CADORO (Carlos Faria), Barão de - DINIZ. Coimbra, Typographia França Amado, 1898. In-8.º (18 cm) de 370, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Romance do final do século XIX, cuja personagem central é Diniz, moço vaidoso e mimado, que encara as inimizades e contrariedades como insultos à memória de seu pai, antigo combatente e liberal de cepa.
A presente obra, retrata a fútil sociedade cosmopolita da época, com os seus vícios, "favores" e convenções. Muito interessante.
"Eram de uma vez dois nobres à volta de uma herança pingue, e que vinha de uma parente longiquo, avaro e desestimado. Esse dinheiro não tinha o travo da saudade, a pena do morto; caía-lhes em casa como premio grande da loteria.
A liquidação da herança seria facil, se o testamento, qua a regulava, não tivesse deixado certas migalhas a um orfão e a uma Irmandade. Assim tinha de haver inventario orfanologico e a Boa Hora, logo que tal soube, qual alcoviteira dos ricos, começou a esfregar as gigantescas e aduncas mãos. Escrivão, procuradores, advogados e louvados deixaram de aparar as unhas sem temer a porcaria nem o padre Antonio Vieira que tanto se ocupou d'esses apendices corneos.
A Justiça, essa divinisada figurita de marmora armada de balança para pesar as faltas, e de espada para cortar as demasias, era vendada como Cupido por não querer conhecer a quem feria. Agora perdeu essas classicas caracteristicas, e apresenta-se grosseiramente de tamancos, de saia de serguilha, colete de pano cru cingindo a aspera camisa de estopa contra o seco peito esteril, na figura antipatica das cardadeiras.. Em logar de pesar certo e de cortar direito como a symbolica figurita de marmore, carda e guarda para si a estriga limpa, deixando aos outros a estopa, arestas, etc. Não usa espada nem balança, mas carda. Se traz venda é para velhacamente espreitar por baixo. [...]
Eram dois fidalgos mas havia tambem um plebeu, e todos trez deviam herdar com egualdade. A principio muito amigos, muito condescendentes, muito - essa é boa! o que tu quizeres! - depois em grupos de dois contra um que mudava segundo o interesse mais vivo de dum d'aquelles, em guerra dissimulada, em intrigas, em cambapés, qté que os fidalgos por maior communidade de ambições e maior audacia de meios se conluiaram contra o plebeu, e o despojaram, o mais que puderam, e tudo isto se fez ao abrigo da lei, sob a protecção da... cardadeira."
(Excerto do Cap. I, Son Altesse, Ma Vanité)
Carlos de Faria e Melo (1849-1917). "Escritor, jornalista, político e diplomata. Natural de Lisboa, Carlos de Faria e Melo fixou residência em Aveiro, cidade onde se notabilizou como jornalista e escritor, tendo sido agraciado pelo Rei D. Carlos com o título de 1.º Barão de Cadoro. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Carlos de Faria iniciou, ainda muito novo, a sua carreira jornalística, tendo fundado e dirigido diversos jornais, alguns de cariz literário. Como escritor, publicou vários livros. Para além disso, desempenhou cargos políticos, designadamente o de Administrador do Concelho de Aveiro e o de Governador Civil do Distrito de Aveiro, tendo sido também Cônsul de Espanha em Aveiro. Carlos Faria foi redator efetivo do jornal O Povo de Aveiro. Fundou e dirigiu o jornal A Locomotiva (que se auto-intitulava Periódico dos Caminhos de Ferro). Com Gervásio Lobato, fundou o periódico Comédia Portuguesa, tendo ainda integrado a redação do Jornal do Norte, de António Augusto Teixeira de Vasconcelos. Como escritor, Carlos de Faria publicou várias obras de ficção, nomeadamente os livros intitulados Um Conto de Reis, O Piano, Portugueses Cosmopolitas e Diniz. Em colaboração com Joaquim de Melo Freitas, publicou a obra Homenagem ao distinto explorador de África Serpa Pinto. Para além disso, cooperou em diversas iniciativas de relevo na vida social e cultural aveirense."
(Fonte: http://sites.ecclesia.pt/cv/carlos-de-faria-jornalista-e-escritor/)
Encadernação da época em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado; apresenta pequenos defeitos nas pastas e na lombada. Com algumas folhas soltas.
