de militares e milícias civis na rua, que retratam o ambiente efervescente que se viveu nesses dias de espanto e horror.
Na capa: - "O Sr. Presidente da Republica, saindo de casa da familia de Carlos da Maia".
"O numero de hoje da «Ilustração Portuguesa», é um numero revolucionario, um numero que não teve tempo de se arranjar, de se vestir, um número sem côr, um numero sem «rouge», um numero alvoraçado que atira fotografias, como argumentos, que esquece o «baton», que esquece a frivolidade, que se esquece de ser «magazine», para chorar, para chorar bem alto, sem receio de que venham proibir-lhe as lagrimas, a morte desse tres portugueses de lei, esses tres homens que cometeram o nefando crime de pôr as suas vidas ao serviço da Patria. Todos ele morreram pobres, morreram abandonados, abandonados do seu proprio ideal, esse ideal que, pelo seu esforço heroico, chegou a ser uma realidade em Cinco de Outubro, mas que, pouco a pouco se afastou, se diluiu, maltratado pelos homens, apagando-se, apagando-se cada vez mais, até desaparecer completamente na noite de 19 de Outubo, a noite mais tragica da Republica, a noite em que este povo começou a desconfiar de si proprio, a noite em que a duvida surgiu, a noite em que cada um de nós levou a mão ao peito - a vêr se o coração ainda lá estava..."
(Excerto do preâmbulo - A "Ilustração Portuguesa" e os acontecimentos)
Reportagens: A "Ilustração Portuguesa" e os acontecimentos. | Cunha Leal. | Figuras do momento. | O funeral do sr. Carlos da Maia. | No Parque Eduardo VII : Vista geral da Cidade tirada do recinto onde acamparam as forças revolucionarias. | O funeral do sr. Machado Santos. | O funeral do sr. dr. Antonio Granjo. | Navios estrangeiros no Tejo.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Pequenas falhas de pequena monta.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
20€

21 abril, 2023

BRAGA, Lourenço - TRABALHOS DE UMBANDA OU MAGIA PRÁTICA.
6.ª edição. Rio de Janeiro, Edições Spiker, 1961. In-8.º (19 cm) de 102 p. ; B.
Importante trabalho sobre a Umbanda - "religião brasileira por excelência", com raízes africanas.
Obra de referência sobre a matéria, conheceu várias edições no Brasil, não deixando por isso de ser uma obra procurada e muito invulgar.
"A Umbanda é uma religião afro-brasileira que sintetiza o culto aos Orixás e aos demais elementos das religiões africanas, em especial Iorubá, com indígenas e cristãs, porém sem ser definida por eles. Estruturada como religião no início do século XX em São Gonçalo, Rio de Janeiro, a partir das sínteses entre Candomblé, o catolicismo e o espiritismo que já se vinha operando ao longo do final do século XIX em quase todo o Brasil. É considerada uma "religião brasileira por excelência" caracterizada pelo sincretismo entre a tradição dos Orixás africanos, o catolicismo e os espíritos tradicionais de origem indígena.
"Umbanda" ou "Embanda" são oriundos da língua quimbunda de Angola, significando "magia", "arte de curar". Há também a suposição de uma origem em um mantra na língua adâmica cujo significado seria "conjunto das leis divinas" ou "deus ao nosso lado".
Também era conhecida a palavra "mbanda" significando “a arte de curar” ou “o culto pelo qual o sacerdote curava”, sendo que "mbanda" quer dizer “o Além, onde moram os espíritos”.
(Fonte: Wikipédia)
"Na racionalização da magia tentada por Lourenço Braga, o autor explicava a razão do uso na umbanda de cada uma dos objetos permitidos, listados anteriormente. Nesta racionalização encontramos sempre a relação com a teoria dos fluidos de Mesmer. Lourenço Braga via a umbanda como uma modalidade de espiritismo. O espiritismo fornecia para a umbanda o que o autor chamava de seu substrato teórico, a sua filosofia, enquanto que seus trabalhos práticos apontavam diretamente para a magia. Tanto sua filosofia quanto a sua prática atestavam, para Lourenço Braga, o caráter científico do espiritismo e da umbanda.
Concomitantemente ao esforço escriturístico, que chegava à tentativa de criar uma identidade científica para a umbanda, percebe-se que a magia é sempre assumida através de uma disposição conciliatória com a moral judaico-cristã. Assim, referindo-se ainda ao uso da pólvora nos trabalhos mágicos da umbanda, Lourenço Braga a um só tempo buscava no mesmerismo uma explicação aparentada com a ciência e credenciava a magia umbandista, colocando-a em oposição às práticas mágicas aéticas, próprias dos “quimbandeiros”.
Parecerá absurdo aos leitores dizer-se que é admissível o uso da pólvora, porém eu explico a grande utilidade dela, não como tem sido utilizada pelos quimbandeiros, para a prática do mal, mas sim, para o bem, para a descarga de ambientes ou deslocamentos de camadas fluídicas, densas ou pesadas, em volta de uma criatura, dentro de uma casa, ou em uma localidade qualquer. (BRAGA, [s.d.[1941], p. 23)
Essas são algumas evidências empíricas que conduzem a um nexo reincidente nas mesmas: a coexistência entre a manipulação de elementos materiais com fins mágicos e preocupações de natureza moralizantes e exegéticas na literatura produzida pelos intelectuais da umbanda. Contrariamente tanto à sociologia tradicional das religiões, à teologia e, sobretudo, ao universo conceitual que embasava o discurso médico-legal brasileiro, a magia aparecia nas obras doutrinárias umbandistas totalmente subordinada a princípios éticos. Através deste recurso, os intelectuais da umbanda opunham a magia constitutiva das práticas da nova religião à feitiçaria, praticada, nesta ótica por segmentos sociais, ou atrasados intelectualmente, ou alheios aos ensinamentos moralizantes pregados pela umbanda. A literatura umbandista de até meados do século XX forma um “corpus” no qual os dirigentes e intelectuais da nova religião, a um só tempo credenciavam a umbanda através do reconhecimento dos procedimentos mágicos presentes na ancestralidade afro-ameríndia e tentavam separá-la de todas as práticas às quais o processo de institucionalizações religiosas no Brasil negou o estatuto religioso."
(Fonte: Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano V, n. 14, Setembro 2012)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.
Muito invulgar.
25€

