CASTELLO-BRANCO, Camillo - AVENTURAS DE BAZILIO FERNANDES ENXERTADO. Lisboa, Livraria de Antonio Maria Pereira, 1863. In-8.º (17,5x11,5 cm) de 235, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original de uma das obras mais estimadas e engraçadas do mestre-prosador de S. Miguel de Seide. Trata-se estas "Aventuras..." de um romance de crítica social que espelha e satiriza os costumes da burguesia endinheirada do Porto na época.
"Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, publicado originalmente em 1863, centra-se nas peripécias de Basílio Fernandes, filho de um comerciante rico do Porto. A história é narrada por um amigo próximo de Basílio, que supostamente o defende e protege, mas a perspetiva do narrador sobre o protagonista nem sempre é clara, e o tom é muitas vezes irónico e jocoso, não deixando de expor situações pouco abonatórias em relação ao herói Basílio Fernandes, como o próprio narrador o qualifica. É esta dicotomia, enriquecida pelo estilo camiliano, que tornam as Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado , uma das mais importantes obras satíricas de Camilo Castelo Branco."
(Fonte: https://www.almedina.net/as-aventuras-de-bas-lio-fernandes-enxertado-1563993915.html)
"Bazilio Fernandes é um sujeito de trinta e sete annos, com senso-commum, engraçado a contar historias de sua vida, activo negociante de vinhos no Porto, amigo do seu amigo, e bastante dinheiroso - o que é melhor que tudo já dito e por dizer.
Seu pai chamou-lhe José Fernandes, por alcunha o Enxertado. Pegou-lhe a alcunha, por que, sendo elle natural de um aldeia d'aquelle nome em Tras-os-Montes, quando já era caixeiro, muitas vezes dizia aos seus companheiros de passeata, aos domingos: Ó Porto é boa terra; mas lá como o Enxertado ainda não puz os olhos n'outra!». A caixeirada, menos sensivel á saudade das suas aldeias, ria do moço, e, por mófa, lhe chamava o Enxertado, alcunha que elle ajuntou ao seu nome com honras de appellido.
Casou José Fernandes com Bonifacia Teixeira, filha do patrão, que negoceava em azeite, depois que enriquecera na sua mercearia do largo de S. Bento.
Bazilio foi o primogenito e unico. Nascêra muito gordo e extraordinariamente volumoso. Tinha a cabeça igual ao do restante corpo, e uns pés dignos pedestaes do capitel da irregular columna. Em quanto ao tamanho descommunal da cabeça, foi isto motivo para muitas alegrias em casa: no parecer d'aquella mãe ditosa, a grandeza da cabeça era signal de juizo, e o tamanho das orelhas correlativas signal de bom coração. O pai, como não tinha idéas suas ácerca de orelhas, abundava nas de sua mulher, posto que de via certa soubesse que um máu visinho da porta dissera que o seu Bazilio era aleijado, e sahiria com orelhas de burro, se se demorasse mais tres mezes no ventre materno.
A casa do mercieiro ia um frade carmelitano de optimos costumes, ainda parente transversal da senhora Bonifacia. Era opinião de frei Silvestre do Monte do Carmo que a volumosa cabeça do menino significava talento. Este prognostico abalava mediocremente os animos dos pais, que não sabiam o que era, nem o para que servia n'este mundo o talento."
(Excerto de I - Nasce o heroe. A cabeça e as espertezas do mesmo)
Indice:
I - Nasce o heroe. A cabeça e as espertezas do mesmo. II - As delicias portuenses do peixe-frito, antes da civilisação. Custodia banhada pela luz do seculo. Bonifacia sustenta as saudaveis doutrinas da estupidez. III - O heroe em mangas de camisa. IV - Afoga-se Bazilio, e desafoga-se milagrosamente. V - Basilio poeta. Conquista um tacho. O que lhe aconteceu na capoeira. VI - A paixão fatal do heroe. Memorias dos nossos dias. VII - O coração inimigo das pernas. VIII - Com commendas e bolos se enganam os tolos. IX - Bazilio entre as senhoras Raposeiras, e o mais que se disser.. X - Em que entra o author. XI - Vantagens do roubo contra os inconvenientes da predestinação, segundo Balzac. XII - Dois exemplos de amor paternal. XIII - Chora o heroe. XIV - Ama Bazilio uma prima-donna di-cartello do real thetro de S. João. XV - Que entrudo elle teve!... XVI - Castigos de leviandade. Capitulo de muita moral. XVII - A minha correspondencia com Bazilio Fernandes Enxertado. XVIII - O maior murro que ainda levaram queixos de homem. XIX - Lagrimas. Capitulo fastidioso. XX - A santa poesia da caridade. XXI - Como elles se amavam, sem affrontarem a moral publica. XXII - Que fim! XXIII - Conclusão.
Encadernação coeva meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Cansado. Lombada apresenta falha de papel na extremidade superior.
Raro.
85€
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