31 dezembro, 2021

MARTINS, Oliveira - POLITICA E ECONOMIA NACIONAL
. Porto, Magalhães & Moniz, 1885. In-8.º (18 cm) de XXXI, [1], 278, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Importante ensaio político-económico. O autor crítica o situacionismo político resultante do sistema rotativo de poder imposto pelos dois principais partidos, solução prejudicial para o país, sobretudo em época de penúria económica.
"A principiar pelas questões propriamente politicas, o leitor verá que no momento actual se me afigura indispensavel desenfeudar o parlamento das duas influencias nefeastas que, segundo o consenso unanime, reduziram o nosso regime constitucional a um grau de abatimento lastimoso. Perverteu-se a natureza peculiar das instituições; tornaram-se de facto as camaras (isto é, os deputados e pares tomados individualmente) o verdadeiro executivo, e tornaram-se os ministros o poder legislativo, pois que o menor cuidado dos legisladores é discutir as leis, e o maximo impôr aos ministros as suas exigencias, os seus empenhos, em beneficio do circulo, do influente, do eleitor - do compadre.
Essas duas influencias nefastas, sabem-no todos, são a burocracia e o que se chama campanario. Os legisladores são na sua grandissima maioria empregados publicos: como deixará de ser a camara uma succursal das secretarias? como deixarão de ser os votos parlamentares uma sancção apenas, e as discussões positivas parodias? Admitte alguem sequer a hypothese de uma divergencia de opinião entre um ministerio e a sua maioria? Viu-se já uma vez só faltar a algum gabinete o apoio dos deputados por elle eleitos?
Mas esses mesmos legisladores, empregados publicos, e mais ainda os raros que o não são, vergam sob o peso de influencias locaes que os escravisam; e no pacto mais ou menos tacito celebrado com o governo recebem d'elle tudo o que reclamam, em troca do apoio incondicional dado a toda e qualquer lei mais ou menos impensada, mais ou menos estudada que sae - quando sae - do ventre das secretarias.
Dir-se-ia que d'este modo realisamos um systema de dictadura chronica e de governo pessoal exercido dentro dos moldes parlamentares. Não é porém assim, pois o legislador que votou de olhos fechados - muitas vezes por nem sequer ter intteligencia ou caracter bastante para os abrir - abre-os logo que a lei sua filha vae ferir Fulano ou Sicrano, trunfos do seu circulo, e corre ao ministro para que torça, para que suspenda, para que remedeie o mal que fez.
E o  ministro obedece."
(Excerto do preâmbulo - Advertencia)
Indice:
Advertencia. | Primeira Parte - Politica: I - Questões de politica positiva; II - Lista multipla e voto uninominal; III - O socialismo contemporaneo. Segunda Parte - Economia metropolitana: I - O tratado de commercio com a França; II - Estatistica de Portugal; III - O Banco dos Pobres. Terceira Parte - Marinha e Colonias: I - Requerimento dos póveiros; II - O commercio maritimo portuguez; III - Relatorios dos governadores do Ultramar.
Encadernação em meia de pele, coeva, sólida, com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Ténue mancha de humidade visível nas últimas folhas do livro.
Invulgar.
Com interesse histórico.
20€

30 dezembro, 2021

VOUZELA : estudos históricos.
Pelos Académicos Joaquim Veríssimo Serrão; Justino Mendes de Almeida; Henrique Pinto Rema, O.F.M.; José Calvão Borges; Armando Lúcio Vidal; João Luís Cardoso; Nestor Fatia Vital; Euríco Malafaia. Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1999. In-4.º (25 cm) de 230 p. ; il. ; B.

1.ª edição.
Estudo inteiramente dedicado a Vouzela e ao seu Concelho, com a colaboração de alguns dos mais eminentes historiadores nacionais.
Livro ilustrado ao longo do texto com gravuras, desenhos, mapas e fac-símiles de documentos, portadas e excertos de livros antigos.
"Sem referir as origens pré-históricas de Vouzela, provadas pelo conjunto de vestígios da zona de Lafões, sabe-se que Vouzela foi conhecida no tempo dos romanos. Da sua passagem datou o étimo Vaucella para juntar os topónimos de Vauca e Zella, o primeiro designava então o rio Vouga e o segundo o pequeno afluente que banha a povoação. Não se perdeu essa memória no tempo dos Árabes, como parte de um território das margens do Vouga já conhecido por "alahoneinis". O historiador David Lopes provou que o dual árabe Alahavãn deu origem ao singular Alafón ou Alafão para designar cada um dos cabeços que envolvem a região. Ambos em conjunto passaram a ser conhecidos por Alahones, ou seja, a forma medieva de Alafões, nome usado em sentido geográfico para o território envolvente.
Assim se formou a tradição de nomear como "dois irmãos" os montes Lafão e da Senhora do Castelo, servindo este de assento a Vouzela. Tudo permite crer que a povoação se ia desenvolvendo nos fins do século XI, por ser um ponto obrigatório de passagem na direcção de Viseu e de Aveiro. A pouca distância ficavam as Caldas de Lafões, que Duarte Nunes de Leão considera as mais antigas do Reino e que atraíam grande número de enfermos, não apenas da região, como da província da Beira. Uma légua e meia na direcção do norte, ficava o lugar de S. Pedro de Lafões, que no século XII passou a ser nomeado do Sul, pela confluência da ribeira do mesmo nome em relação ao Vouga. [...]
As caldas de Lafões guardam ainda a lembrança de haverem servido do local de restabelecimento do primeiro Rei de Portugal. Após o desastre de Badajoz, no ano de 1169, em cuja porta fracturou uma perna, o soberano foi aos banhos de Alafões buscar alívio para os seus males. O cronista António Brandão escreveu a propósito: "E como o aleijão da perna o tivesse ainda mui debilitado, tratou de lhe aplicar os reedios mais convenientes. São os banhos de Lafões junto a Vouzela e corrente do rio Vouga, mui celebrados pela eficácia de suas águas e facilidade com que curam. Em Setembro do dito ano instalou-se "in balneis de Alafoen", acompanhado dos filhos e dos principais nobres, não sem antes tomar providências quanto à defesa do Alentejo e à prossecução da Reconquista. E durante os meses que permanece em "Alafoen", o monarca assina várias cartas de doação, como a de Oliveira dos Frades em favor do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra."
(Excerto de Um passeio pela história de Vouzela)
Tábua das matérias:
- Introdução. - Um Passeio pela História de Vouzela. - A Egideia. Um poema, pouco conhecido, a S. Frei Gil. - Alguns Franciscanos em Vouzela. - Os Símbolos Heráldicos de Vouzela. - Joaquim Baptista, Médico em Vouzela. - As Cédulas Camarárias de Vouzela e o seu Brasão de Armas. - Monumentos Megalíticos do concelho de Vouzela. - O Pelourinho de Vouzela. Monumento de afirmação municipalista, Algumas reflexões.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
20€