20 abril, 2023

POLÍCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA : Escola Prática - 
Imprensa, Jornalismo e Publicações Pornográficas : Jun. 85. [S.l.], PSP, 1985. In-8.º (21,5 cm) de [8], 98, [2] p. ; il. ; B.
Manual editado pela PSP para uso dos aluno da EPP - Escola Prática de Polícia, com legislação aprovada em Fevereiro de 1975, pouco tempo após a revolução do 25 de Abril. Inclui leis e conceitos jurídicos e doutrinários sobre a novel liberdade de expressão e informação livre, bem como o código de conduta dos jornalistas. Compreende ainda legislação diversa, onde está considerada a venda e divulgação de conteúdos pornográficos.
Livro ilustrado com reprodução da Carteira de Imprensa - em página inteira (frente/verso) - passada pelo Sindicato dos Jornalistas.
"A liberdade de expressão do pensamento pela imprensa, que se integra no direito fundamental dos cidadãos e uma informação livre e pluralista, é essencial à prática da democracia, à defesa da paz e ao progresso político, social e económico do país."
(Excerto de Lei de Imprensa - I - Liberdade de imprensa e direito à informação)
"São considerados jornalistas profissionais, para efeitos do disposto nesta lei, os indivíduos que, em regime de ocupação principal, permanente e remunerada, exerçam as seguintes funções: [seguem-se 5 funções - de a) a e).
(Excerto de Estatuto do Jornalista - I - Dos jornalistas, Artigo 1.º)
"É proibido afixar ou expor em montras, paredes ou outros lugares públicos, pôr à venda ou vender, exibir, emitir ou por outra forma dar publicidade a cartazes, anúncios, avisos, programas, emblemas, discos, fotografias, filmes e em geral quaisquer impressos, instrumentos de reprodução mecânica e outros objectos ou formas de comunicação áudio-visual de conteúdo pornográfico ou obsceno, salvo nas circunstâncias e locais previstos nos artigos seguintes: [seguem-se 9 Artigos]
Exemplar em brochura, dactilografado e policopiado, em bom estado de conservação. Capas algo sujas.
Raro.
Com interesse histórico.
20€

