BASTOS, Susana Pereira - O ESTADO NOVO E OS SEUS VADIOS. Contribuição para o estudo das identidades marginais e sua repressão. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997. In-4.º (23,5x16,5 cm) de 405, [3] p. ; il. ; C.
1.ª edição.
Importante contributo para a história da marginalidade durante o período de regime do Estado Novo.
"O presente trabalho constitui urna reflexão antropológica sobre o tema da construção social das identidades desviantes, a partir de uma pesquisa sobre uma figura marginal complexa, conceptualizada como fonte de impureza, poluição e perigo para a identidade nacional portuguesa - o vadio e seus equiparados (mendigo profissional, prostituta de escândalo público, homossexual, chulo, rufião, proxeneta, reincidente, etc.) -, bem como sobre o modelo institucional criado com vista à sua repressão e regeneração moral pelo projecto sociopolítico dominante ao longo dum período recente da história portuguesa contemporânea vulgarmente designado por Estado Novo."
(Retirado da contracapa)
Livro ilustrado com tabelas e quadros estatísticos.
"Como compreender as medidas de repressão da mendicidade nas ruas e lugares públicos consolidadas no início do Estado Novo e, nomeadamente, a criação do albergue da Mitra, destinado à absorção dos bandos de mendigos «que infestavam a capital, assediando no cais de desembarque os estrangeiros que nos visitavam, atraindo a caridade pública em atitudes teatrais, (...), expondo aleijões, chagas e outras deformações físicas, impressionando as pessoas, tirando partido das suas exibições hediondas e auferindo lautos proventos»?
Muito embota as primeiras disposições legais visando restringir a mendicidade, a ociosidade e a vadiagem datem de 1735 e, posteriormente, tenham sido implantados vários sistemas de repressão da mendicidade e da vadiagem no princípio do século, em Portugal, reconhecia-se ao mendigo um lugar público nas malhas do sistema social.
No mundo rural, a sua actividade era marcada por vários percursos e ritmada por determinados acontecimentos - festas, feiras, procissões, funerais, etc -, onde a sua presença era aceite e, tantas vezes, indispensável. Habitualmente, pernoitavam num cabanal cedido, num palheiro de um lavrador ou, noutras regiões, dormiam, por direito de costume, em certas construções colectivas.
Também nas cidades a mendicidade era uma realidade socialmente tolerada e até mesmo legitimada pelas autoridades, quando desenrolada de acordo com os regulamentos administrativos."
(Excerto de 2. Da pobreza sagrada à mendicidade como desvio)
Índice:
1. Introdução. 2. Da pobreza sagrada à mendicidade como desvio: a assumpção pelo Estado do controlo social do mendigo-vadio. 3. E se os marginais não fossem marginais? 4. A propósito de um sentimento de estranheza. 5. A instauração de um modelo institucional (1933-1951): 5.1. À revelia dos discursos oficiais: as primeiras estratégias de funcionamento do albergue; 5.2. «Velhos» e «menores»: constantes em tempos de crise; 5.3. A população reclusa: perfil antropológico: 5.3.1 O universo adulto; 5.3.2. O universo envelhecido; 5.3.3. O universo infantil. 5.4. Alguns rostos do mitreiro: 5.4.1 O louco; 5.4.2 A prostituta e o homossexual; 5.4.3. O reincidente; 5.4.4. Outros matizes do mitreiro: o alcoólico e o tuberculoso. 5.5. Contradições do dispositivo psiquiátrico: as condições para uma regressão; 5.6. «Vadios» e «bons-governantes»: a construção de um mito de renovação do Estado; 5.7. Do sincretismo à diferenciação marginal: a criação da colónia do Pisão; 5.8. A ideologia do amigo regenerador; 5.9. Ritual e controlo social. 6. A desestruturação do modelo institucional (1952-1974): 6.1. O enlouquecimento do albergue; 6.2. As visitas da amiga social; 6.3. Apontamentos sobre a extinção do albergue da Mitra. 7. Conclusão. | Bibliografia e Fontes.
Encadernação do editor em tela cartonada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e social.
35€
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