27 junho, 2022

CARNAXIDE, Visconde de - A COMÉDIA JURÍDICA : scenas de fraudes das leis e casos jocosos da vida forense.
Pelo... Academia das Sciências de Lisboa. Separata do «Boletim da Segunda Classe», volume VIII
. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1914. In-4.º (23,5x14,5 cm) de 45, [1] p. ; B.
1.ª edição independente.
Conjunto de episódios e reflexões do autor acerca do Foro. Opúsculo raro e muito interessante.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa de Francisco França Amado (1859-1942), conhecido livreiro-editor natural de Coimbra (onde desenvolveu a sua actividade), ao Dr. Alberto Plácido.
"... A superstição dos enfermos de baixa ou nula cultura mental pela competência e virtude dos que não possuem título oficial de habilitação, e até de o não possuir se jactam como demonstração do seu superior critério não subalternado a vãs teorias das faculdades universitárias, é favorecida ou alimentada em parte pelas ironias ou sátiras, com que, como ditos de espírito, cuja enunciação lisongeia o conceito de agudeza de inteligência de quem os profere, gente até de variada ilustração e grande prestígio literário tem freqùentemente alvejado os médicos sem distinção.
Em Londres acontecera ter-se feito curandeiro um astuto criado dum médico eminente, do qual copiara as receitas, que êle registava, para intercalar o seu aproveitamento com o das fórmulas do livro de Chernoviz ou doutro, evitando assim, quanto podesse, a denúncia da sua impostura; e, tendo-se encontrado como seu antigo patrão na mesma casa situada numa das ruas de maior trânsito da cidade, à extranheza dêste, que, sabendo então quem tinha por concorrente, admirava como êle rápidamente enriquecia pelos proventos da sua abusiva profissão, respondeu como sagaz psicólogo, que subjugou o sábio mas ingénuo crítico.
Conduzindo o doutor a uma janela da casa, e perguntando-lhe quantas das cem mil pessoas, que por dia passariam na rua em baixo, eram circumspectas e avisadas, à resposta do médico de que seriam mil, observou: são os seus clientes, sendo os meus em número noventa e nove vezes superior.
Ocorre-me referir um curioso caso não de falta absoluta de título profissional scientífico, mas de defeza aduzida por um veterinário contra a acusação de haver, como se fôra médico, tratando um homem duma inflamação das gengivas, tendo-lhas queimado com um ferro em brasa.
No dia do julgamento, o acusado, havendo apresentado as suas cartas, e dizendo-lhe o juíz que elas o habilitavam a curar, sim, mas únicamente bestas, alegou, que não exhorbitara, porquanto, como logo se propôs demonstrar, o queixoso, que estava presente, era um ser antropológicamente inferior, própriamente uma besta."
(Excerto do texto)
António Baptista de Sousa, 1.º Visconde de Carnaxide (1847-1935). "Advogado, jurista, funcionário judicial, administrador de empresas, jornalista, político e poeta. Foi deputado às Cortes pelo Partido Progressista (1884-1893) e eleito par do reino (1894). O título de visconde foi-lhe concedido por D. Carlos em 1898. Publicou diversas obras jurídicas e cinco livros de poesia. Foi director da revista O Direito e sócio da Academia das Ciências de Lisboa."
(Fonte: https://archeevo.amap.pt/details?id=81346)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos.
Raro.
30€

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