1.ª edição.
Ensaio sobre a morte, a forma como é encarada pela sociedade, sobretudo a rural, e "que sistema simbólico ergueu e manteve para assegurar a continuidade existencial das comunidades, apesar da morte e contra a morte".
Obra invulgar e muito interessante, por certo com tiragem reduzida.
"[As questões sobre a morte], advêm da interrogação primordial do homem sobre a sua própria morte. Não apenas sobre o acabamento físico, mas sobre o seu sentido, sobre tudo o que está para além e aquém desse momento. Tal como para o homem dos nossos dias, a «sensação básica de um mistério infinito na raiz de toda a vida terá existido para os nossos antepassados.» A morte é apercebida como uma alma fugidia que nos toca ao de leve e se evola, como um suspiro que vem e depois retorna ao que nunca mais será percebido, ao que de tanto se imaginar ganha substância - o incognoscível, simultaneamente tentador e temível.
A consciência da finitude e a percepção de outras realidades para além do imediatamente verificável, exige dos homens e das sociedades formas de lidar com a morte e de a vencer - de idealmente a anular. As grandes interrogações que a morte suscita e as respostas que para ela desde sempre se buscam são a substância primeira dos sistemas ontológicos que designamos como cultura."
(Excerto do Cap. I - Uma questão antiga)
"A morte, fisicamente, só atinge o outro, os outros. Mas o facto inexorável e iniludível, esse não sei quê que não tem nome em língua nenhuma, está carregado de significados sociais e culturais. A morte é, então, e antes de mais, um facto cultural, pelas representações que induz, quanto à sua natureza e origem, pelos fantasmas e imagens que suscita, pelos meios que mobiliza para se recusar ou para se ultrapassar. As sociedades querem reencontrar a paz e triunfar, idealmente, sobre a morte. Repousam, por isso, num desejo de imortalidade."
(Excerto do Cap. II - Uma ideia de morte)
"O fim próximo de cada um, quer a morte seja ou não temida, não se oculta aos moribundos que são advertidos de que é chegado o momento de serem sacramentados. Podem mesmo os vivos ajudar a decidir da morte dos que estão muito doentes: «Certas mulheres que vão às casas ajudar a morrer os doentes que estão na agonia, gritando-lhes à cabeceira, para afugentar o diabo: 'Ande, diga comigo do fundo do seu estômago: Ih, Jesus, que morro'»"
(Excerto do Cap. III - 2. Repertório do cadáver)
Índice:
I - Uma questão antiga. II - Uma ideia da morte. III - O jogo do morto: 1. O sagrado do morto; 2. Repertório do cadáver; 3. Os nós e os outros. IV - Doridos e enojados: 1. O sagrado dos sobreviventes; 2. Repertório do luto; 3. Tristes e impuros. V - Almas errantes: 1. O sagrado do além; 2. Repertório da alma; 3. Reencontros. VI - Últimas palavras. | Bibliografia.
Carlos Alberto Machado (n. 1954). "Escritor e ensaísta português. Natural de Lisboa, e radicado nos Açores desde 2005, tem uma obra reconhecida nas áreas do ensaio, (antropologia e sociologia da cultura), história do teatro português, teatro e poesia, com obras publicadas em editoras de prestígio. É Licenciado em Antropologia e Mestre em Sociologia da Comunicação e Cultura. Integrou Poetas sem Qualidades (Averno, 2002, direcção de Manuel de Freitas). Tem poesia traduzida em castelhano e francês. Criou a revista Magma (2005-2009, co-direcção com Sara Santos). Dirigiu, com Urbano Bettencourt, a Biblioteca Açoriana."
(Fonte: Wook)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa com vincos.
Muito invulgar.
Indisponível
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