29 dezembro, 2021

MANUAL DO OPERARIO - INDUSTRIA DO VIDRO.
Bibliotheca de Instrucção Profissional. Lisboa, Bibliotheca de Instrucção e Educação Profissional, [191-]. In-8.º (22,5 cm) de [4], 94, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante ensaio sobre a indústria vidreira nacional.
Livro muito ilustrado com bonitos desenhos ao longo do texto, bem com 8 estampas em separado.
"Como em Portugal o fabrico do vidro representa um papel importante na nossa actividade manufactureira, é interessante conhecer quaes os processos variados de que essa industria se serve para chegar ao fim desejado. [...]
Todas as fabricas nacionaes revelam boa vontade e intelligencia do seu pessoal superior, que, pouco a pouco, tem introduzido os modernos processos de fabrico uzados no estrangeiro, segundo os recursos de que dispõe, ao mesmo tempo que instrue o seu operariado, por fórma a sahir do circulo acanhado dos antigos systemas.
É certo que n'esta industria, os maiores progressos teem sido feitos no systema de fornos e na decoração do vidro, mas esses mesmo teem sido acompanhados, tanto quanto possivel nas nossa fabricas, e, se não chegam ao desenvolvimento attingido no estrangeiro, é porque é impossivel vencer o desgraçado systema anti-patriotico de nós acharmos sempre melhor o que vem de fóra, embora muitas vezes, a nossa industria exceda a estrangeira."
(Excerto do Prefacio)
Indice: Prefacio. | I - Generalidades. II - Formação e manipulação do vidro. III - Fabrico de garrafas. IV - Fabrico de copos. V - Fabrico de vidraça. VI - Fabrico de espelhos. VII - Fabrico de objectos moldados. VIII - Objectos de cristal. IX - Decoração do vidro. X - Vidros e objectos de fabrico especial.
Encadernação editorial inteira de percalina com ferros gravados a seco e a negro nas pastas e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Ex-Libris de Henrique Marques.
Muito invulgar.
20€

28 dezembro, 2021

FRANÇA, Alfredo - PAINELEIDA : trági-comédia.
Com ilustrações de Francisco Valença e Alfredo Cândido
. Lisboa, Edição de "A Peninsular", 1926. In-8.º (22 cm) de 47, [1] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Divertida comédia poética sobre homens públicos da época a quem o autor veste a "pele" dos personagens históricos retratados nos Painéis de S. Vicente.
Obra muitíssimo valorizada pelos desenhos de Valença e Alfredo Cândido, entre vinhetas tipográficas e gravuras - três delas em página inteira.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Contracapa apresenta pequenas falhas de papel. Uma gravura tem rasgão (sem perda de suporte).
Muito invulgar.
20€

27 dezembro, 2021

ESTUDOS COMEMORATIVOS DO 150.º ANIVERSÁRIO DO TRIBUNAL DA BOA-HORA
. [Lisboa], Ministério da Justiça, 1995. In-4.º (27 cm) de 305, [3] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Edição comemorativa do histórico Tribunal da Boa-Hora, publicado por ocasião do seu 150.º aniversário. Monografia luxuosa, por certo com tiragem reduzida, impressa em papel de superior qualidade, com ilustrações a p.b. e a cores, sendo na sua maioria estampadas em página inteira.
"Pelos cento e cinquenta anos da Boa-Hora perpassa uma memória que é, simultaneamente, um convite à recordação e um desafio para uma reflexão permanente.
Da antologia judiciária emergem episódios, pequenas estórias, acontecimentos picarescos que a verdade superior e que a imaginação enriqueceu pelo tempo e pelos relatos fora.. Para muitos dos cidadãos que fizeram da Boa-Hora poiso frequente de observação e e crítica, estes cento e cinquenta anos constituem também um convite de pertença, uma insinuação de partilha deste espaço de Justiça que tem marcado, por entre queixosos e réus, juízes e testemunhas, advogados e procuradores, o coração judiciário português.
Mas, na festa e no gosto da recordação não pode perder-se o sentido profundo da reflexão perante o eco, necessariamente sempre vivo, da brutal contradição de que a Boa-Hora foi palco, entre justiça e Liberdade.
Aqui se viu, como em nome da Lei e do valor superior de Justiça, se derrogaram direitos, se aviltaram pessoas e se definharam liberdades. No mesmo espaço respiraram sentimentos nobres e ódios desprezíveis procurando todos, indiscriminadamente, a mesma legitimação. Por isso, que, nesta casa, se tenha construído também uma consciência crítica do direito e um critério de rosto humano para ganhar a compreensão da lei."
(Excerto da Nota de abertura de A. Laborinho Lúcio, Ministro da Justiça)
Encadernação em tela revestida de tecido com ferros gravados a seco e a bordeaux na pasta anterior e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e jurídico.
Indisponível