19 abril, 2023

NEMÉSIO, Elias -
GENTE DA SERRA.
Ensaio, sôbre o casamento, emmoldurado em quadros rústicos. Faro, Tipografia "União", 1931. In-8.º (21,5 cm) de [16], 270, [2] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Romance-ensaio em que o autor - "serrano" algarvio - se propõe analisar o casamento sob o ponto de vista dos valores tradicionais, da moral e dos bons costumes. Raro e muito interessante.
Livro ilustrado com bonitas gravuras assinalando o início e final de cada um dos 17 capítulos.
O assunto, que me propús estudar, o matrimónio, interessa a quasi todos, sobretudo à gente nova. Que rapaz ou rapariga não terá perguntado anciosamente:
- Devo ou não devo casar?
Estudando êste assunto, ao-de-leve, não tive só em vista proporcionar leitura interessante, mas também dar conselhos aos novos, que pensam em mudar de estado e falam do casamento, com a cabeça um pouco no ar, com muita fantasia, através dum céu límpido de noivado...
A matéria é vasta, desde o namôro, a parte poética, até aos deveres dos cônjuges e à grande e tremenda responsabilidade da criação e educação dos filhos - fim último do casamento, segundo o conceito cristão. No estudo do matrimónio encontram-se questões muito delicadas. Devia fingir que as ignorava? Não está muito no meu feitio fingir. Além disso, por êsse Algarve fóra, nos combóios e nas camionetas, onde quer que concorram rapazes e homens de poucos escrúpulos e até mesmo em reuniões de amigos defendem-se, eu sei, práticas opostas aos princípios da moral e aos interêsses da colectividade. E mesmo entre as raparigas, as raparigas que chegaram à idade de casar - diga-se a verdade! - quantas são as que não conhecem, teoricamente as questões melindrosas do casamento?
Embora dos rapazes nenhum ignore o que vai encontrar nas páginas da Gente da serra (não sou tão pessimista como um velhote que me dizia: Estes negregados, os moços de agora, ainda não andam e já andam com malícia...) e das raparigas sejam raríssimas as que não o tenham aprendido em conversas com amigas mais velhas ou já casadas."
(Excerto de Carta-prólogo)
"Nem viv'alma passava pelas ruas ladeirentas e mal calcetadas da vila. O quarto crescente da lua desaparecêra já por detraz do Castelo. As lindas moiras encantadas, no dizer de pessoas antigas, pelas horas mortas da noite, saíam da cisterna e do corredor subterraneo que a ligava com a Fonte das Mentiras e, enquanto penteavam os seus lindos cabelos de agarenas, iam cantando a sua desdita, em melodias repassadas de tristeza e de saudade. [...] A noite ia envolvendo toda a vila no seu manto que aumentava a negregura á medida que a lua ia desaparecendo por detraz das muralhas velhissimas e torres esboroadas. Em todo o anfiteatro, tinham-se apagado as ultimas luzes. Apenas da janela do quarto de Júlio Fernandes, uma claridade mortiça, irradiando de um candieiro de azeite, saía a medo para o escuro da noite e espreitava os misterios daquele silêncio de necrópole. [...]
Sobre a ponte, com um pé fincado no parapeito e o cotovelo apoiado no joelho, José Costa, ou Zé Gordo, como era mais conhecido, olhava para o pégo, demoradamente. 
Adivinhava-se com facilidade que estava sofrendo nalma a amargura de quem se vê abandonado e, mais que abandonado, desprezado.
Quando o coração sangra, o fantasma da morte surge e, passando pelos olhos dos infelizes numa vertigem, procura seduzi-los, arrastá-los, prometendo-lhes alivio ao duro sofrer..."
(Excerto do Cap. I)
Manuel Francisco Pardal (Aljezur, 1896-1979). "Foi um religioso, professor e escritor português, sendo considerada a mais importante figura no concelho de Aljezur na época contemporânea. Ocupou altos cargos na Igreja Católica, chegando a ser nomeado Monsenhor pelo Papa João XXIII. Notabilizou-se como orador, tendo pregado em várias freguesias no sul do país, mas também em Lisboa, Fátima e Lourdes. Foi professor em Faro, no Seminário de São José, no Liceu Nacional, e na Escola Tomás Cabreira. Distinguiu-se igualmente como jornalista, tendo dirigido o periódico diocesano Folha de Domingo, onde escreveu durante cerca de meio século, e como escritor, tendo publicado três livros: Razões da minha razão, Menina das Águas Frias, e o romance Gente da Serra. Este último foi editado em Faro (1931), com o pseudónimo Elias Nemésio, e é um testemunho da vida quotidiana das populações no concelho de Aljezur no início do século XX, sendo considerada a sua obra principal."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura anterior.
Exemplar em bom estado de conservação. Capa apresenta falha de papel no canto superior direito.
Raro.
Indisponível

