20 dezembro, 2021

FIGUEIREDO, Fidelino de Sousa - OS AMORES DO VISCONDE
. Lisboa, [s.n. - Typ. da Cooperativa Militar - Lisboa], 1906. In-8.º (19,5 cm) de [2], 58, V, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Novela-ensaio sobre o casamento por conveniência, expediente em voga na época em que foi escrita. A instâncias dos pais, Analia - moça formosa de 18 anos - pondera casar com o Visconde - ilustre aristocrata 40 anos mais velho -, detentor de fortuna e brazão. Obra satírica, plena de ironia, trata-se de um dos primeiros livros do autor, menor de idade quando o terminou (contava apenas 17 anos de idade), e que mais tarde assinaria os seus escritos apenas como "Fidelino de Figueiredo". Rara e muito interessante, não consta de algumas bio-bibliografias mais "sérias" do autor.
"Muito lépido - tão lépido quanto lh'o permitiam os seus sessenta anos bem gozados - o visconde levantou-se logo que uma cabaça muito penteada e lustrosa se coou pela porta do quarto e lhe advertiu muito discretamente.
- São sete horas, sr. visconde. - e a porta cerrou-se sem ruido.
Embrulhando-se no seu robe-de-chambre, que ainda deixava aparecer umas pernas delicadas e umas meias negras bordadas a seda com a sua corôa, o visconde abriu a janéla, sorveu um longo austo a brisa matutina, fitou o arrebol que começava colorindo o horizonte, e exclamou:
- Que béla manhã! - e logo acrescentou, sentido percorrer-lhe os membros um friozito penetrante que o arripiava: - Um pouco fria.... um pouco fria!
Já a Peninha se destacava sobre o criz como uma mancha negra, os passaros cruzavam-se nos ares e do lado de S. Pedro as estrelas iam fugindo. Das chaminés subia um vaporzinho azulado; raros passos de madrugadores, todos encolhidos nas golas levantadas, rangiam sobre a areia; e em baixo no pateo o moço do hotel esforçava-se por fazer entrar pela estreita porta um amplo cesto, transbordando de hortaliças.
- Um pouco fria! - continuava monolugando e afundando as mãos nas algibeiras. - Um pouco fria!... Em Janeiro, em Cintra, longe do conforto do meu palacête da rua da Paz, sem as torradas da Zeferina! - batendo os pés para os aquecer - Em Janeiro! Quanto póde o amor!"
(Excerto do Cap. I)
Fidelino de Figueiredo (Lisboa, 1888-1967). Foi professor, historiador, hispanista, crítico literário, intelectual e filósofo. Deixou uma vastíssima obra, nos campos dos Estudos Literários, da Crítica Literária e do Ensaio, da História e da Literatura Comparada e da Teoria Literária e a Literatura Portuguesa (de onde podemos destacar os seus estudos dedicados à épica camoniana). Contribuiu fortemente para a modernização teórico-metodológica destas disciplinas. Foi pioneiro na nova área da Literatura Comparada em Portugal. No campo filosófico dedicou-se a uma consistente reflexão ensaística de cariz filosófico e existencial, mais desenvolvida no final da sua vida."
(Fonte: http://fabricadesites.fcsh.unl.pt/ghispanicas/2019/05/08/fidelino-de-figueiredo/)
Exemplar em brochura, bem conservado. Capas ligeiramente oxidadas.
Ex-libris de Albuquerque Schmidt colado no verso da folha de guarda anterior.
Raro.
30€

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