26 dezembro, 2021

VIDOEIRA, Pedro - A FIDALGA DO JUNCAL (romance contemporaneo)
. Lisboa, Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso, 1904. In-8.º (18,5 cm) de 463, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante romance de costumes cuja acção decorre no norte do país, sobretudo na cidade de Barcelos e arredores.
"Americanos pesados e alguns trens, vindos da Praça Nova e da Batalha, acabavam de largar na estação de Campanhã os passageiros que do Porto se destinavam á linha do Minho pelo comboio das dez e meia.
Estava-se no inverno - em principios de janeiro - e o dia que rompêra carregado e feio, desentranhava-se numa chuva persistente que não promettia parar. ás dez horas da manhã era tamanha a cerração que muitas lojas, como se a noite se avizinhasse, tratavam de accender o gaz para as voltas indispensaveis da sua labutação quotidiana.
A poucos passos de distancia, não se distinguiam os raros vultos que as suas occupações obrigavam a sahir de casa com tal dia.
Do largo da estação corriam para dentroda sala e entrada, abrindo os seus guarda-chuvas, as pessoas conduzidas pelos trens e americanos.
A sineta era o segundo toque de prevenção. Faltavam sómente cinco minutos para a partida do comboio.
Todos se encaminhavam em direccção ao guichet da bilheteira, enfiando pela grade de resguardo que serve de regulador ás impaciencias dos apressados. [...]
Mais adeante na cantina - o botequim dos pobres, onde os consumidores são menos exigentes em satisfações de paladar - pediam-se copos de genebra e aguardente, que saboreavam com estalinhos na bocca os passageiros de terceira classe, faceis de distinguir pelas suas grossas japonas de saragoça, pelos seus grossos tamancos de pau e pelos seus grossos cajados de marmeleiro. [...]
Os passageiros iam occupando os seus logares, acompanhados dos moços que lhes depunham nas redes os embrulhos, as coberturas, os saccos e as maletas. Os mais previdentes procuravam dr as costas á machina para vitarem no trajecto as lufadas de fumo que invadem os assentos da frente. [...]
A locomotiva - esse hippogrypho do progresso, cujo ventre insaciavel devora colossaes rações de hulha e cuja sêde só se extingue com formidaveis trombas de agua - resfolgava ruidosamente, vomitando espessas columnas de vapor. [...]
Guiado pela experiente direcção do machinista, o monstro começou emfim a mover-se, e a extensa fila de wagons, vagarosamente primeiro, depois com mais presteza, largou pela via fóra, deixando atrás de si um denso pennacho de fumo, que se esvaía pouco a pouco em successivas espiraes. [...]
- Barcellos! Barcellos!
Então abriu-se a portinhola de uma carruagem de primeira e desceu para a plataforma um passageiro de vinte e oito annos, typo moreno, olhar vivo, estatura regular e barba negra pouco espessa. [...]
Percorrida a curta distancia da Avenida que põe Barcellos em contacto com a estação, o nosso passageiro dava entrada no Hotel Central, situado ao fundo do Campo da Feira, e pedia ahi um quarto dos melhores.
Na mesma  noite da chegada daquelle desconhecido, já se sabia - como sempre succede nas terras de provincia - que elle tinha sahido do Porto, que se chamava Luiz Trigoso, que era bacharel em direito e que vinha alli tentar carreira pela profissão de advogado."
(Excerto do Cap I, O filho do lavrador)
Pedro Alcântara Vidoeira (1834-1917). Poeta, escritor e tradutor português, natural de Lisboa. Emprestou a sua colaboração a jornais e revistas da época, onde se destaca a conhecida publicação Branco e Negro : semanario illustrado. A BNP dá conta de extensa lista de obras traduzidas por Vidoeira, sobretudo de Júlio Verne. Refere também duas obras poéticas - Lyrica popular (1895) e Nova lyrica popular (1913) - e dois romances: A fidalga do Juncal (1904) e Ambições de cortezã (1914).
Encadernação em meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado. Miolo correcto. Sem f. anterrosto.
Raro.
Indisponível

25 dezembro, 2021

SILVA, José Lucas da - A SENHORA DA NAZARETH.
Historia da Imagem desde a sua vinda da Palestina até ao presente, accrescentada com muitas notas historicas, uma pequena noticia da villa da Pederneira, do sitio e templo da Nazareth e com a origem do cirio da Prata Grande. Por...
Mafra, Typographia Mafrense, 1892. In-8.º (19 cm) de 62, [4] p. ; C.
1.ª edição.
Importante subsídio para os anais de Nossa Senhora da Nazaré (e sua imagem), bem como a lenda a ela associada.
Obra sobejamente citada sobre o tema, com relevância histórica para a castiça vila piscatória.
Raro, e interessantíssimo opúsculo, onde a lenda se (con)funde com a história, enriquecido com extensa bibliografia, comentários e notas do autor.
"Possuindo nós, de muitos annos, um manuscripto antigo, que trata dos varios successos relativos á imagem a Senhora da Nazareth, desde a sua origem e vinda da Palestina, do seu apparecimento em Portugal nas costas do oceano, junto á villa da Pederneira, e ainda das alternativas porque, durante a invasão franceza, a mesma imagem passou, até ser finalmente restituida ao seu templo da Nazareth; e achando o mesmo manuscripto assaz curioso, concebemos logo a idea de o darmos á luz da publicidade, ampliando-o quanto possivel nos fosse."
(Excerto do preâmbulo - Duas palavras ao leitor)
"Nada ha que nos indique d'um modo positivo a origem ou principio da veneranda imgem da Senhora da Nazareth. Todavia, é tradição mui antiga e de constante fama que já, no tempo do apostolos, ella era reverenciada na cidade da Nazareth, na Palestina, como modelo da Virgem, Mãe de Deus, nascida na mesma cidade.
Se tomarmos, pois, na devida consideração uma noticia que, no deccorrer dos seculos, tem vindo de bocca em bocca até nós, pois que não temos outros argumentos com que possamos fundamentar este assumpto, devemos acreditar que a imagem da Senhora fòra produzida n'aquella cidade da Galiléa, cuja denominação tomara no primeiro seculo da nossa era, e que na mesma cidade ficara «com  muito culto do devotos christãos da Palestina» até ao 4.º seculo, em que «se levantou, no Oriente, uma grande heresia contra a veneração das imagens.»."
(Excerto do Cap. I - Antiguidade da imagem da Senhora)
"Era pelos annos de 1182, aos 14 do mez de setembro, - dia em que a egreja celebra a exaltação da santa cruz. - A  manhã, que havia rompido soturna, conservava-se obscurecida pela grande cerração que ordinariamente se levanta do mar. Nada se distinguia, a não ser a curta distancia. D. Fuas Roupinho, montado em fogoso ginete, prepara-se com os seus famulos e monteiros para a sua habitual diversão. Depois de algum tempo de cavalgada, tendo chegado á matta de Pataias, que era muito abundante em caça, especialmente em caça grossa, afigurou-se-lhe descobrir um veado ou cousa semelhante. Lançou-se logo em sua perseguição, sem prever sequer o perigo, persuadido, como estava, de que, deante de si, se extendia terra firme; mas, como a densidade da neblina o não eixasse divisar o ponto para onde corria, inesperadamente se achou na extremidade de uma rocha muito estreita e saliente, como que suspensa sobre o abysmo do oceano.
Em risco tão imminente, sem ter já onde firma o cavallo, prestes a despenhar-se e a ser engullido pelas ondas, lembrou-se, de supito, D. Fuas, de implorar a protecção da Virgem Nossa Senhora, cuja morada alli perto se achava. Com effeito, valeu-lhe ella de tal modo que o impaciente animal, empinado nas patas trazeiras, estacara momentaneamente na ponta do penedo, immovel, qual estatua de pedra."
(Excerto de A Senhora livra a D. Fuas da morte)
Matérias:
Duas palavras ao leitor. | I - Antiguidade da imagem da Senhora. - Grande heresia, no Oriente, no 4.º seculo da era christã. - Vinda da imagem da Palestina para o mosteiro da Cauliniana em Hespanha. II - Invasão da peninsula pelos mouros. - Derrota dos christãos na batalha de Guadalete. - D. Rorigo no mosteiro da Cauliniana. - Sahida de Castella, do rei e do monge romano com a imagem. - Sua estada no  monte Seano, onde vivem algum tempo. III - Partida do monge para as costas do oceano. - Sua retirada com a imagem para uma gruta. - Sua vida no deserto. IV - Revelação ao monge Romano da sua mote. - Algumas palavras sobre o assumpto. - Suas ultimas vontades. - Retirada de D. Rodrigo para Vizeu, onde está sepultado. - Recapitulação. V - Caracter guerreiro de D. Affonso Henriques. - Suas conquistas aos mouros. VI - D. Fuas Roupinho. - Descoberta da imagem da Senhora na gruta. - Descripção da imagem. - A Senhora livra a D. Fuas da morte. - Ermida da memoria - Fama do milagre succedido. - D. Affonso Henriques visita a imagem. - Edificação do templo por D. Fernando 1.º - Melhoramentos feitos no mesmo templo e na ermida. VII - Invasão franceza e causas que a determinam. - Insurreição dos povos do norte do paiz contra o governo intruso. - Os povos da Nazareth seguem este exemplo. - Calamidades porque passam, não escapando o templo a Senhora, cuja imagem desapparece. - Encontro e collocação da imagem no seu logar. VIII - Terceira invasão. - O reitor da collegiada consulta os governadores do reino. - Sahida da imagem para o sitio do Pendão. IX - Chega ao conhecimento dos governadores onde está a imagem. - Sua conducção para a real capella de Queluz. X - Restabelecimento da paz em Portugal. - Restituição da Imagem á sua real casa - Festejos em Queluz e freguezias do transito. - Sua entrada triumphal no templo da Nazarth. - XI - Satisfação aos leitores. - Fundação da freguezia e villa da Pederneira. - Praia e sitio da Nazareth. - Templo da Senhora. - Romarias ou cirios que todos os annos vão á Nazareth. - É convidado o leitor a gosar dos festejos. - Como Julio Cesar Machado os descreve. - Origem do cirio da «Prata Grande» e razão porque a Egreja Nova é cabeça d'este cirio. XII - Juncção de 17 freguezias, formando uma confraria. - Do respectivo compromisso. - Fins da confraria e ordem porque as mesmas freguezias se congregamXIII - Brve resenha do que, do compromisso, mais se prende com o que ainda hoje se observa. - Conclusão.
Encadernação cartonada com capa de brochura aposta na pasta frontal.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Mancha de humidade antiga, no pé, atinge primeiras folhas o livro.
Raro.
Com interesse histórico.
45€

