19 janeiro, 2024

RIO, João do
(Paulo Barreto) -
AS RELIGIÕES DO RIO. Rio-de-Janeiro : Paris, H. Garnier, Livreiro-Editor, 1906. In-8.º (18,5x12 cm) de [10], 245, [1] p. ; 24, [2] p. Cat. Liv. Garnier ; B.
Trabalho pioneiro. Importante contributo para o estudo da feitiçaria, satanismo, do sobrenatural e das seitas religiosas no Brasil, e em particular no Rio de Janeiro. Em 1904 o jornalista João Paulo Barreto, que ficou mais conhecido como João do Rio, escreveu para o jornal carioca Gazeta de Notícias uma série de reportagens sobre as diversas manifestações religiosas que eram praticadas no Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi publicado em livro, com curta tiragem, hoje muito raro. Em 1906 seguiu-se a presente edição, também ela rara. "Foi considerado um livro polémico, adorado por alguns e esconjurado por outros, por o considerarem irónico e preconceituoso".
Ilustrado no texto com "escalas" das Intonações, do Karma, da Fisiolatria, e lista de nomes esotéricos com as respectivas construções nominais.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao conhecido escritor e cronista português Albino Forjaz de Sampaio (1884-1949).
"A religião? Um mysterioso sentimento, mixto de terror e de esperança, a symbolisação lugubre ou alegre de um poder que não temos e almejamos ter, o desconhecido avassallador, o equivoco, o medo, a perversidade..
O Rio, como todas as cidades nestes tempos de irreverência, tem em cada rua um templo e em cada homem uma crença diversa.
Ao ler os grandes diários, imagina a gente que está ríum paiz essencialmente catholico, onde alguns mathematicos são positivistas. Entretanto, a cidade pullula de religiões. Basta parar em qualquer esquina, interrogar. A diversidade dos cultos espantar-vos-á. São swendeborgeanos, pagãos litterarios, phgsiolatras, defensores de dogmas exóticos, auctores de reformas da Vida, reveladores do Futuro, amantes do Diabo, bebedores de sangue, descendentes da rainha de Sabá, judeus, schismaticos, espiritas, babalãos de Lagos, mulheres que respeitam o oceano, todos os cultos, todas as crenças, todas as forças do Susto. Quem atravez a calma do semblante lhes adivinhará as tragédias da alma? Quem no seu andar tranquillo de homens sem paixões irá descobrir os reveladores de ritos novos, os mágicos, os nevropathas, os delirantes, os possuidos de Satanaz, os mystagogos da Morte, do Mar e do Arco-íris? Quem poderá perceber, ao conversar com estas creaturas, a lucta fratricida por causa da interpretação da Bíblia, a lucta que faz mil religiões á espera de Jesus, cuja reapparição está marcada para qualquer destes dias, e á espera do Anti-Christo, que talvez ande por ahi? Quem imaginará cavalheiros distinctos em intimidade comas almas desencarnadas, quem desvendará a conversa com os anjos nas chombergas fétidas.
Elles vão por ahi, papas, prophetas, crentes e reveladores, orgulhosos cada um do seu culto, o uniço que é a Verdade. Falai-lhes boamente, sem a tenção de aggredil-os, e elles se confessarão, - porque só numa cousa é impossível ao homem: enganar o seu semelhante, na fé.
Foi o que fiz na reportagem a que a «Gazeta de Noticias»| emprestou uma tão larga hospitalidade e um tão grande rindo; foi este o meu esforço: levantar um pouco o mysterio das crenças nesta cidade."
(Excerto do preâmbulo)
Índice:
[Preâmbulo] | No Mundo dos Feitiços: - Os Feiticeiros; - «As Iauõ»; - O Feitiço; - A Casa das Almas; - Os novos feitiços de Sanin; - A Egreja Positivista; - Os Maronitas; - Os Physiolatras. | O Movimento Evagelico: - A Igreja Fluminense; - A Igreja Presbyteriana; - A Igreja Methodista; - Os Baptistas; - A. A. C. M.; - Irmãos e Adventistas. | O Satanismo: - Satanistas; - Á Missa Negra; - Os Exorcismos; - As Sacerdotizas do Futuro; - A Nova Jerusalém; - O Culto do Mar. | O Espiritismo: - Entre os Sinceros; - Os Exploradores; - As Synagogas.
João do Rio (pseud. de Paulo Barreto - João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto) (1881-1921). "Jornalista, cronista, contista e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de agosto de 1881, e faleceu na mesma cidade em 23 de junho de 1921. Fez os estudos elementares e de humanidades com o pai. Aos 16 anos, ingressou na imprensa, notabilizando-se como o primeiro jornalista brasileiro a ter o senso da reportagem moderna, entre as quais se tornaram célebres “As religiões no Rio” e o inquérito “O momento literário”, ambas reunidas depois em livros ainda hoje de leitura proveitosa, constituindo o segundo excelente fonte de informações acerca do movimento literário do final do século XIX no Brasil.
Nos diversos jornais em que trabalhou, granjeou enorme popularidade, sagrando-se como o maior jornalista de seu tempo. Usou vários pseudônimos, além de João do Rio, destacando-se: Claude, Caran d’Ache, Joe, José Antônio José. Como homem de letras, deixou obras de valor, sobretudo como cronista. Foi o criador da crônica social moderna. Como teatrólogo, teve grande êxito a sua peça A bela madame Vargas, representada pela primeira vez em 22 de outubro de 1912, no Teatro Municipal.
Ao falecer, era diretor do diário A Pátria, dedicado aos interesses da colônia portuguesa, que fundara em 1920. No seu último “Bilhete” (seção diária que mantinha naquele jornal), escreveu: “Eu apostaria a minha vida (dois anos ainda, se houver muito cuidado, segundo o Rocha Vaz, o Austregésilo, o Guilherme Moura Costa e outras sumidades)...” Seu prognóstico ainda era otimista, pois não lhe restavam mais que algumas horas quando escreveu aquelas palavras.  Falecido dentro de um táxi, deu corpo ficou na redação de A Pátria, exposto à visitação pública. Seu enterro, dos maiores da história carioca, realizou-se com cortejo de cerca de cem mil pessoas. Na Academia Brasileira de Letras, que então ficava no Silogeu Brasileiro, na praia da Lapa, disse-lhe o discurso de adeus Carlos de Laet.
Segundo ocupante da cadeira 26, foi eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Guimarães Passos, e recebido pelo acadêmico Coelho Neto em 12 de agosto de 1910. Recebeu o acadêmico Luís Guimarães Filho."
(Fonte: https://www.academia.org.br/academicos/paulo-barreto-pseudonimo-joao-do-rio/biografia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.
Raro.
85€

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