SOUZA, Pereira de - NO JULGAMENTO DE COUCEIRO. Discurso de defeza proferido no Tribunal do 2.º Districto Criminal d'esta cidade em 17 de Junho de 1912. Porto, Edição do Auctor : Typ. da Emprêsa Litteraria e Typographica, [1912]. In-8.º (18,5x11,5 cm) de 62, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Defesa proferida pelo advogado oficioso de Paiva Couceiro - Pereira de Sousa - no julgamento que teve lugar no Tribunal do 2.º Distrito Criminal do Porto sem a presença de Couceiro, africanista e governador colonial, monárquico convicto, chefe das "incursões monárquicas" no norte do país a partir da Galiza, movimento revoltoso que conheceria o seu epílogo após os combates de Chaves.
"No meio da derrocada monárquica no 5 de Outubro de 1910, um homem, mais do que qualquer outro, sentiu o amargo paladar da derrota. Henrique de Paiva Couceiro, herói militar dos últimos anos da monarquia, foi um dos poucos oficiais militares que se bateu até ao fim, defendendo o trono, combatendo a inexorável chegada da República.
A sua imagem de guerreiro corajoso, estratega respeitado e político feroz foi tal que, quando chegou o dia 6 de Outubro, o Governo Provisório que planeava a transição de regime foi ter com ele, queria saber como se sentia em relação a tudo aquilo. Couceiro foi diplomático: reconheceria o que o povo reconhecesse em eleição. Não queria divisões, e caso houvesse uma invasão estrangeira para um retorno à monarquia, assim sendo estaria na defesa de Portugal. Mas exigia um plebiscito à República. A população devia mostrar, em votos, que queria a mudança.
O regime republicano não lhe fez a vontade. Houve eleições em 1911, mas para constituir o primeiro parlamento, consumando o facto de que a República chegara para ficar. Couceiro não reconheceu estes resultados. Demitiu-se do seu cargo de oficial, em ruptura com as chefias militares e fiel ao escudo de armas que defendera durante quase toda a carreira, e entregou a espada de comando.
Porém, naquele Junho de 1911, alertou: saía do país e iria conspirar contra a República. Que o prendessem, se quisessem. Ninguém lhe ligou. Subiu então para a Galiza, e quatro meses depois cumpriu a sua promessa: entrou pelo distrito de Bragança à frente de uma coluna militar e tomou Chaves. Simbolicamente, hasteou a bandeira azul e branca da Monarquia na varanda da câmara municipal. Três dias depois, chegaram as forças republicanas e expulsaram novamente Paiva Couceiro para a Galiza. Uma vitória, mas com um aviso: a monarquia ainda mexia.
Couceiro não desarmou e continuou durante os anos seguintes aquilo que designou por “incursões monárquicas”. Em 1912, tentou outra, rumo a Chaves, mas desta vez foi derrotado de imediato. Nesse ano, é julgado à revelia pela participação no primeiro golpe e condenado."
(Fonte: https://www.nationalgeographic.pt/historia/monarquia-norte-1919-republica_4292)
"Isto de conspiração monarchica tem-me feito lembrar d'um ovo. Os ovos só depois de partidos é que se conhece se são frescos ou chocos. Só depois que aos tribunaes vieram os processos contra ella levantados é que se poude conhecer como a conspiração monarchica era uma coisa armada no ar, sem tom nem som, sem fundamento serio nem base solida! E se o centro do ovo é a gemma e se da conspiração monarchica é centro Paiva Couceiro, Paiva Couceiro não é monarchico, é apenas homo nobilis, é apenas uma figura que se destaca pela sua bravura de soldado, pela sua firmeza e lizura de caracter. E, sendo assim - o ovo nem gemma tem! Vamos partil-o, Senhores Jurados, vamos á ligeira analysar o processo e vereis como eu vi com assombro que este processo, se é historico pelas figuras que n'elle intreveem, é tambem historico pelo magno e tremendo disparate que representa.
E, tão disparatado elle é, que eu nem sei, Senhores Jurados, como houve homens, que alardeam de sensatos, que o fizessem nascer e chegar até aqui!
Produz, porventura, alguns resultados proveitosos para a Republica?
Consolida, por acaso, as instituições que a Revolução de 5 d'outubro implantou em Portugal?
Terá por qualquer circumstancia exequibilidade a sentença de condemnar estes Reus?
Não! Senhores Jurados! Não!
Porventura, por este processo, deixou de haver para a Republica o contínuo sobresalto de uma nova incursão armada?
Porventura com uma condemnação fica mais enraizada no sólo da Patria e Ideia que as novas instituições representam?
Porventura, com este processo, Paiva Couceiro e os seus serão lançados para a frialdade humida, ou atirados para as areas esbrazeadas dos sertões d'Africa?
Estas perguntas formulo-as á vossa consciencia e ao vosso apurado criterio! Se houvesse extradicção para os crimes politicos, vá! Mas assim, de que vale e de que serve tudo isto? Porventura Paiva Couceiro e os seus, embora absolvidos, voltam a Portugal? Porventura, uma vez condemnados, podem as auctoridades havel-os á mão? Que me responda a vossa consciencia!
Apezar da larga sementeira de injurias e de ultrages que se tem feito em redor do nome de Paiva Couceiro, elle é o homem nobilis, o homem de bem e de dignidade, o homem cuja espada valia tanto e era tão valorosa, que por elle se trocavam todos os adhesivos, no dizer de individuos que não podem ser suspeitos de thalassismo."
(Excerto da Defeza)
Exemplar brochado em razoável estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos, restauro, rasgos e pequenas falhas de papel.
Raro.
Com interesse histórico.
Peça de colecção.
Indisponível
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