18 abril, 2023

XAVIER, Alberto -
POLITICA REPUBLICANA EM MATERIA ECCLESIASTICA.
(Estudo sociologico e juridico dos textos legislativos). Lisboa, Lamas & Franklin, 1912. In-8.º (20,5 cm) de 334, [2], XV, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Importante estudo publicado pouco tempo após a aprovação de legislação republicana que consagrou a separação da Igreja do Estado.
"Singulares circumstancias suggeriram em mim a idéa de escrever este livro.
A paz e a harmonia, a calma e a concordia, tantas vezes mantidas no seio da grande familia republicana portugueza, nas horas difficeis e graves da sua historia, toda feita de sacrificios abnegados e de dedicações heroicas, - soffriam fundos abalos alguns mezes após o 5 d'outubro, mórmente a propostito da eleição presidencial em agosto de 1911.
Uma surda e insensata campanha de descredito e de odios pessoaes se fomentava pelos bastidores da politica, progredia, tomava vulto e vinha afinal é supuração na Imprensa diaria, entrando no dominio publico. E n'essa corrente de despeitos mutuos inconfessaveis, de incompatibilidades pessoaes irreductiveis, não se receou ferir no combate violento e aggressivo, as proprias leis republicanas, algumas das quaes sem duvida importantes, mesmo fundamentaes como esteio e inicio d'uma nova era fecunda de emancipação e de justiça que havia inspirado toda a propaganda preparatoria da Revolução, justificando-a.
Um dos diplomas visados no ataque, foi o que separou as Igrejas do Estado. Vindo instaurar em Portugal um regimen de completa liberdade religiosa, inedito na historia da nossa nacionalidade, esse documento legislativo, tendo principalmente por fim garantir a legitimidade de todas as religiões, sem privilegios para qualquer d'ellas ou exclusão propositada para alguma, é ao mesmo tempo uma arma legal de defeza politica das instituições contra as ambições de poder da Igreja Catholica, pretendida aggremiação temporal.
O clericalismo é o nosso fundamental inimigo. Na fronteira é ainda o clericalismo que fomenta a guerra civil e a restauração.. No interior o clericalismo continua senhor do confessionario e o espirito clerical predomina no seio das familias."
(Excerto da Justificação)
Indice Geral:
Justificação | Uma vista de conjuncto | I - A Separação: Causas Juridicas - Causas occasionaes. Um confronto de textos. II - Politica anti-clerical. III - Principios: A liberdade religiosa. Liberdade de consciencia - Liberdade de cultos. IV - Principios: A liberdade de ensino. Ensino racionalista - Ensino confessional. V- Principios: Liberdades de reunião e de associação. Corolarios: O culto publico e as corporações cultuaes. | Acclarações necessarias.
António Maria Eurico Alberto Fiel Xavier (Goa, Nova Goa, 1881-? ). "Foi um político, advogado, jornalista português. Pertenceu à Maçonaria, tendo sido iniciado em data desconhecida de 1906 na Loja Pátria, afecta ao Grande Oriente Lusitano Unido, com o nome simbólico de Robespierre. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1908, participando na Greve Académica de 1907. Exerceu Advocacia em Lisboa e dedicou-se ao Jornalismo. Já depois da Revolução de 5 de Outubro de 1910, exerceu as funções de Administrador do 4.º Bairro de Lisboa, Secretário-Geral do Ministério das Finanças e Director-Geral da Fazenda Pública. Dirigiu o "Diário da Tarde" e colaborou em vários outros periódicos. Foi eleito Deputado nas eleições extraordinárias de 1913, em 1915, em 1919, 1921 e 1922 pelo Círculo Eleitoral de Estremoz, transitando das listas do Partido Democrático para as do Partido Reconstituinte na década de 1920. Em 1924 exerceu, por algum tempo, o cargo de Administrador Geral da Casa da Moeda. A transição da República para o Estado Novo, não diminuiu a sua intervenção junto do Poder, visto que se tornou um dos colaboradores de António de Oliveira Salazar, quando este geriu a pasta do Ministério das Finanças. Entre 1933 e 1947, foi Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas, cargo do qual se reformou voluntariamente. Entre 1940 e 1947, foi Comissário-Adjunto do Governo na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. Ocupou, ainda, a Presidência do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, e das Lotarias da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Publicou diversos trabalhos de ensaio, Direito, Política, literatura, etc."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Pastas enrugadas por acção da humidade. Sem f. ante-rosto.
Raro.
Com interesse histórico.
35€
Reservado

