FRAGOSO, Fernando - A HISTÓRIA DE JOÃO RATÃO. Contada por... Lisboa, Depositária Editorial Progresso, L., [1940]. In-8.º (19 cm) de 140, [4] p. ; [8] f. il. ; B.
1.ª edição.
"A partir de uma opereta, a história amorosa dum soldado português, João Ratão, que regressa da frente de batalha na Flandres, sendo envolvido em intrigas motivadas pela inveja, quanto a Vitória, uma rapariga do povo que namorara através de cartas escritas por outros... Evocação do patético cenário da guerra (1914-18), e a faina dos madeireiros, no deslumbrante Vale do Vouga."
(Fonte: José de Matos-Cruz, O Cais do Olhar, 1999)
Livro ilustrado com fotogravuras a p.b., reproduzindo cenas do filme, distribuídas por 8 folhas separadas do texto.
"A opereta «João Ratão», um dos grande êxitos do Teatro musicado português, foi escrita por Ernesto Rodrigues, João Bastos e Felix Bermudes. Fernando Fragoso e Jorge Brum do Canto adaptaram-na à tela. Jorge Brum do Canto dirigiu o filme, que é uma produção da Tobis Portuguesa."
(Excerto do preâmbulo)
"A faina começara pela madrugada. Ainda havia estrêlas no céu, quando, no pinhal, sobranceiro ao rio, os lenhadores romperam a vibrar, no sopé dos troncos, as machadas compassadas, que se repercutiam, cavas e profundas, pelo vale, e iam morrer lá em baixo, com o marulhar das águas no açude. [...]
Livro ilustrado com fotogravuras a p.b., reproduzindo cenas do filme, distribuídas por 8 folhas separadas do texto.
"A opereta «João Ratão», um dos grande êxitos do Teatro musicado português, foi escrita por Ernesto Rodrigues, João Bastos e Felix Bermudes. Fernando Fragoso e Jorge Brum do Canto adaptaram-na à tela. Jorge Brum do Canto dirigiu o filme, que é uma produção da Tobis Portuguesa."
(Excerto do preâmbulo)
"A faina começara pela madrugada. Ainda havia estrêlas no céu, quando, no pinhal, sobranceiro ao rio, os lenhadores romperam a vibrar, no sopé dos troncos, as machadas compassadas, que se repercutiam, cavas e profundas, pelo vale, e iam morrer lá em baixo, com o marulhar das águas no açude. [...]
O sol rompera. A neblina desfizera-se, pouco a pouco. [...]
Caíra o último pinheiro. Ia começar a derrama. [...] E foi justamente à hora do almoço, quando as marmitas fumegavam, alinhadas sôbre o brazido, que o Zé Maria divisou, na curva do caminho, a figura bem conhecida de «Sô Puxa», o carteiro da terra, fazendo esforços visiveis para subir a ladeira, montado na sua bicicleta, que zig-zagueava pela estrada poeirenta. [...]
Zá Maria, o capataz, a tôda a força dos pulmões, berrou lá do alto:
- Ó «Sô Puxa»! Há alguma coisa p'ra gente? [...]
«Sô Puxa» esquadrinhou a mala, a monologar entre os dentes:
- Que raio de gente esta! Todos querem cartas... e não sabem ler... Que faria, se soubessem...
E rematou com o estribilho de sempre, que era, ao mesmo tempo, um protesto e um desabafo, uma espécie de válvula de segurança da sua irritação permanente:
- ... Puxa!...
E logo, numa transição:
- Aí vai o jornal - e estão com sorte...
Os grandes, um título doloroso e alarmante! Zé Maria abanou a cabeça, num mixto de tristeza e desaprovação, e comentou:
- Mais tropas nossas que vão para França!
Fez-se um silêncio. Um rapazote aloirado quebrou-o, numa voz onde se sentia a amargura da saudade:
- Ó sr. António?! Tem tido notícias do João?!...
