18 setembro, 2021

VALENTE, Francisco Pulido - INTRODUCÇÃO AO ESTUDO DA HYSTERIA : dissertação inaugural.
Por... Outubro de 1909. Eschola Medico-Cirurgica de Lisboa
. Lisboa, Officinas Typographica e de Encadernação movidas a electricidade da Parceria Antonio Maria Pereira, 1909. In-4.º (23,5 cm) de 142, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Tese de licenciatura do autor, conhecido republicano, eminente médico e professor português. Trata-se de um ensaio sobre Histeria, - obra rara e muito interessante -, inexistente na base de dados da BNP.
"As paralysias, como quasi sempre succede ao tratar-se de accidentes hystericos, sobreveem a maior parte das vezes depois d'uma violenta emoção. Esta emoção póde acompanhar um traumatismo em condições de absoluta insuficiencia para determinar uma paralysia organica. Por isso durante tempo se estudos esta manifestação hysterica sob o nome de nevrose traumatica, e pela sua frequencia nos desastres de linhas ferreas, recebeu dos inglezes a designação de railways's spine. [...]
N'um comboio em marcha um passageiro sahe da carruagem em que viaja com intenção de passar pelo estribo para a do lado. De pé sobre o estribo olha e percebe que o comboyo vae entrar n'um tunnel, e assalta-o um terror enorme, porque se convence que a metade esquerda do corpo lhe vae ficar entalada entre o comboyo e a parede da galeria; desmaia e companheiros amigos que o vigiam içam-n'o para a carruagem sem ter feito a menor beliscadura. Quando recupera os sentidos tem realisado uma hemiplegia esquerda (Janet).
Muitas vezes as paralysias sobreveem depois de fadigas reaes ou suppostas.
Assim o pintor que decorando um tecto cança a mão direita que por fim deixa cahir o pincel completamente paralysada, assim a pequena que sonha durante uma noite inteira fugir esbaforida pelas ruas desertas da cidade, ante um homem mysterioso que a persegue, e que pela manhã accorda paraplegica.
As paralysias que como estas assentam sobre uns determinados musculos, que para todo o exercicio ficam impotentes chamam-se paralysias localizadas.
Todos os musculos voluntarios podem ser séde d'estas paralysias.
A paralysia facial hysterica, é a maior parte das vezes unilateral, e depois de muito discutida parece estar definitivamente admittida. [...]
Á paralysia, junta-se muitas vezes nos hystericos a hypertonicidade que se chama contractura. [...]
Muitas vezes as contracturas, conservam uma atitude expressiva d'uma determinada acção ou d'um determinado estado emocional. Assim uma mãe que vae esbofetear um filho, fica com o braço imobilisado, a mão no ar ameaçadora. Uma mulher que tem crises de extase em que se julga crucificada como o Christo, caminha durante annos sobre a ponta dos pés, rigidos, na atitude da crucificação."
(Excerto do Cap. II - As perturbações da motilidade)
Matérias:
O factos: I - As perturbações da percepção. II - As perturbações da motilidade. III - As perturbações da linguagem. IV - As perturbações do somno, da alimentação, da respiração e da micção. V - Os delirios. VI - As amnesias. VII - Etilogia. VIII - As ideias de Janet - sua exposição. IX - As ideias de Janet - sua critica. X - As ideia de Babinski - sua exposição. XI - As ideia de Babinski - sua critica. | Proposições.
Francisco Pulido Valente (Lisboa, 1884-1963). "Foi na sua época um notável médico e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa. Frequenta o Curso de Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa, defendendo tese sobre a histeria na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e faz ato grande em que é aprovado com 19 valores (1909), e dois anos depois, após concurso de provas públicas, foi nomeado médico efectivo dos Hospitais Civis.
1903 - Passa algumas tardes na cervejaria Jansen, em Lisboa (onde, a partir de 1914, Fernando Pessoa e outros intelectuais darão início à revista «Orpheu»). É nesta altura que os dois colegas de escola (quem?) se decidem pela Medicina. Para Pulido Valente, a escolha foi feita depois de ser operado por Francisco Gentil. Talvez tenha sido a vertente humana deste médico que o atraiu na profissão. Aliás, as questões sociais, e as políticas a elas associadas, estarão sempre presentes na sua vida de facultativo.
1904 - Faz parte, juntamente com Álvaro de Castro, Campos Lima, Carlos Amaro, Câmara Reis, Tomás da Fonseca e muitos outros, do corpo redatorial da revista Mocidade, em cujo n.º 1 da primeira série, com data de 1 de Novembro - tinha então 20 anos incompletos - publicou o artigo Geração Nova.
1907 - Foi um dos cabecilhas da greve académica juntamente com o seu cunhado Lúcio Pinheiro dos Santos os seus amigos Ramada Curto e os irmãos Américo e Carlos Olavo, durante a ditadura de João Franco.
Foi assistente de Psiquiatria e especializou-se no estudo de doenças nervosas e Clínica Geral. Foi mobilizado para França (1917), [durante a Grande Guerra], onde dirigiu os serviços de doenças infecto-contagiosas, inicialmente no Hospital de Cherville e depois no Hospital Militar de Hendaia e no da Base n.º 2. Regressando a Portugal, reassumia as funções anteriormente prestadas, ascendendo a professor catedrático e regendo a cadeira fundamental de Clínica Médica.
Homem de grande cultura científica, competência excepcional, visto como um renovador na Faculdade de Medicina. Representou Portugal em diversos congressos científicos e foi premiado por diversos trabalhos neles apresentados. Sempre viveu afastado da vida política militante, assumido republicano, destacou-se pela sua intransigência na famosa greve académica do tempo de João Franco. Em Junho de 1947, determinado em Conselho de Ministros, foi-lhe retirada a cátedra por ser considerado desafecto à política de Estado Novo dedicando-se então à clínica particular.
Este grande clínico, um dos maiores do País, avesso a todas as formas de publicidade, é autor de vários e valiosos trabalhos de investigação. De entre eles assinale-se: Introdução ao Estudo da Histeria; A Etiologia e a Patologia da Paralisia Geral; Um caso raro de Actinomicose; Estudo Clínico e Experimental sobre vinte e um casos de Encefalite Letárgica."
(Fonte: https://fpulidovalente.org/sobre-pulido-valente/)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas ligeiramente oxidadas, cansadas, com pequenos defeitos.
Muito raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
120€

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