24 dezembro, 2021

VILLEMAIN, M. - HISTORIA DE CROMWELL.
Conforme com as memorias escriptas d'aquella época, e as collecções das notas parlamentares; escripta em francez por..., Par de França, Secretario Perpetuo da Academia Franceza, Professor de Litteratura na Faculdade de Letras em París. Traduzida por M. S. da C. Couraça
. Lisboa, Na Imprensa Nacional, 1842. In-8.º (19 cm) de [14] p. bco ; VII, [1], 479, [5], p. [16] p. bco ; [1] f. il. ;E.
1.ª edição.
Biografia política de Oliver Cromwell (1599-1658), militar inglês e líder político, mais tarde, Lord Protector da Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda, que se destacou na defesa do Puritanismo, e um dos mais obstinados adversários do rei Carlos I, que ajudou a depor, tornando-se o homem mais poderoso de Inglaterra com o advento da República, que proclamou, em 1649.
Livro ilustrado com o retrato de Cromwel em separado.
"Poucas historias particulares offerecem tão grandes scenas, e comprehendem tantos acontecimentos como a vida de Cromwell. [...]
Porém o que, sobre tudo, póde justificar a empreza de uma nova historia de Cromwell, é o grande numero de memorias originaes, pouco consultadas, das quaes é facil ajuntar muitas particularidades curiosas, sobre o caracter, e governo d'este homem extraordinario.. Algumas obras manuscriptas, conservadas por muito tempo em poder de diversas familias, não eram conhecidas pelos historiadores Inglezes, e só têem apparecido ha poucos annos. [...]
Não obstante a abundancia d'estes novos documentos, eu me reportei aos esclarecimentos conhecidos ha mais tempo, nos quaes, a investigação de um só objecto, devia fazer-me descobrir as circunstancias esquecidas por outros historiadores. [...]
Esta vasta collecção de documentos, muitos d'elles officiaes, reune immensas noções preciosas, desconhecidas, ou despresadas, as quaes serão relatadas nesta historia, pela primeira vez. Em taes documentos encontrarão olhos mais penetrantes, e exercitados, abundantes vantagens; e foi d'elles que eu tirei circunstanciadas noções, inteiramente novas, a respeito da administração de Cromwell, sua politica exterior, suas relações com Mazarin, e seu procedimento para com os differentes chefes de partido. As Sessões do Parlamento, os numerosos discursos de Cromwell, os processos d'aquella época, os escriptos das facções, os sermões dos prégadores, e as especulações dos publicistas, fornecen egualmente bastantes noticias, ou conjecturas novas; porque a historia de qualquer época póde ler-se, por assim dizer, nos arrasoados, ou nos pensamentos que então occupavam o espirito; e até as idéas são algumas vezes o mais importante de todos os factos."
(Excerto da introdução, Observações preliminares)
"Emprehendo escrever a historia d'um homem celebre por sua fortuna, e genio, cujo caracter é ainda para nós um tanto obscuro, e problematico. Na verdade é um grande espectaculo a ruina d'uma antiga monarchia, e as agitações licenciosas de um povo, que procura violentamente a liberdade, e que, cahindo por uma vicissitude quasi inevitavel, sob um poder mais absoluto, do que aquelle que havia derribado, se torna assim mais poderoso, e faz nascer a liberdade do meio dos seus furores, e escravidão: porém, o homem que está collocado á frente desta usurpação intermediaria, e a qual sustenta fortemente para seu proprio proveito, e utilidade da nação, que elle mesmo opprime, apresenta, per si só, um quadro não menos instructivo.
A historia de Cromwell comprehende poucos annos, e por isso seu caracter é mais difficil de bem se penetrar. Entrado no theatro politico em uma época já adiantada da sua vida, que foi pouco duradoura, apresenta talentos desenvolvidos, que parece só esperavam pela occasião de se mostrar. Póde acreditar-se, que elle mesmo os ignorava, e que foi preciso uma guerra civil para lh'os fazer conhecer."
(Excerto do Livro Primeiro - Argumento - Nascimento de Cromwell)
Abel-François Villemain (Paris, 1790 - Paris, 1870). "Foi um político e escritor francês, notável professor da Sorbonne, da Escola Normal Superior, e Ministro da Educação de 1839 a 1845."
(Fonte: wikipédia)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Sólido, com miolo limpo. Pastas desgastadas, com tira de fita na pasta posterior; lombada apresenta falha de pele na extremidade superior.
Raro.
Com interesse histórico.
20€