Encostado a uma árvore, olhar perdido na distância, como se quisesse penetrar os segredos da imensidão, sr. António volveu, triste:
- Isso sim! Há três semanas que não recebo notícias! Pobre filho! Onde êle me foi parar!
Pelo cérebro daqueles homens, passou, numa saüdade, a figura de João da Mó, o mais insinuante, o mais alegre dos rapazes de Santiago da Ermida, o João Ratão, orgulho dos seus pais, enlevo das moçoilas, o noivo de Vitória, a mais bonita das raparigas, umas poucas de léguas em redor. [...]
- Maldita guerra!
E na serena tranqüilidade da serra, os homens, de machada em riste, atacaram os pinheiros com o mesmo desespêro, com que, na Flandres, outros homens se apostavam em abater almas cristãs."
(Excerto do Cap. I, Manhã na Serra)
"Havia mêses que João Ratão se encontrava em França, no sector ocupado pelas tropas portuguesas, na planície alagada e erma da Flandres. Partira um dia de Portugal, empilhado num navio, com milhares de camaradas, num grande barco cinzento, que era pequeno para conter tantos homens e tanto material. Embarcara com a alma dilacerada, por deixar a sua terra., sem esperanças de voltar. [...]
Foi num dia nevoento e triste que chegaram a França. Chovia a bom chover. Mas a população dispensara aos bravos soldados, que de tão longe vinham em seu socôrro, uma recepção entusiástica! João Ratão, quando desfilara, com todo o batalhão, pelas ruas empedradas do pôrto francês, entre alas de povo, que festejava a chegada dos portugueses, sentira um arrepio. Era alguém! Orgulhoso da sua missão, marchando com garbo e aprumo, João Ratão deitava o rabo do olho às raparigas, que se alinhavam nos passeios, ao longo das ruas. E que lindas carinhas! De si para si, João pensou que a guerra, afinal, não era tão má como a pintavam...
Mas enganara-se! Era pior e bem pior do que todos supunham. Quando chegou às primeiras linhas e ouviu o troar do canhão teve mêdo! [...]
Havia três dias já que o inimigo bombardeava sem cessar as posições ocupadas pelas tropas portuguesas. Bombardeava, noite e dia, com regularidade, batendo as trincheiras e a rectaguarda, com fôgo certeiro e cadenciado. Os rapazes sabiam o que aquilo queria dizer: era o prelúdio duma ofensiva, se não fôsse uma armadilha para outro sector, para um ataque de surpresa. [...]
- Temos dança! - comentou João Ratão para os seus companheiros, no abrigo, onde o cimento e os sacos de areia os protegiam da chuva de metralha. [...]
Durou horas esta luta de morte na defesa das primeiras linhas. Uns após outros, todos os ataques foram repelidos. E quando caiu a noite, sôbre o campo juncado de mortos e moribundos, os portugueses mantinham intacta a frente confiada à sua guarda.
João Ratão foi dos que se ofereceram para a perigosa missão de recolher os feridos na «terra de ninguém». Ouviam-se gemidos, ao longe, no silêncio da noite, só perturbado pelo breve matraquear das metralhadoras dos postos avançados."
(Excerto do Cap. IV, Nas Linhas de Fogo...)
Índice: [Preâmbulo]. | [Explicação cinematográfica da obra]. | Distribuição do Filme. | I - Manhã na serra. II - Carta do João. III - Primavera de Amor. IV - Nas Linhas de Fogo. V - Boas Novas. VI - A Canção da Mariette. VII - Dois Marotos. VIII - «Mademoiselle Frou-Frou». IX - A provocação. X - Manuela diverte-se. XI - O arraial. XII - A Calúnia. XIII - Desespêro. XIV - Dia cinzento. XV - A chegada do tenente. XVI - O interrogatório. XVII - A Cruz de Guerra. XVIII - Desastre no rio! XX - Epílogo.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
A BNP dispõe de apenas um exemplar registado na sua base de dados.
Com interesse histórico e cinematográfico.
Indisponível
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