OSORIO, Pinto - LEMBRANÇAS DA MOCIDADE. Alguns casos historicos da Academia de Coimbra. Lisboa, [s.n.], [1907]. In-8.º (19x12 cm) de 349, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Memórias dos tempos de estudante do autor em Coimbra, em meados do século XIX, época em que frequentou o liceu e cursou Direito na Universidade, tendo privado com figuras gradas do seu tempo, destacando-se, entre outros, Antero de Quental.
Inclui no final do livro um curioso índice: "Nominal dos amigos e
contemporaneos do auctor, a quem algum acto, mencionado neste volume se
refere, e das pessoas, cuja auctoridade se invoca, ou cujo nome é
elogiosamente citado, com a indicação da pagina respectiva". Invulgar e muito interessante.
"São impressões pessoaes, que vou expôr!
É um depoimento pessoal que vou dar.
Faço-o com a probidade, a que não sei faltar.
São lembranças de quem nesse estabelecimento scientifico (que doces e gratos corações pretendem derruir!) educou o seu espirito no amor da justiça e da liberdade humana; e que - orgulha-se em dizel-o - não receia comparações com muitos que dellas se dizem apostolos, nos serviços, que tem procurado prestar-lhes.
Amo Coimbra! Amo a sua Universidade!
E para mim a Universidade não é apenas, como para tanta gente, o seu grandioso edificio e o seu professorado!
São ambos! É mais alguma coisa! É aquella cidade tão original; são as suas paisagens tão encantadoras; é o seu rio tão placido e tão formôso, verdadeiro rio do Amôr; é aquella communa escholastica; são os amigos queridos, a quem lá para sempre me liguei; são todos esses companheiros de nobre coração e alto espirito, que fiz por seguir e que tambem me foram mestres; e os quaes, procurando acompanhar, me levaram a alturas, onde, só por mim e em meio diverso, eu não poderia subir!
Fui para Coimbra pouco depois de completar quinze annos e sahi de lá depois de ter completado vinte e dois!
Qual é a alma de ferro ou de lama, que, nessa edade, não recebe impressões, e dellas não guarda lembrança para toda a vida?!
Sahido da solidão de uma pequenissima aldeia, que se espelha nas aguas cristalinas do Lima, a qual me é muito querida, e do acanhado meio de uma pequena villa de provincia, onde apenas estudei um pouco de latim, e nada mais! [...]
Frequentando por dois annos o lyceu (que felizes tempos, em que não havia formaturas, nem tantas e tão profundas sabedorias na instrucção secundaria!) e por cinco a Universidade, desde o primeiro exame até o ultimo acto, sahi incolume, sem louros e sem rr!
Sabia de cór muitos mais versos do que Ordenações do Livro 4.º, mas tambem sabia alguma cousa destas.
Tive a minha hora de conspirador e revolucionario!
Pertenci ao grupo mais avançado desse tempo. Fui socio da Sociedade do Raio!
Não o occulto. Antes disso muito me glorio!
Fui dos que tomaram parte no acto, praticado na Salla dos Capêllos, no dia 8 de dezembro de 1862; e egualmente fui dos que, com a minha assignatura, tomei a responsabilidade dêsse acto, no celebre manifesto, que publicámos para o explicar ao paiz: documento nobilissimo, escripto pelo seu primeiro signatario, que era Anthero de Quental, e que ainda hoje - velho juiz - me honraria de assignar com as pequenas restricções, que a experiencia e uma menor ignorancia me levariam a fazer-lhe."
(Excerto do preâmbulo - Explicações)
Augusto Carlos Cardoso Pinto Osório (1842-1920). "Magistrado. A seguir à sua formatura em Direito na Universidade de Coimbra em 1866, exerceu advocacia, tendo sido delegado do Ministério Público. Em 1910, já no culminar da sua carreira, foi nomeado Presidente do Supremo Tribunal de Justiça."
(Fonte: https://arquivoalbertosampaio.org/details?id=28908)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequeno defeitos. Ex-libris no verso da f. ante-rosto.
Muito invulgar.
35€
Sem comentários:
Enviar um comentário