23 dezembro, 2021

MARQUES, José Albano B. - MANUAL DE GASTRONOMIA E CULINÁRIA PROFISSIONAL.
Um guia prático e útil, para Directores, Chefes de Mesa, Cozinheiros, Profissionais de Restaurante, Gastrónomos, etc. Cerca de 8.000 receitas, classificadas e alfabetadas, em Português e Francês. Muitos conselhos e sugestões, Cozinha típica internacional. Ementas - O serviço de Mesa - Como Trinchar - Vinhos e bebidas - Vocabulário em 6 idiomas
. Lisboa, [s.n. - Tip. da E. N. P. (Secção Anuário Comercial de Portugal)], 1961. In-8.º (19 cm) de 729, [31] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante tratado de gastronomia. Muito completo e apreciado, concebido por autor nacional, é dirigido a todos os amantes da arte de cozinhar, - profissionais do ramo, ou curiosos e simples amadores -, tratando-se, indubitavelmente, de um dos mais importantes manuais contemporâneos que sobre o assunto se publicaram entre nós.
"A Arte Culinária é uma das mais sublimes, sendo a única talvez, que tem a força imensa de fazer amigos.
Enquanto em todas as épocas, houve artistas perseguidos ou maltratados, não consta ter havido algum bom cozinheiro que não gozasse de reputação, ou não tivesse amigos na Corte, muitas vezes até, na própria pessoa do Rei. [...]
Para uma boa cozinha, é necessário dispor de bons utensílios, de bons géneros, de muitos conhecimentos técnicos, e de tempo.
Por esta última razão, é aconselhável aos Chefes de Mesa e Empregados de Restaurante, nunca insistirem neste ponto, nas suas relações com a cozinha, nem deixarem ao cliente uma ideia errada sobre o tempo de preparação. Isso depende de muitos factores, e um prato que hoje demorou 20 minutos, pode àmanhã requerer 30 para a sua confecção."
(Excerto da Introdução)
Encadernação em tela com ferros gravados a seco e a ouro na pasta anterior e na lombada. Conserva a sobrecapa de protecção que raramente acompanha o livro.
Exemplar em bom estado de conservação. Sobrecapa apresenta pequeno rasgão (sem falha de papel) na margem superior.
Muito invulgar.
45€

22 dezembro, 2021

BREYNER, Antonio de Mello - CONSIDERAÇÕES HISTORICAS SOBRE A UTILIDADE DAS PRAÇAS DE GUERRA E SUA APPLICAÇÃO Á DEFEZA DE LISBOA. Offerecidas á Academia Real as Sciencias de Lisboa por... Lisboa, Typographia da Academia, 1854. In-4.º (28x22,5 cm) de [2], 7, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Opúsculo com relevância histórica, militar e estratégica, e indubitável interesse olisiponense.
"O estudo Considerações Historicas sobre a Utilidade das Praças de Guerra e sua Aplicação às Defesas de Lisboa reveste-se de particular importância porquanto demonstra que muitas cidades sitiadas não foram cidades conquistadas. O autor, Coronel de Engenharia e futuro General de Divisão António de Mello Breyner tendo por base este princípio, defende que Lisboa deveria ser fortificada convenientemente, pois apesar de ter à sua volta diversos pontos que poderiam retardar o avanço de forças invasoras, encontra-se demasiado exposta por mar e por terra e refere os pontos de melhor acesso e desembarque de grandes esquadras."

(Fonte: https://www.revistamilitar.pt/artigo/140)
"Ainda que as praças de guerra não são hoje consideradas de tanta importancia, geralmente fallando, como erão noutr'ora, e por essa razão não são os sitios mais ou menos rigorosos, que trazem os resultados finaes d'uma campanha, e só sim em batalhas campaes, e os movimentos dos exercitos, não se deve todavia concluir, que nós não queremos praças, e que não reconhecemos importancia em algumas d'ellas, antes, pelo contrario, as consideramos muito, e quizeramos por isso, que ellas estivessem bem reparadas, fortificadas e abastecidas convenientemente, por isso que conhecemos o auxilio, que podem fornecer ao exercito na defesa do paiz."
(Excerto do Estudo)
António de Mello Breyner (1813-1886). Militar e estratega português. Publicou, para além do presente estudo, um importante e histórico trabalho: Relatorio sobre o Campo de Instrucção e Manobra que teve logar na Charneca de Tancos no mez de Outubro de 1866 (1868)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
20€

21 dezembro, 2021

LOUÇÃO, Paulo Alexandre & GONÇALVES, Severina & VICENTE, António - A MAGIA DAS ALDEIAS DE MONTANHA.
À descoberta dos segredos da Serra da Estrela
. Lisboa, Ésquilo, 2013. In-8.º (21 cm) de 207, [1] p. ; mto il. ; B.
Bonita monografia sobre a Serra da Estrela e de algumas aldeias emblemáticas que integram o conjunto montanhoso.
Livro muitíssimo ilustrado com excelentes fotografias a cores.
"Esta edição é uma verdadeira viagem pelas aldeias de montanha da Serra da Estrela, debruça-se mais detalhadamente pela sua vertente sul (Seia), destacando a memória, as tradições e imaginário e ainda os espaços/ locais a visitar em nove dessas aldeias. Algumas delas são conhecidas de muitos portugueses como é o caso de Sabugueiro e Loriga. Outras verdadeiras surpresas que unem a beleza da paisagem natural com a riqueza cultural de comunidades vivas. Trata também, na sua primeira parte, a Serra da Estrela como um todo vivo e orgânico, nas suas dimensões: Elementos, Saúde, Tradição, Renovação, Espaço, Lusitanos e Axis."
(Fonte: wook)
Índice:
Prefácio por Gonçalo Ribeiro Telles. | Prólogo. | Elementos. | Saúde. | Tradição.| Renovação. | Espaço. | Lusitanos. | Axis. | Aldeias de montanha: Vide; Teixeira; Alvoco da Serra; Cabeça; Loriga; Sazes da Beira; Valezim; Lapa dos Dinheiros; Sabugueiro. | Epílogo. | Agradecimentos. | Bibliografia. | Créditos das fotografias.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Esgotado.
10€