17 abril, 2023

MELLO, D. Thomaz de - MODESTA : memorias de um degredado. Romance original. [Introdução de Pinheiro Chagas]. Lisboa, Typ. Modesta, 1874. In-8.º (17,5 cm) de 262 p. ; E.
1.ª edição.
Obra típica do Romantismo, de acordo com Pinheiro Chagas (na introdução), redigido em "estylo brando e ameno, muitas vezes humedecido de lagrimas", e reforça: "ha commoção sincera na historia de Martha, a victima infeliz dos zelos de uma fidalga".
Romance de época, raro e muito curioso, oferecido pelo autor ao poeta Bulhão Pato. A história será verídica, elaborada a partir de um manuscrito entregue a D. Tomás de Melo por um seu amigo, proprietário no Alentejo: "Estes papeis, disse elle, foram dados em Loanda a um sobrinho meu, pela propria pessoa que os escrevêra. Esse individuo, dois mezes depois tomou tal porção de veneno, que d'ali a instantes era cadaver!"
"D. Thomaz de Mello ha de ser para o futuro uma das figuras legendarias do nosso tempo. A sua paixão pela aventura, o seu odio pelo convencional, o arrojo das sua idéas, a tranquillidade com que affrontava os acasos, os perigos muitas vezes de uma existencia nomada para fugir da trivialidade da vida monotona das salas, tudo isso deu-lhe até certo ponto o caracter de um heróe de Murger."
(Excerto da Introducção)
"Havia dois annos que eu tinha sepultado a minha felicidade no fundo de um valle circumdado por montanhas tristes e melancolicas para todos, menos para mim que as estremecia como a unica recordação de um passado cheio de espinhos e saudades!
Foi ali que sentira pela primeira vez roçar-me a face o anjo das emoções divinas para me chamar á vida do coração; existencia com que eu sonhava, quando refugiado no mais recondito da minha solidão, pedia a Deus um raio de luz, para, iluminando-me o espirito, me substituir por flores, as usnas que se prendiam ás ruinas do meu pensamento.
Tinha eu então vinte annos. Amara pela primeira vez! As rosas d'aquelle afecto, cahiram como as folhas no outomno. Seccas e desfolhadas, teceu-as o tempo n'um diadema de espinhos, que mais tarde, havia de coroar esta fronte de martyr!"
(Cap. I)
Tomás de Melo (na grafia de então, Thomaz de Mello) (1836-1905). Foi um escritor português, casado com D. Maria de Jesus de Bragança, filha ilegítima de D. Miguel I. Sobre a sua conduta de bon vivant e bom garfo lemos na revista O António Maria:
"Quem o não conhece, ao D. Thomaz de Mello, como um dos mais patuscos, mais curiosos, mais attrahentes typos d'essa bohemia de melhores tempos que lhe valeu agora, em boas reminiscencias, um alegre livro?! Quem o não conhece, ao da grande pera e mais o grande bigode, grande chapeu desabado e grande pança cahida, dilatada por quantas ceias e idas ás hortas memoraveis de que nos falla a Historia, e em que elle tomou parte, denodadamente, em tremendissimas pandegas de estalo!"
Foi autor dos seguintes livros: Cenas de Lisboa (1874); Modesta: memórias de um degredado (1874); O Conde de S. Luís (1874; 2.ª ed. 1903); A espera de touros em Carriche (1879); Boémia antiga (1897); Contos e casos (1904); Recordando "O Negro de Alcântara": tragédia em 4 actos, paródia do "Otelo" (1904). Foi ainda proprietário da revista O reclamo: órgão da Agência Universal de Anúncios, publicada pela casa Júlio Rodrigues, em 1892."
(Fonte: wikipédia)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação.. Envelhecido; pastas gastas; trabalho de traça, marginal, na dedicatória; pequena falha de papel nas duas primeiras folhas da introdução; sem f. ante-rosto.
Raro.
Indisponível

