07 janeiro, 2021

MOTA, Fernando - O NOVO MUNDO.
[Por]... Licenciado em Filosofia. Advogado
. Lisboa, [Tip. Torres, Lisboa], 1930. In-8.º (19 cm) de 392, [4] p. ; B.
1.ª edição.
Obra apologista dos valores comunistas, algo ingénua, de forte pendor anticlerical, em que o autor procura dar resposta aos problemas sociais do país pela via do socialismo de inspiração soviética. Publicado em 1930 - em pleno período de Ditadura Nacional - não custa pensar que, face ao seu conteúdo doutrinário - contrário à ordem política vigente - e à escassez do livro, que este tenha sido apreendido e(ou) destruído. Nada foi possível apurar sobre o autor.
"Há quem comece por examinar um livro, lendo-lhe o índice e há também quem tenha o gosto de ler o prefácio, antes de o abrir, vendo num relance o que mais lhe interessa, o que mais lhe chama a atenção. [...]
Por o prefácio o leitor ficaria com uma ideia, do que poderia ler e logo faria um juizo àcêrca da maior ou menor conveniência em o obter.
Assim, este livro começa por afirmar, que há um problema social, que os partidos políticos da actual sociedade não conseguem resolver e que êste problema social surgiu, porque embora se digam democráticos, radicais, socialistas, monárquicos ou conservadores, os partidos burgueses, nenhum dêles é capás de resolver esse problema, porque é uma luta entre os que teem e os que não teem, uma luta entre os que auferem grandes lucros, ou vivem dos rendimentos e os que vivem parcamente dos seus salários.
Êste problema, que só a revolução social pode resolver é o problema social e a êle se refere o primeiro capítulo dêste livro.
Pergunta-se e é justa a pergunta, qual a razão porque a revolução social ainda não surgiu a não ser na Rússia, qual a razão porque esse problema social ainda não teve a sua solução.
O problema social anda preso ao problema religioso e êste por sua vez tem conseguido protelar a sua solução, não sendo natural, que no estado actual do problema religioso êste exerça mais influência sobre o problema social.
Assim, o segundo capítulo versa o problema religioso, cuja ligação ao problema social é grande, procurando mostrar-se que o problema religioso encarado, como deve encarar-se, não exercerá mais a sua acção deletéria sobre o problema social e que êste se resolverá sem grandes delongas com a construção do socialismo, que é o terceiro capítulo, no qual se versa a organização de uma república socialista, sem se descer a minúcias, que pertencem mais a vontades ou pareceres comuns do que individuais.
No quarto capítulo em que se trata da «operários e camponeses» mostra-se que a revolução social não pára e que a república socialista não é um regime absoluto e a última méta do movimento social. [...]
No quinto faz-se uma demonstração prática da matéria versada nos capítulos anteriores, descrevendo-se a república dos sovietes e para que o leitor compreenda essa organização estadual, descreve-se pondo-a em relêvo ao lado das organizações dos estados burgueses.
No sexto, versando-se a República dos Municípios pretende tornar-se mais intuitiva a organização soviética e mostrar-se a forma porque essa organização pode ser aplicada imediatamente em qualquer povo, sem tal trabalho de realização seja difícil, pois não tem nada de transcendente, sendo mais difícil a um operário montar algumas vêzes um motor, ou concerta-lo, do que compreender a organização de uma República Socialista.
No sétimo capítulo, que se refere aos Estados Unidos Socialistas, mostra-se a conveniência de uma organização internacional das repúblicas dos trabalhadores e a vantagem da adesão de qualquer república a essa união, actualmente por intermédio da união russa, à qual se reunirá e mais tarde pela sua inclusão na Internacional Comunista, alto corpo político, por emquanto e mais tarde político-económico, da causa dos oprimidos.
É êste o assunto do Novo Mundo.
Foi escrito êste livro, como trabalho de organização e análise, e por isso, êle orientará o público na compreensão do que seja a revolução social, e quais os fins e princípios que orientam a nossa propaganda.
Não nos interessa a crítica daqueles que vivem a vida restrita da cama onde se de deitam, ou da mesa em que se enfartam.
Interessa-nos, sim, que mude o estado social actual, e se vencermos, como é natural, não sentiremos o menor prazer em torturar aqueles que nos atacaram com o seu profundo despreso e ares de superioridade, pois quando a dôr é grande ninguém a não ser o carrasco tem o direito de rir, ou de troçar."
(Excerto do Prefácio)
Índice:
I - O Problema Social. II - O Problema Religioso. III - Construção do Socialismo. IV - Operarios e Camponezes. V - A República dos Sovietes. VI - A República dos Municípios. VII - Estados Unidos Socialistas.
Exemplar brochado, na sua quase totalidade por abrir, em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
35€

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