13 dezembro, 2018

DELDUQUE, Capitão Adelino - NOTAS DO CAPTIVEIRO. (Memórias d'um prisioneiro de guerra na Alemanha). Lisboa, Depositário J. Rodrigues & C.ª, 1919. In-8.º (18,5cm) de 103, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Diário do autor - prisioneiro de guerra - escrito ao longo do seu período de cativeiro na Alemanha. Trata-se de um dos mais importantes documentos da WW1 que se publicaram sobre o dia a dia - os maus tratos e privações sofridos pelos prisioneiros portugueses nos campos alemães.
"O primeiro grupo de inimigos que chegou até nós, comandado por um graduado inferior, devia constituir uma patrulha de flanco da coluna que avançava pela rua du Bois.
É ele que nos faz prisioneiros, mas a nossa qualidade de oficiaes exigia que só a um oficial nos entregassemos.
A linguagem dos gestos que é universal, mais do que os rudimentares conhecimentos de alemão da nossa parte, de francez da parte do inimigo, fez perceber a nossa reclamação. Durante pois mais de um quarto de hora, de meia hora talvez, sob os ultimos rebentamentos da barragem que agora se alonga, aguardamos a chegada dum oficial.
O captiveiro tinha começado para nós e só a muito custo um ou outro poude conseguir que o deixassem ir procurar quásquer artigos de toilette, qualquer pequena coisa d'essas tantas que tanta falta nos vão fazer.
Os nossos captores não nos tratam mal, antes quasi tomam uma atitude até certo ponto afavel e bastante egualitária nesta situação em tudo desigual, de oficiaes e de soldados, de vencedores e de vencidos. [...]
No entanto chegava o oficial que solicitáramos.
Saudou-nos militarmente, recebeu de nós as nossas armas, transmitiu aos soldados quasquer instruções e com um gesto indicou-nos que nos puzessemos em marcha.
Havia em nós ainda qualquer coisa do atordoamento, do cansaço de nove horas d'um intenso e desconhecido bombardeamento, d'essa qualquer coisa que abrira, que escancarára deante de nós as portas da morte que só o Destino ou a Providência nos livraram de transpôr. A tudo isto juntáva-se agora o sofrimento moral de vencidos. [...]
Alguns metros andados, talvez nem duas centenas, transpostos drenos e arames, contornadas as não sei quantas crateras em que o chão se abria quasi de metro a metro, chegámos até junto d'uma outra fracção inimiga que nos desapossa dos cintos que usavamos."
(Excerto de De Cense de Raux a Salomé la Bassée)
Índice:
- De Cense de Raux a Salomé la Bassée. - De Salomé la Bassée a Carvin. - De Carvin a Lille. - Dois dias de Lille. - Para onde? - Do «Russenlager» á estação de Rastatt. - De Rastatt a Francfort. - De Francfort ao Hannover. - De Hannover ao Campo de Breessen. - Mais Horrores da fome. - Não ha mal que dure sempre. - Abandonados! - A primeira chegada de encomendas. - Arrelias do sr. Mota. - Dos preliminares do armisticio á sua conclusão. - Uma apreciação insuspeita. - Como passamos o tempo. - Como eu sahi da Alemanha.
Adelino Delduque da Costa OC • CvA • OA • ComA • GOA • OSE (Viana do Castelo, 1889 - Lisboa, 1953). "Foi um militar, administrador colonial e escritor português, Coronel de Infantaria do Exército Português, membro do Corpo Expedicionário Português, Chefe do Estado-Maior da Índia Portuguesa e Governador do Distrito de Damão. Nasceu na rua de São Sebastião de Viana do Castelo, atual rua Manuel Espregueira, no seio de uma das famílias mais proeminentes da cidade. Estudou no Real Colégio Militar e na Escola Politécnica de Lisboa, e completou o curso de Infantaria na Escola do Exército. Prestou serviço como alferes na Guarda Republicana e fez parte do Estado-Maior da 5.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial como tenente do Batalhão de Infantaria nº 10. Foi louvado em ordem de serviço em campanha e combateu na Batalha de La Lys, sendo feito prisioneiro pelas tropas alemãs a 9 de abril de 1918. Durante oito meses e meio de cativeiro, escreveu sob forma de diário entre os campos de Rastatt e Breesen as suas Notas do cativeiro, um dos mais vivos relatos dos acontecimentos que seguiram a derrota portuguesa, assim como das precárias condições em que houveram de sobreviver os oficiais portugueses aprisionados na Alemanha. Finalmente, desembarcou em Lisboa a 17 de janeiro de 1919."
(Fonte: wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Assinatura de posse na f. rosto. Lombada com falhas de papel.
Muito raro.
Com interesse histórico e militar.
Indisponível

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