1.ª edição.
Romance satírico sobre o caciquismo local, sendo esta uma das mais interessantes e apreciadas obras do autor.
Romance satírico sobre o caciquismo local, sendo esta uma das mais interessantes e apreciadas obras do autor.
"Fidaurgo - lhe chamava tôda a gente.
A princípio era o «Filho do Fidaurgo do Paço», o «Fidaurginho»; o «Fidaurgo do Paço», mais tarde.
Depois, na aldeia, até na Vila de Oliveira, todos diziam apenas : o «Fidaurgo».
«Menino esteja quieto. Menino esteja calado!» - fôra tôda a sua educação.
Disseram-lhe o que se não deve fazer: educação negativa porque nunca lhe ensinaram o que se deve fazer.
Tinha mêdo ao Pai - fazia tudo às escondidas dêle.
Não era grande o respeito pela Mãi - e o Pai sempre a dizer «que os rapazes não devem andar metidos nas saias das mulheres».
A vélha criada que o desmamou morrera anos antes.
E sabendo mal a cartilha lá chegou finalmente - sadio de fruta verde clandestina e vinho e boroa por casa dos caseiros - à terrível idade de aprender no sistema métrico a medida do estere.
A Mãi, ralada de desgôstos, vivia coacta, no receio do Marido.
Senhora doente, de boa família, descendente de Ramiro 1.º Rei de Leão, e também, e muito provàvelmente, do Brigadeiro D. João de Amorim, heróico comandante da Praça de Monção em 1640, e de todos aquêles fidalgos de boa estirpe da ilustre Casa de Piães - onde Manuel Pinto de Faria Soares a mandara pedir em casamento pelo capelão de sua casa, conhecedor das terras que a Menina possuía no Concelho de Oliveira.
Manuel Pinto enchera-a de aflições e faltas de respeito.
Nunca mais ela vira as suas jóias desde o dia do casamento.
Andavam por casa e pela quinta, sem cerimónia, as jornaleiras e as moçoilas da aldeia a quem o sanguineo e bestial Senhor acenava o lenço."
(Excerto do Cap. I e II)
José António Maria Francisco Xavier de Sá Pereira Coutinho, 2.º Conde de Aurora (Ponte de Lima, 1896 - 1969). Escritor português. "Em 1919, por ocasião da Monarquia do Norte, partiu para o exílio tendo vivido em Espanha, no Brasil e Argentina. Em 1921, fundou o periódico "Pregão Real". Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e foi juiz do Tribunal do Trabalho. A sua obra reparte-se por vários géneros literários, caracterizando-se pela defesa dos valores culturais tradicionais dentro dos moldes estéticos do realismo, na senda de Eça de Queirós. Marcadamente nacionalista e claramente crítico em relação à Primeira República, o Conde d’Aurora dedicou ao Minho – aqui entendido como a região de Entre-o-Douro-e-Minho – grande parte da sua obra literária. Como ficcionista, publicou O Pinto, em 1935, trabalho que obteve o prémio de romance Eça de Queiroz e onde são desfibradas as particularidades do caciqueirismo político liberal."
(fonte: http://bloguedominho.blogs.sapo.pt/119202.html)
A princípio era o «Filho do Fidaurgo do Paço», o «Fidaurginho»; o «Fidaurgo do Paço», mais tarde.
Depois, na aldeia, até na Vila de Oliveira, todos diziam apenas : o «Fidaurgo».
«Menino esteja quieto. Menino esteja calado!» - fôra tôda a sua educação.
Disseram-lhe o que se não deve fazer: educação negativa porque nunca lhe ensinaram o que se deve fazer.
Tinha mêdo ao Pai - fazia tudo às escondidas dêle.
Não era grande o respeito pela Mãi - e o Pai sempre a dizer «que os rapazes não devem andar metidos nas saias das mulheres».
A vélha criada que o desmamou morrera anos antes.
E sabendo mal a cartilha lá chegou finalmente - sadio de fruta verde clandestina e vinho e boroa por casa dos caseiros - à terrível idade de aprender no sistema métrico a medida do estere.
A Mãi, ralada de desgôstos, vivia coacta, no receio do Marido.
Senhora doente, de boa família, descendente de Ramiro 1.º Rei de Leão, e também, e muito provàvelmente, do Brigadeiro D. João de Amorim, heróico comandante da Praça de Monção em 1640, e de todos aquêles fidalgos de boa estirpe da ilustre Casa de Piães - onde Manuel Pinto de Faria Soares a mandara pedir em casamento pelo capelão de sua casa, conhecedor das terras que a Menina possuía no Concelho de Oliveira.
Manuel Pinto enchera-a de aflições e faltas de respeito.
Nunca mais ela vira as suas jóias desde o dia do casamento.
Andavam por casa e pela quinta, sem cerimónia, as jornaleiras e as moçoilas da aldeia a quem o sanguineo e bestial Senhor acenava o lenço."
(Excerto do Cap. I e II)
José António Maria Francisco Xavier de Sá Pereira Coutinho, 2.º Conde de Aurora (Ponte de Lima, 1896 - 1969). Escritor português. "Em 1919, por ocasião da Monarquia do Norte, partiu para o exílio tendo vivido em Espanha, no Brasil e Argentina. Em 1921, fundou o periódico "Pregão Real". Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e foi juiz do Tribunal do Trabalho. A sua obra reparte-se por vários géneros literários, caracterizando-se pela defesa dos valores culturais tradicionais dentro dos moldes estéticos do realismo, na senda de Eça de Queirós. Marcadamente nacionalista e claramente crítico em relação à Primeira República, o Conde d’Aurora dedicou ao Minho – aqui entendido como a região de Entre-o-Douro-e-Minho – grande parte da sua obra literária. Como ficcionista, publicou O Pinto, em 1935, trabalho que obteve o prémio de romance Eça de Queiroz e onde são desfibradas as particularidades do caciqueirismo político liberal."
(fonte: http://bloguedominho.blogs.sapo.pt/119202.html)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado de conservação.
Invulgar.
Indisponível
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