20 dezembro, 2021

FIGUEIREDO, Fidelino de Sousa - OS AMORES DO VISCONDE
. Lisboa, [s.n. - Typ. da Cooperativa Militar - Lisboa], 1906. In-8.º (19,5 cm) de [2], 58, V, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Novela-ensaio sobre o casamento por conveniência, expediente em voga na época em que foi escrita. A instâncias dos pais, Analia - moça formosa de 18 anos - pondera casar com o Visconde - ilustre aristocrata 40 anos mais velho -, detentor de fortuna e brazão. Obra satírica, plena de ironia, trata-se de um dos primeiros livros do autor, menor de idade quando o terminou (contava apenas 17 anos de idade), e que mais tarde assinaria os seus escritos apenas como "Fidelino de Figueiredo". Rara e muito interessante, não consta de algumas bio-bibliografias mais "sérias" do autor.
"Muito lépido - tão lépido quanto lh'o permitiam os seus sessenta anos bem gozados - o visconde levantou-se logo que uma cabaça muito penteada e lustrosa se coou pela porta do quarto e lhe advertiu muito discretamente.
- São sete horas, sr. visconde. - e a porta cerrou-se sem ruido.
Embrulhando-se no seu robe-de-chambre, que ainda deixava aparecer umas pernas delicadas e umas meias negras bordadas a seda com a sua corôa, o visconde abriu a janéla, sorveu um longo austo a brisa matutina, fitou o arrebol que começava colorindo o horizonte, e exclamou:
- Que béla manhã! - e logo acrescentou, sentido percorrer-lhe os membros um friozito penetrante que o arripiava: - Um pouco fria.... um pouco fria!
Já a Peninha se destacava sobre o criz como uma mancha negra, os passaros cruzavam-se nos ares e do lado de S. Pedro as estrelas iam fugindo. Das chaminés subia um vaporzinho azulado; raros passos de madrugadores, todos encolhidos nas golas levantadas, rangiam sobre a areia; e em baixo no pateo o moço do hotel esforçava-se por fazer entrar pela estreita porta um amplo cesto, transbordando de hortaliças.
- Um pouco fria! - continuava monolugando e afundando as mãos nas algibeiras. - Um pouco fria!... Em Janeiro, em Cintra, longe do conforto do meu palacête da rua da Paz, sem as torradas da Zeferina! - batendo os pés para os aquecer - Em Janeiro! Quanto póde o amor!"
(Excerto do Cap. I)
Fidelino de Figueiredo (Lisboa, 1888-1967). Foi professor, historiador, hispanista, crítico literário, intelectual e filósofo. Deixou uma vastíssima obra, nos campos dos Estudos Literários, da Crítica Literária e do Ensaio, da História e da Literatura Comparada e da Teoria Literária e a Literatura Portuguesa (de onde podemos destacar os seus estudos dedicados à épica camoniana). Contribuiu fortemente para a modernização teórico-metodológica destas disciplinas. Foi pioneiro na nova área da Literatura Comparada em Portugal. No campo filosófico dedicou-se a uma consistente reflexão ensaística de cariz filosófico e existencial, mais desenvolvida no final da sua vida."
(Fonte: http://fabricadesites.fcsh.unl.pt/ghispanicas/2019/05/08/fidelino-de-figueiredo/)
Exemplar em brochura, bem conservado. Capas ligeiramente oxidadas.
Ex-libris de Albuquerque Schmidt colado no verso da folha de guarda anterior.
Raro.
30€

19 dezembro, 2021

AMADO, Padre José de Sousa - A NECESSIDADE DA CONFISSÃO. Para a felicidade d'este, e do outro mundo.
Pelo... Segunda edição. Approvada pelo Ex.mo Snr. D. Antonio, Bispo do Porto
. Porto, Livraria Catholica Portuense, 1905, In-8.º (13,5 cm) de 31, [1] p. ; B.
Interessante opúsculo sobre a Confissão e seu contexto histórico.
"Comecemos por fazer menção de alguns philosophos impios, que tendo abafado no intimo do coração muitas verdades catholicas, que na infancia aprenderam, para se darem ás theorias de funestos desvarios, e á pratica de erros os mais vergonhosos; no ultimo quartel da vida se recordaram do primeiro ensino, e acabaram por se converter sinceramente."
(Excerto do Cap. I)
"A tradição ácerca do Sacramento da Confissão, é tão clara, e tão constante, durante os primeiros seculos da Egreja, que os hereges protestantes não se atrevem a negal-a, com quanto ainda hoje regeitem na pratica este dogma consolador."
(Excerto do Cap. II)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Indisponível

17 dezembro, 2021

MOURA, Alberto Alexandre Gomes de - HYSTERIA E DEGENERESCENCIA (suas relações).
These inaugural apresentada á Escola Medico-Cirurgica da Porto. Por... Alumno do Hospital de Santo Antonio
. Porto, Typ. a Vapor da Real Officina de S. José, 1900. In-4.º (24 cm) de 104, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante trabalho sobre psiquiatria, quando esta disciplina, lentamente, dava os primeiros passos entre nós. Obra enriquecida com casos clínicos registados em Portugal e no estrangeiro, alguns do conhecimento do autor.
"A hysteria é uma nevrose, commum a todas as profissões e a todos os paizes, desenvolvendo-se, quasi que com egual frequencia, no homem e na mulher.
Segundo observações de vários auctores, como Beau, Lucas-Champiomère, Ballet, Landouzy, Robinovitch, d'entre as mulheres, a hysteria ataca de preferencia as das classes mais elevadas, emquanto que, d'entre os homens, attinge principalmente os das classes mais baixas e mais sujeitas a privações.
Frequentissima como esta afecção é, ella mostra-se-nos sob as formas mais variadas que imaginar-se possam. Simplesmente associada, umas vezes, a numerosas doenças, velada, outras, por ellas, predominando ainda frequentemente sobre muitos estados pathologieos, é, muitas vezes, necessaria toda a pericia do medico para a sua diagnose.
A hysteria, a grande simuladora, como lhe chamou Charcot, tem os seus prodromos. Os individuos tarados, homens ou mulheres, creanças ou adultos, sob qualquer influencia conhecida, ou sem motivo plausivel, mudam rapidamente de caracter, tornam-se tristes, e procuram a solidão. Choram ou riem sem motivo, queixam-se de sufocações, e vêem frequentemente o seu somno, até ahi tranquillo, ser perturbado por visões estranhas de animaes."
(Excerto de Descripção [da histeria])
"A degenerescencia não é mais que uma tendencia, maior ou menor, que certos individuos apresentam para a regressão. [...]
O typo normal não existe. Todos os seres, influenciados pelo meio, caminham para a adaptação. Que ella se não faça, que a evolução pare n'um individuo, - e este individuo será um degenerado.
Etiologia. - Como causa principal da degenerescencia, encontramos nós a hereditariedade regendo todos os estados degenerativos.
(Excerto de Degenerescencia - Etiologia)
"Os indivíduos attingidos de degenerescencia, apresentam signaes particulares, ou estigmas, que podem ser de duas espécies: physicos e psychicos.
É intuitivo que estes estigmas não são egualmente desenvolvidos em todos os indivIduos. Bem descriptos por MoreL e Legrand du Saulle, os estigmas physicos deixam quasi de ser perceptiveis, posto que alguns existam, nos degenerados superiores. (Magnan).
Estes estigmas são, principalmente, apanagio dos degenerados inferiores.
Emquanto aos estigmas psychicos, não são também os mesmos em todos os degenerados, e a existência d'estes sêres, tem, debaixo do ponto de vista psychico, um cunho especial.
Uns nascem idiotas, outros veem com as melhores apparencias, e, a um dado momento, o seu desenvolvimento é como que suspenso, e elles cahem na imbecilidade; finalmente, outros, podem attingir um consideravel desenvolvimento intellectual.
Apezar d'isso, porém, a sua existência, debaixo do ponto de vista moral, é completamente desiquilibrada. 
Um degenerado póde tornar-se um grande sabio, um artista distincto, um habil administrador; mas, ao mesmo tempo, elle manifestará profundas faltas d'ordem moral, excentricidades e irregularidades nos seus actos, e tanto empregará as suas brilhantes faculdades para servir uma grande causa, como para satisfazer os peiores vicios."
(Excerto de Symptomas da degenerescencia)
Matérias:
Hysteria: - Historia; - Hysteria no seculo XVII; - Hysteria no seculo XVIII; Descripção [da Histeria]; - Etiologia; - Agentes provocadores; - Estigmas; - Anesthesias sensoriaes; - Estigmas puramente psychicos; - Accidentes histericos. | Degenerescencia: - Etiologia; - Symptomas de degenerescencia; - Syndromas episodicos; - Impulsividade morbida; - Intellectualidade morbida; - Emotividade morbida; - Psycopathias sexuaes. | Hereditariedade na hysteria. | Hereditariedade na degenerescencia. | Alterações do mechanismo mental na degenerescência e na hysteria. | Proposições.
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Raro.
35€

