23 outubro, 2024

VIANA, Mário Gonçalves -
AS CAVALHADAS EM PORTUGAL E NO BRASIL.
Ensaio de história comparada. Lisboa, [s.n. - Composto e impresso nas Oficinas Gráficas de Ramos, Afonso & Moita, Lda. - Lisboa], 1973. In-4.º (26x19 cm) de 38 p. ; B.
1.ª edição independente.
Separata do «Boletim Cultural» da Junta Distrital de Lisboa : Série III - N.ºs 75-78 - 1971/72.
Curioso ensaio histórico sobre as "cavalhadas", manifestações teatrais, normalmente inseridas em festas populares, que recreavam justas e torneios medievais, com uma ou outra deriva, dependendo do tempo e local onde eram (são) realizadas.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao Prof. Vergílio Fernandes da Silva Lemos.
"A Cavalaria, pletórica de vitalidade, procurava adaptar-se às condições sociais que iam surgindo com os novos tempos.
Teve, entretanto, fases típicas, que importa revocar:
- Época heróica: Carlos Magno;
- Época galante: Távola Redonda;
- Época artificial: Quixote de la Mancha.
Chegou, porém, o tempo que a Cavalaria se tornou uma instituição sem missão específica a cumprir, e, portanto, anacrónica.
Tantas e tão gloriosas eram as suas tradições, nas altas e nas baixas esferas, que ela não aceitou desaparecer; procurou, desesperadamente, sobreviver às novas e, para ela, adversas circunstâncias. [...]
A Cavalaria, querendo sobreviver à hora própria, evoluiu no sentido da degeneração e da democratização. [...]
Nas sociedades sadias, são os indivíduos das classes populares que procuram imitar os indivíduos das classes privilegiadas; nas sociedades doentes e corrompidas, o fenómeno é inverso.
Por isso, à medida que o povo, mercê do trabalho e da economia, enriquecia, começou, naturalmente, a tentar imitar os jogos e as diversões dos nobres.
Mas com o nem sempre os novos-ricos sabem copiar fielmente os modelos que procuram reproduzir, surgiram como bem se compreenderá, várias versões mais ou menos afastadas dos antigos e admirados torneios de Cavalaria toda poderosa. Estas versões foram, essencialmente, o resultado de três tipos de imitação:
- Imitação séria;
- Imitação joco-séria;
- Imitação burlesca.
A imitação séria foi, sem dúvida, a menos frequente, e por motivos vários: falta de meios económicos, falta de tempo, falta de exercitação física, falta de agilidade, falta de coragem, falta de inteligência, falta de capacidade organizadora, etc.
Nenhuma actividade aristocrática, complexa, longamente preparada, pode improvisar-se ao mesmo nível da actividade originária.
Além disso, o povo tende, de modo instintivo, a diminuir ou ridicularizar (conscientemente ou inconscientemente) as acções das classes elevadas. E fá-lo por despeito ou por incapacidade para as compreender, isto é, por escassez de formação moral, social ou intelectual; por falta de intuição, de sensibilidade e de delicadeza."
(Excerto do Ensaio)
Mário Gonçalves Viana (Lisboa, 1900 - Esposende, 1977). "Pedagogo, escritor e crítico literário, atividade que exerceu no Jornal do Comércio e Colónias e no Polígrafo. Foi professor e formador de professores. Foi, igualmente, autor de uma obra vasta nas áreas da pedagogia, psicologia e biografia. Refletiu, abundantemente, sobre os valores da educação e sobre a deontologia docente. Fez os estudos secundários em Coimbra, tendo-se licenciado em Direito na Universidade de Lisboa em 1923. De 1927 a 1930, foi redactor principal do Jornal do Comércio e das Colónias, de que era também crítico literário. Entre 1934 e 1936, exerceu o cargo de conservador do Registo Civil de Manteigas, tendo depois seguido a carreira de professor do ensino secundário em vários estabelecimentos de Viana do Castelo, Esposende e Porto. Colaborou no jornal A Voz, de Lisboa, com uma secção regular de Sociologia Agrária, e foi cronista e crítico literário do Diário do Minho, de Braga. Tem ainda colaboração sobre educação física, pedagogia desportiva e psicologia, dispersa por jornais e revistas de Portugal, Brasil, Uruguai, Chile, Itália, França e Espanha."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa oxidada, manchada à cabeça.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e etnográfico.
25€

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