DANTAS, Julio - CRUCIFICADOS. Lisboa, Manoel Gomes, Editor, MDCCCCII [1902]. In-8.º (20x13 cm) de [8], 136 p. ; B.
1.ª edição.
Edição original desta obra "licenciosa" de Júlio Dantas - "Peça em 4 actos, representada pela primeira vez em janeiro de 1902, no Theatro D. Amelia", - que deu brado na época. Trata-se de um drama social onde, pela primeira vez, no teatro nacional, é abordado o tema da homosexualidade, circunstância que terá provocado alguma perplexidade e repugnância a importante franja do meio literário e social.
Peça rara e muito curiosa, seria republicada mais tarde, em 1914 (2.ª ed.) e na década de 20 (3.ª ed. refundida).
"Um interior modesto de solteirões, em pleno Bairro Alto. Casa velha da rua da Atalaya: rodapé baixinho de azulejos; sacada de taboinhas. Porta para a escada; silhar de tijolos; vê-se o corrimão, descendo. Estante de livros; papeleira; cadeiras de sóla. O ar desaconchegado das casas onde não ha mulheres. Um sophá. Perto, uma mesa de trabalho: livros, papeis, grande castiçal, com pára-luz de seda côr de rosa."
(Primeiro Acto - sinopse)
Júlio Dantas (1876-1962). "Figura destacada da actividade social, política e cultural durante as seis primeiras décadas do século XX. O elevado número de cargos (Comissário do Governo junto do Teatro Nacional, Director e Professor da Secção Dramática do Conservatório Nacional, Inspector das Bibliotecas Eruditas e Arquivos) e funções políticas que desempenhou (Senador, Deputado em diferentes legislaturas, Ministro de várias pastas – Instrução Pública e Negócios Estrangeiros – em diversos Governos, Presidente do Partido Nacionalista, Membro da Comissão de Cooperação Intelectual da Sociedade das Nações) compete com o número de títulos que publicou em vários géneros literários: romance, conto, poesia, teatro, crónica, oratória, ensaio.
Os seus escritos revelam uma predilecção pelo século XVIII, tempo a que dedicou alguma veia ensaística em O Amor em Portugal no Século XVIII (1915) e onde se situa a acção de muitas das suas peças de teatro mais emblemáticas: A Severa, 1901; A Ceia dos Cardeais, 1902; Um Serão nas Laranjeiras, 1904; Sóror Mariana, 1915.
Em 1908, após concluir a licenciatura em Medicina, é admitido como sócio na Academia de Ciências de Lisboa, instituição que virá a presidir, a partir de 1922, durante décadas. Ao abandoná-la, invocou este exercício de cargos públicos cuja profusão acumulativa, aliada à sua ligação à Academia - que incorporava tudo o que «os novos» desprezavam - fizeram dele um alvo privilegiado dos ataques de renovadores e vanguardistas.
De facto, o seu academismo literário encontra-se bem patente na formalização dos seus escritos; a Ceia dos Cardeais (1902), por exemplo, um dos seus maiores sucessos nacionais e internacionais (conta com mais de 50 edições, e foi traduzida para mais de uma dezena de línguas), foi composta em alexandrinos emparelhados. A maioria do seu teatro revela alicerces românticos, sobretudo na temática de cariz histórico e da mitologia nacional, com a idealização da história pátria como pano de fundo de uma idealização do amor, de pendor saudosista, não deixando de imprimir um cunho fortemente anticlerical (Santa Inquisição, de 1910), vacilando entre o sentimentalismo romântico, o grotesco e a sátira. Não é avesso, porém, a experimentar correntes novas, como o realismo/naturalismo decadentista de Crucificados (1902), com aspirações a drama social, que pretende retratar uma actualidade degenerada, causa e vítima de promiscuidade e doença."
(Fonte: https://modernismo.pt/index.php/j/206-julio-dantas-1876-1962)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Lombada reforçada com fita gomada.
Raro.
Indisponível
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