30 agosto, 2023

RAMOS, J. B. da Silva - O CAPITÃO ANGELO : romance original.
Por... Braga: Typographia Luzitana, 1879. In-8.º (15,5x11 cm) de 105, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Romance histórico, moralista, algo ingénuo e "beato", exemplo típico do Romantismo tardio. A acção decorre no Porto e em Braga, com início no final da 3.ª Invasão Francesa, sendo ainda criança de tenra idade o "herói" da história - o Capitão Ângelo.
Obra dedicada pelo autor a D. Antónia Augusta Teixeira de Vasconcelos, da Casa de Marbom, em Celorico de Basto. Rara e muito interessante.
Nada foi possível apurar acerca do autor dado não existirem quaisquer referências biobibliográficas a seu respeito, incluindo na Biblioteca Nacional.
"Aos 6 de janeiro de 1811, estava n'uma sala do 2.º andar, do largo da Batalha, no Porto, o reverendo João de Mascarenhas, seriam 10 horas da manhã, almoçando com sua irmã D. Leonor de Mascarenhas, separados apenas por uma brazeira.
N'esta éra, o chá e o café existiam ainda foragidos nos vasos das boticas, figurando entre as melhores familias, o simples caldo d'unto, ou a açorda. Estes almoços, se não eram tão delicados e commodos, como os d'hoje, eram mais substanciaes e saudaveis. Pois nem mais nem menos; o nosso reverendo João de Mascarenhas, que era conego na Sé d'aquella cidade, estava almoçando açorda, com sua irmã.
Na madrugada d'este dia tinha caido grande quantidade de neve. Nos telhados media ella mais de tres pollegadas d'espessura; nas ruas, com o attrito dos carros, gente, etc., estava menos espessa; nos sitios, porém, onde se escoava alguma agua, formava uma especie de chrystal negro aonde os viandantes com facilidade escorregavam e caiam; - era uma verdadeira ratoeira armada pela natureza aos descuidados.
Foi pois n'este dia que o conego Mascarenhas, depois de ter ido á Sé rezar o officio e dizer missa, procurava, em frente do brazeiro e com o almoço, afugentar o frio e satisfazer a primeira necessidade da vida.
Na mesma salla traquinava uma menina, de tres para quatro annos, viva como uma doninha, e formosa como um querubim: era sobrinha d'ambos, e filha segunda d'uma nobre familia do Minho. [...]
N'este momento ouve-se um grito agudo, que vibrou na casa - lavadeira!
- Ora vá, continuou o bom do conego, vá aquecer os pés ajuntando a roupa para lavar.
- Valha-me Deus!... estava aqui tão bem...
D. Leonor levantou-se e disse a uma creada que fizesse subir a lavadeira.
- Dá licença, snr.ª D. Leonor?
- Entre Joanna.
Assomou então á porta da salla uma mulher que indicava ter 40 annos, de estatura mais que regular, de constituição forte e sadia, e d'uma physionomia que indicava bondade. Trazia pela mão um menino de edade de 6 annos, de cabellos louros e ondeados, cuidadosamente penteados; de tez fina e branca e com uns olhos vivos como os do basilisco; vestia roupas usadas, mas ainda boas e em moda n'aquelle tempo.
- Vá beijar a mão ao snr. conego, ande... disse a lavadeira para o menino, que obedeceu promptamente... Agora beije a mão á snr.ª D. Leonor.
Mariquinhas tinha deixado de correr para empregar todas as attenções no joven hospede. Sendo isto notado pela lavadeira, dirigiu-se esta ao menino:
- Angelo, dá tambem um abraço n'aquella menina."
(Excerto do Cap. I)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos defeitos. Carimbo de posse na f. rosto "Braga da Cruz, Casal do Assento, Tadim - Braga".
Muito raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

Sem comentários:

Enviar um comentário