1.ª edição.
Capa assinada por Adriano de Sousa Lopes (1879-1944).
Memórias do autor - capitão-médico do CEP na Flandres -, sendo esta uma das mais notáveis obras coevas
publicadas sobre a Grande Guerra.
Livro ilustrado extra-texto com 35 fotogravuras e
desenhos.
Inclui um mapa desdobrável da região norte de França, onde operaram
as forças do Corpo Expedicionário Português.
Obra invulgar e muito apreciada.
"Este livro vem tarde.
A guerra e as prisões (a guerra sempre) não me deixaram fôrças
para fazê-lo antes.
A própria violência da guerra atingiu esta pequena obra na
sua primeira forma.
Durante as horas serenas ou terríveis da França eu o tinha
apontado com a pena e com o lápis, escrevendo e desenhando. Perderam-se êsses apontamentos
na batalha do Lys, ficando-me apenas alguns poucos que enviára para Portugal.
Foi com êles e com restos de cartas e recordações que eu reconstituí o perdido,
e rascunhei de novo as minhas memórias.
Direi apenas o que vi e ouvi. Sofri demais para poder
mentir. O sentido da verdade e a coragem de a dizer são as maiores conquistas
que esta guerra deu aos que nela mergulharam a fundo.
[…]
O que todos, todos puderam sentir nesta guerra foi a sua
infinita capacidade de misérias.
Muitos, em nome de altos princípios, deram-se com heroísmo
sereno às mais dolorosas provações. E alguns, quando colocados na contingencia
dos deveres terríveis, fôram sublimes. Tiveram nos dias cinzentos horas de
claridade divina.
Mas só assim, amassada com oiro e lama, a verdade é humana,
é inteira e grandiosa.
O homem, - o mais alto, só o foi, só o é em relação à sua e
à baixeza dos outros.
Êste livro vem tarde, mas inda vem a tempo.
[…]
Nem por isso a nossa guerra, como as outras, deixa de se
repassar em sofrimento e de epopeia. Para isso bastava a batalha do Lys e a
arrancada épica daqueles homens, que, vencendo a inércia e a descrença dos
grandes chefes, conseguem, através de tudo, marchar para a frente, onde se
ganhava a vitória.
Vem tarde êste livro, mas cêdo todavia para a visão inteira
e larga da nossa luta."
(Excerto do Prefácio)
Índice:
Prefácio | O génio do Povo | O Palácio na lama | Luta inglória | Em viagem |Baptismo de fogo | Os sete círculos da guerra | Ecce Homo!… | Três
dias, como tantos | Dezembro de 1917 | A terra fantasma | Gritos na noite |
O Esgalhado | O almôço do Pintor | Os que endoidecem | Os mortos | Um raid | Sôbre a arena | No abismo | A batalha
do Lys | Às grades | Últimos combates | O soldado da Grande Guerra | Post-sriptum.
Jaime Zuzarte Cortesão (1884-1960). Médico,
político, escritor e historiador português. "Formou-se em Medicina em
1909, depois de ter estudado em Coimbra, Porto e Lisboa. Foi professor no Porto
de 1911 a 1915. Tendo sido eleito deputado em 1915, defendeu a participação de
Portugal na Primeira Guerra Mundial onde participou como capitão-médico voluntário
do Corpo Expedicionário Português, tendo publicado as memórias dessa
experiência. Com Leonardo Coimbra e outros intelectuais, fundou em 1907 a
revista Nova Silva. Em 1910, com Teixeira de Pascoaes, colaborou na fundação da
revista A Águia, e em 1912 dá início à Renascença Portuguesa, que publicava o
boletim A Vida Portuguesa. Em 1921, separando-se da Renascença Portuguesa,
é um dos fundadores da revista Seara Nova. Em 1919 foi nomeado director
da Biblioteca Nacional, cargo que exerceu até 1927. Devido a ter participado
numa tentativa de derrube da ditadura militar foi demitido, exilou-se acabando
por viver em França, donde saiu em 1940, devido à invasão daquele país pelo
exército alemão. Foi para o Brasil, passando por Portugal, onde foi detido por
um curto espaço de tempo. No Brasil residiu no Rio de Janeiro, tornando-se
professor universitário, especializando-se na história dos descobrimentos
portugueses e na formação do Brasil. Em 1952, organizou a Exposição Histórica
de São Paulo, para comemorar o 4.º centenário da fundação da cidade. Regressou
a Portugal em 1957."
Encadernação meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
45€
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