16 abril, 2023

FESTAS DO OPERARIADO MONTEMORENSE.
Inauguração da casa da Associação Operearia, generosamente doada pelo ex.mo  sr. Joaquim José Faisca. [Preço 30 réis] - Montemór-o-Novo, 25 de Dezembro de 1905. [S.l.], Typ. "Santos" [Publicação editada pela Folha do Sul], 1905. In-8.º (19 cm) de 16 p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Opúsculo dedicado à inauguração da nova sede da Associação Operária, agremiação de Montemor-o-Novo.
O livrinho é preenchido na sua quase totalidade com os retratos - 1 por página - de  destacadas figuras da região que, de uma forma ou outra, estão ligadas à Associação, incluindo o retrato do benemérito doador Joaquim Faísca. Apenas a última página apresenta texto impresso, o Hymno do Operariado Montemorense, com versos de José d'Almeida e música do «Hymno do 1.º de Maio».
Na contracapa encontra-se reproduzida em fotogravura a nova sede da Associação.
Exemplar brochado, preso por agrafe, em bom estado geral de conservação. Com vincos e furos de arquivo.
Raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
15€

15 abril, 2023

AMARAL, Dr. M. Almeida -
O TRATAMENTO CIRÚRGICO DAS DOENÇAS MENTAIS.
Pelo... Director da Casa de Saúde de Idanha (Hospital Psiquiatria), Director da Clínica de Neuro-Psiquiatria do Hospital da Marinha, Ex-Assistente da Psiquiatria da Faculdade de Medicina. Prefácio do Prof. Egas Moniz. Manuais Práticos de Medicina e Cirurgia. Lisboa - Barcelona, Livraria Luso - Espanhola, 1945. In-4.º (24 cm) de XV, 147, [3] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Interessante ensaio sobre a leucotomia - técnica operatória que notabilizou Egas Moniz - que prefacia o livro -, método "perfilhado", estudado e desenvolvido pelo autor, seu discípulo e admirador.
Trata-se de um trabalho baseado na sua tese de licenciatura - apresentada um ano antes à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa - intitulada O tratamento cirúrgico das doenças mentais : contribuição para o estudo dos resultados terapêuticos da leucotomia pré-frontal. Inclui relatório de 12 "casos" que o autor acompanhou de perto.
Livro ilustrado no texto com desenhos esquemáticos e fotografias de pacientes, antes e (ou) depois de submetidos à polémica cirurgia.
Exemplar muito valorizado pela extensa dedicatória autógrafa de Almeida Amaral, datada de 1945, ao seu colega e condiscípulo Dr. Américo de Assunção.
"O sr. Dr. Almeida Amaral tem sido, em Portugal, o grande paladino da leucotomia pré-frontal.
Desde que a realizámos acompanhou os nossos trabalhos com entusiasmo, procurando indagar os resultados obtidos.
Passou a dar aturado labor ao estudo psiquiátrico dos operados, seguindo-os com meticuloso cuidado, em repetidas e longas observações. Foi assim que se convenceu da importância do novo tratamento cirúrgico, cujos resultados não ofereciam dúvidas em certos casos. Com grande imparcialidade e justa apreciação, também verificou que, em alguns doentes, os benefícios não correspondiam à nossa expectativa. Fêz assim trabalho honesto e seguro, tendo-nos dado valiosa colaboração. Concorreu, ao nosso lado e de Almeida Lima, para que a operação merecesse, entre nós, a divulgação possível."
(Excerto do Prefácio)
Sumário: I - Introdução e história do método psicocirúrgico de Egas Moniz. II - Generalidades sobre a anatomia do lobo frontal: A) Limites macroscópicos; B) Arquitectura do cortex frontal; C) Substância branca. III - Generalidades sobre a fisiologia do lobo frontal: A) Experiências e observações em animais; B) Lesões traumáticas dos lobos frontais; C) Doenças dos lobos frontais; D) Tumores dos lobos frontais; E) Amputações do lobo frontal; F) Leucotomias e lobotomias pre-frontais: a) sintomas gerais; b) sintomas neurológicos; c) sintomas psíquicos. IV - Técnica operatória da leucotomia pre-frontal de Egas Moniz: A) Leucotomia; B) Técnica operatória de leucotomia; C) Injecções de alcool; D) Nova técnica de leucotomia frontal (Lobotomia de Freeman, bases de técnica; técnica operatória). V - Casos clínicos. VI - Sumário dos resultados. VII - Discussão e crítica do método empregado. VIII - Conclusões e considerações finais.
Manuel Almeida Amaral (1903-1960). "Médico, natural de Lisboa, nasceu a 12-03-1903 e faleceu a 15-05-1960. Formou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1926 com a tese de licenciatura "Tratamento Cirúrgico das Doenças Mentais". Dedicou-se à psiquiatria, tendo sido Assistente da respectiva cadeira em 1927.
Discípulo do Professor Sobral Cid, frequentou as mais importantes clínicas da especialidade em França, Espanha, Suíça, onde estudou a aplicação da ergoterapia nos hospitais de doenças mentais.
Médico da Armada, foi Chefe de Neuropsiquiatria do Hospital da Marinha em 1933 e instituiu a selecção psicotécnica na admissão dos futuros marinheiros. Director do Hospital Miguel Bombarda (hoje com o seu nome), onde imprimiu profundas transformações que muito melhoraram as condições de hospitalização e tratamento dos doentes alienados. Doutorou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1944. Foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria."
(Fonte: "Câmara Municipal de Lisboa – Toponímia de Lisboa")
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas apresentam falhas de papel marginais.
Raro.
Com interesse histórico e clínico.
35€