16 dezembro, 2021

HENRIQUES, Balthasar - ÁVANTE : episodio dramático em verso e prosa com dois quadros
. Mafra, Tipografia Liberty, 1916. In-8.º (21,5 cm) de 16 p. ; B.
1.ª edição.
Curiosa peça de teatro em verso sobre o tema da Grande Guerra, dedicada à Cruz Vermelha Portuguesa, interpretada por sete senhoras, nos papeis da: Bélgica; Morte e depois Alemanha; França; Inglaterra; Itália; Portugal; Cruz Vermelha.
"Primeira representação na noite de 10 de abril de 1916, no Teatro do Grémio Mafrense, em recita a favor da Sociedade Portuguêsa da Cruz Vermelha, para que foi escrita expressamente."

Livrinho valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.

"Ávante!
Da terra intumecida irrompe a vida
Na fôrça máter duma seiva quente,
E á pobre haste á terra já pendida
Um beijo cai do novo Sol nascente!
Em florões de sorrisos desabrocha
A epopeia do fecundo amôr:
Palpita a vida até na própria rocha,
Soam hinos, hossanas de labor,
Enfeita-se d'amor a natureza!
E num canto de virgem adorada,
Esparge pelo mundo a madrugada,
Em mil jorros de vida e de beleza.
E vós, nações armadas e blindadas,
Cheias de aço e de ferro, preparadas
Para a guerra feroz, olhais a vida,
 - Um campo em flôr, uma canção sentida, -
Como cousa sem brilho e sem valor!
Para vós é a guerra, o exterminio,
O sonho da vitória, e do dominio!
O campo, as oficinas, as aldeias
- A Natureza pura da verdade -
Sejam as covas negras de alcateias
Qu'esperam ordens p'rá ferocidade!
Sim!... caminhai. Seguis para a Vitória.
Mas comvosco eu hei-de ir. A vosso lado,
Meu dever cumprirei. Não é matar!...
Outra é minha missão. Não se assemelha
Á vossa."

(Excerto da Scena VII - Todas e a Cruz Vermelha)

Exemplar brochado, preso por atilhos, em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse para a bibliografia WW1.
Sem registo na Biblioteca Nacional (BNP).
Indisponível

15 dezembro, 2021

BASTOS, Teixeira - A FAMILIA.
Por... Estudos de Sociologia
. Porto, Livraria Universal de Magalhães & Moniz, Editores, 1884. In-8.º (18,5 cm) de 218, [6] p. ; E.
1.ª edição.
Estudo pioneiro. Importante ensaio sociológico sobre a Família elaborado no primeiro período evolutivo desta disciplina em Portugal. Raro e muito interessante.
"Que a familia é a cellula organica das sociedades, demonstram-o, além de outras muitas considerações, algumas de ordem puramente biologica, porque para se fazer uma idéa completa das relações sociaes convém estudal-as desde a sua origem. O instincto da conservação individual preside aos actos que têm uma relação mais ou menos directa com a prolongação da vida pessoal na lucta permanente com o meio, tanto cosmico, como social. Geralmente aos actos de perpetuação da especie presidem os instinctos sexual e maternal, que procuram resguardar, defender e crear a prole, com tanto mais diligencia e cuidado, quanto maiores são os obstaculos materiaes que encontram no seu meio, ou quanto menor é o numero dos descendentes."
(Excerto da Introducção)
"Como cellula organicada sociedade, a familia é a fonte de todas as eergias intellectuaes, moraes e sociaes, que se conservam e transmittem pela hereditariedade, que se desenvolvem pela educação e instrucção, e emfim que se propagam e multiplicam nas relações mutuas de individuo para individuo e nos conflictos permanentes da existencia. Sendo a fórma mais elementar da associação, e ao mesmo tempo a mais espontanea, a familia representa a primeira manifestação d'essa complexa ordem de phenomenos que obedecem não só ás leis cosmologicas e biologicas, mas ainda a uma terceira especie de leis, puramente sociologicas e moraes. É, portanto, um elemento social, quer como base da organisação politica, quer como gerador da sociedade futura. A sua missão consiste em arrancar o individuo do sentimento egoista da personalidade para o elevar pouco a pouco á sociabilidade pelo desenvolvimento dos instinctos altruistas. Na realidade a familia, tirando as suas raizes dos instinctos egoistas da sexualidade e da maternidade, aperfeiçoa-se gradualmente pelas relações especiaes a que dá origem; a protecção maternal e paternal, a obediencia, a submissão e a veneração dos filhos, as affeições fraternaes, o respeito, o amor, a amizade são sentimentos que brotaram espontanea e successivamente da vida domestica, á medida que o homem se afastava da primitiva animalidade para entrar no caminho da civilisação. A familia serviu de intermediaria entre o egoismo e o altruismo."
(Excerto do Cap. I - Concepção geral da familia)
Indice:
Introducção. | I - Concepção geral da familia. II - Instituição da familia. III - Perpetuação da familia. IV - A familia no presente. V - A familia no futuro.
Francisco José Teixeira Bastos (1856-1901). "Natural de Lisboa, foi poeta, ensaísta e jornalista e um dos principais divulgadores do positivismo de Augusto Comte em Portugal. Frequentou o Curso Superior de Letras, onde foi aluno de Teófilo Braga, que influenciou a sua obra ensaística e sua concepção de poesia filosófica visando o progresso da humanidade - expressa em Rumores Vulcânicos (1875) ou em Vibrações do Século (1882). Em Princípios de Filosofia Positiva (1883) resume o Cours de Philosophie Positive daquele filósofo francês. Foi colaborador de vários jornais e revistas, como «O Século», «Renascença» (1878-1897), «O Pantheon» (1880-1881), «Galeria Republicana» (1882-1883) ou o «Diário Mercantil» de S. Paulo (Brasil). Dirigiu a «Era Nova» (1880-1881), a «Revista de Estudos Livres» (1883-1886) e, com Teófilo Braga, fundou «O Positivismo». Foi ainda sócio fundador da Associação de Jornalistas de Lisboa e membro da Academia das Ciências de Lisboa."
(Fonte: https://acpc.bnportugal.gov.pt/colecoes_autores/n109_bastos_teixeira.html)
Encadernação simples inteira de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Páginas manchadas na última parte do livro.
Raro.
Com interesse histórico e sociológico.
Indisponível

