20 agosto, 2019

PINTO, Fortunato Correia - O MILAGRE. (Scenas da Beira). Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira : Livraria Editora, 1909. In-8.º (18,5 cm) de [8], 158, [2] p. ; C.
1.ª edição.
Romance rural realista de cunho profundamente anticlerical. Obra dedicada pelo autor a Miguel Bombarda, conhecido médico alienista, professor e político republicano, que em 6 páginas faz o elogio das suas qualidades morais e humanas, vituperando a classe política e a influência jesuítica.
"- Não, lá que um homem poupe aquillo que tem, não andando para ahi, a estraga-lo em coisas inuteis, é justo; mas que leve a sua sovinice a não dar uma de X para uma solemnidade religiosa, isso é que não tem justificação possivel! - dizia o José da Loja, dando palmadas rijas sobre o balcão, contrariando os argumentos apresentados por um dos frequentadores do estabelecimento para justificar o «brazileiro», como é de uso chamar aos nossos compatriotas que vão ao Brazil, o unico dos habitantes da aldeia que não quisera concorrer para a festa do Coração de Jesus, que d'ali a dias devia realizar-se.
 O sr. José por certo não ligou sentido ás palavras que empregou - volveu o seu oppositor, que era um rapaz novo e d'aspecto delicado, mas agradavel - porque chamar sovina a quem, como o brazileiro, ahi gasta dinheiro a rodo, ha de concordar que é um contrasenso.
- Sim, eu quando disse sovina queria dizer... queria dizer... gaguejava o José da Loja, sem que lhe accudisse o termo salvador.
- Póde dizer que é sovina para coisas de religião - disse outro dos presentes, vindo em seu auxilio.
- É claro, é claro - confirmou o respeitavel commerciante empertigando-se e apresentando em toda a sua magestade o seu notabilissimo abdomen, ao mesmo tempo que ia sacudindo as moscas que n'um enxame numeroso teimavam em lhe não largar as grandes e polpudas orelhas e o tumido e oleoso pescoço, que a suja camisa, desabotoada, deixava completamente á vontade."
(Excerto do Cap. I)
Fortunato Correia Pinto (18??-19??). "Professor primário, republicano, conhece-se apenas uma obra de ficção, hoje ignorada quer enquanto texto literário quer enquanto documento: O Agitador."
(Fonte: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8814.pdf)
Encadernação cartonada do editor. O desenho da capa é de P. Guedes, sendo Dumas o gravador.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Capas apresentam manchas e pequenos defeitos.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

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