14 abril, 2023

BAPTISTA, Augusto Soares de Sousa -
SÔZA.
[Por]... Do Instituto de Coimbra. Aveiro, [s.n. - Oficinas Gráficas da Coimbra Editora, L.da - Coimbra], 1955. In-4.º (24,5 cm) de 11, [1] p. ; B. Separata do vol. XXI do Arquivo do Distrito de Aveiro
1.ª edição independente.
Curiosa monografia histórica sobre Soza, castiça vila do concelho de Vagos - Aveiro.
"Entende cada um que a sua vila ou aldeia não é digna nem honrada e tiver as raízes à flor do tempo e, por isso, lhas mergulha nas mais distantes camadas, onde à luz titubeante da verdade nasce a História humana. Assim sucede a Sôza, assim acontece com todas. E. todavia, foi só a partir de 1088 que tivemos conhecimento da existência desta terra linda, que, no dizer errado de alguns de seus filhos, só dá mulheres feias. Já lá vão mais de oito séculos, mas o que é isso para quem foi buscar as suas origens para além dos Romanos?
Será assim? É o que vamos ver.
Em 1015 ou 1016 Afonso V de Leão decidiu-se  recuperar as terras dentre Douro e Mondego que desde 987 andavam em mãos de mouros governados pelo renegado Froila Gonçalves. O seu exército vitorioso entrou em Montemor e o Rei, pondo ali a Mendo Luz como governador fiel, voltou a Leão. Os mouros, porém, não se acomodaram com a derrota; reagiram e em consequência retirou-se Mendo Luz para as terras de Santa Maria; de novo recuaram as fronteiras dos estados cristãos, agora para uma linha que ia da foz do Vouga ao Caramulo, por entre as actuais Mealhada e Anadia, que naquele tempo ainda não existiam. Também o Vouga levava as águas directamente ao mar por ainda não estar formada aquela faixa de areia que o separa da ria. E foi assim que as terras da margem esquerda do Vouga, junto à sua foz, ficaram novamente sob a jurisdição mourisca, enquanto as da direita formavam, com as que ficavam a norte da linha acima referida, as Terras do Julgado de Vouga, sob domínio cristão."
(Excerto do texto)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e regional.
15€