14 dezembro, 2021

A ROTA DO MÁRMORE DO ANTICLINAL DE ESTREMOZ. Coordenação, investigação e textos: Alfredo Tinoco; Carlos Filipe; Ricardo Hipólito. [Prefácio: Prof. Jorge Custódio]. Lisboa, Centro de Estudos de História Contemporânea, Instituto Universitário de Lisboa, 2014. In-4.º (24 cm) de 71, [1], [72] p. ; il. , B.
1.ª edição.
Importante estudo cultural e turístico, e histórico e geológico, sobre o Anticlinal de Estremoz.
Livro ilustrado a p.b. e a cores com fotografias, tabelas, desenhos, plantas e mapas.
Tiragem: 500 exemplares.
"A obra que agora se publica integra as três partes constituintes do referido projecto, antecedidas de uma introdução. A primeira parte consta de um pequeno estudo sobre as relações entre património cultural, turismo e desenvolvimento, essencial para a compreensão do significado das rotas turísticas. Segue-se um capítulo sobre a história e geologia do Anticlinal de Estremoz e da sua localização geológica e geográfica, onde se atende ao papel histórico que desempenhou na sub-região alentejana, quer do ponto de vista da extracção do mármore, como da sua exploração oficinal e industrial, como ainda do seu consumo histórico enquanto material de construção utilizado na arquitectura monumental e artística e de uso doméstico. Finalmente, uma terceira parte contém a própria Rota do Mármore proposta para os principais concelhos da sub-região."
(Excerto do Prefácio)
"O presente estudo teve como principal objectivo a criação de um roteiro turístico e a valorização do seu recurso endógeno - o mármore -, enquanto elemento identitário da Zona dos Mármores (concelhos de Alandroal, Borba, Estremoz, Sousel e Vila Viçosa) e enquanto principal elemento dinamizador da economia local.
Recurso natural de excelência, os mármores alentejanos são aqueles que mais se destacam no contexto nacional, conseguindo ombrear com os melhores mármores do mundo, conquistando, assim, prestígio e popularidade assinalável.
Do ponto de vista turístico, a região dispõe de um património digno de registo e a Rota do Mármore do Anticlinal de Estremoz tem uma vertente marcadamente de roteiro industrial. Embora a temática do turismo industrial seja cada vez mais um produto apetecível, o projecto que desenvolvemos não se limita a abordar o lado industrial do sector sob pena de este se esgotar rapidamente, correndo o risco de se tornar um produto pouco atractivo e pouco apetecível, exceptuando, talvez, o interesse de um público especializado. [...]
Embora tratando-se de um trabalho académico, o leitor é convidado a percorrer e descrição de algum do património existente numa sub-região bem identificada culturalmente, procurando enriquecer o seu conhecimento e o debate de ideias."
(Excerto da apresentação)
Índice:
Prefácio. Agradecimentos. Introdução. I - Património, Turismo e Desenvolvimento. II - História e Geologia. III - Rota do Mármore do Anticlinal de Estremoz. Bibliografia e webgrafia. Cartografia. Anexos.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Esgotado.
Com interesse histórico e regional.
15€

13 dezembro, 2021

ÀS JOVENS MÃIS. Paris, Sociedade dos Produtos do Milho [Maizena], [193-]. In-8.º (18 cm) de 35, [1] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Muito ilustrada com desenhos e excelentes fotogravuras em página inteira.
Raro livrinho dirigido à mães com conselhos de puericultura. Trata-se de um esplêndido exemplo de propaganda comercial, obra subsidiada pela Maizena, e produzida pela Draeger (Paris), importante impressora francesa e pioneira no ramo da publicidade, famosa por, durante décadas, ter executado obras primas da edição francesa e alguns dos mais belos e conseguidos catálogos de conhecidas marcas.
"A mais elevada e mais sagrada missão da mulher é gerar os seus filhos e criá-los bem. Mas a ternura maternal nem sempre atinge êsse fim. Quantas crianças adoecem, por vezes gravemente, devido à falta de tratamento inteligente!
É perfeitamente compreensível a atrapalhação duma jovem mãi em presença do seu primeiro filho. Êste apresenta a cada instante reacções que ela desconhece; na sua terna solicitude a mãi imagina logo que o seu filho está doente: daí, quantas intervenções desastradas da parte dela e das pessoas que a rodeiam!"
(Excerto da introdução)
"Chama-se desmamar o separar a criança do peito. Esta mudança deve fazer-se normalmente aos 16 meses. Mas antes disso há um período transitório.
Preparação da criança para o desmame.
Assim que a criança atinja os 7 meses, poderemos começar a dar-lhe qualquer coisa além do leite. Substituímos uma mamada por farinha láctea preparada com água (3 colheres de café de farinha láctea, 170 gramas de água, cozedura 10 minutos), ou por uma papa de Maizena.
A Maizena é um produto de primeira ordem, que convém especialmente à criança de mama, e dada a sua composição, poderá ser o seu primeiro alimento depois do leite."
(Excerto de, O desmame; A Maizena)
Quanto à farinha Maizena, deixamos uma breve sinopse da sua história: "A farinha de amido de milho MAIZENA nasceu nos Estados Unidos no distante ano de 1856, uma criação dos irmãos Duryea. A empresa dos irmãos, a Corve Stach Manufacturing inicialmente vendia farinha fina de milho mas de uma forma a granel pelo que a Maizena surgiu devidamente embalada de modo a oferecer melhores condições de higiene e depressa se tornou num produto comercial com muita popularidade. A Maizena chegou a Portugal quase meio século depois, em 1905 e desde então tem-se mantido num produto muito popular, com diversas utilizações. Inicialmente e durante várias décadas foi até utilizado como produto adequado para engomar vestuário mas sobretudo na confecção de papas para bébés."

(Fonte: hiperdescontosepromocoes.com)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Sem registo na BNP.
15€