Raro.
1.ª edição.
Romance do final do século XIX, cuja personagem central é Diniz, moço vaidoso e mimado, que encara as inimizades e contrariedades como insultos à memória de seu pai, antigo combatente e liberal de cepa.
A presente obra, retrata a fútil sociedade cosmopolita da época, com os seus vícios, "favores" e convenções. Muito interessante.
"Eram de uma vez dois nobres à volta de uma herança pingue, e que vinha de uma parente longiquo, avaro e desestimado. Esse dinheiro não tinha o travo da saudade, a pena do morto; caía-lhes em casa como premio grande da loteria.
A liquidação da herança seria facil, se o testamento, qua a regulava, não tivesse deixado certas migalhas a um orfão e a uma Irmandade. Assim tinha de haver inventario orfanologico e a Boa Hora, logo que tal soube, qual alcoviteira dos ricos, começou a esfregar as gigantescas e aduncas mãos. Escrivão, procuradores, advogados e louvados deixaram de aparar as unhas sem temer a porcaria nem o padre Antonio Vieira que tanto se ocupou d'esses apendices corneos.
A Justiça, essa divinisada figurita de marmora armada de balança para pesar as faltas, e de espada para cortar as demasias, era vendada como Cupido por não querer conhecer a quem feria. Agora perdeu essas classicas caracteristicas, e apresenta-se grosseiramente de tamancos, de saia de serguilha, colete de pano cru cingindo a aspera camisa de estopa contra o seco peito esteril, na figura antipatica das cardadeiras.. Em logar de pesar certo e de cortar direito como a symbolica figurita de marmore, carda e guarda para si a estriga limpa, deixando aos outros a estopa, arestas, etc. Não usa espada nem balança, mas carda. Se traz venda é para velhacamente espreitar por baixo. [...]
Eram dois fidalgos mas havia tambem um plebeu, e todos trez deviam herdar com egualdade. A principio muito amigos, muito condescendentes, muito - essa é boa! o que tu quizeres! - depois em grupos de dois contra um que mudava segundo o interesse mais vivo de dum d'aquelles, em guerra dissimulada, em intrigas, em cambapés, qté que os fidalgos por maior communidade de ambições e maior audacia de meios se conluiaram contra o plebeu, e o despojaram, o mais que puderam, e tudo isto se fez ao abrigo da lei, sob a protecção da... cardadeira."
(Excerto do Cap. I, Son Altesse, Ma Vanité)
Carlos de Faria e Melo (1849-1917). "Escritor, jornalista, político e diplomata. Natural de Lisboa, Carlos de Faria e Melo fixou residência em Aveiro, cidade onde se notabilizou como jornalista e escritor, tendo sido agraciado pelo Rei D. Carlos com o título de 1.º Barão de Cadoro. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Carlos de Faria iniciou, ainda muito novo, a sua carreira jornalística, tendo fundado e dirigido diversos jornais, alguns de cariz literário. Como escritor, publicou vários livros. Para além disso, desempenhou cargos políticos, designadamente o de Administrador do Concelho de Aveiro e o de Governador Civil do Distrito de Aveiro, tendo sido também Cônsul de Espanha em Aveiro. Carlos Faria foi redator efetivo do jornal O Povo de Aveiro. Fundou e dirigiu o jornal A Locomotiva (que se auto-intitulava Periódico dos Caminhos de Ferro). Com Gervásio Lobato, fundou o periódico Comédia Portuguesa, tendo ainda integrado a redação do Jornal do Norte, de António Augusto Teixeira de Vasconcelos. Como escritor, Carlos de Faria publicou várias obras de ficção, nomeadamente os livros intitulados Um Conto de Reis, O Piano, Portugueses Cosmopolitas e Diniz. Em colaboração com Joaquim de Melo Freitas, publicou a obra Homenagem ao distinto explorador de África Serpa Pinto. Para além disso, cooperou em diversas iniciativas de relevo na vida social e cultural aveirense."
(Fonte: http://sites.ecclesia.pt/cv/carlos-de-faria-jornalista-e-escritor/)
Encadernação da época em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado; apresenta pequenos defeitos nas pastas e na lombada. Com algumas folhas soltas.
Raro.
A BNP tem registo de apenas um exemplar.
Indisponível