15 agosto, 2019

MARTINS, J. P. Oliveira - AS ELEIÇÕES (1878). Lisboa, Em Casa da Viuva Bertrand & C.ª (Successores, Carvalho & C.ª), 1878. In-8.º (22,5 cm) de 66, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Rara edição original deste interessante ensaio histórico e político sobre o sufrágio democrático.
"As idéas que exponho ao publico n'este opusculo já por vezes e verbalmente as tinha exposto a pessoas de elevado criterio, larga experiencia politica e provados conhecimentos. O acolhimento e meditada approvação com que foram recebidas incitaram-me a dar-lhes circulação mais geral.
Esperava o desdenhoso sorrir dos que tomam como paradoxos tudo o que sáe da estreita esphera da rotina constitucional: encontrei cousa diversa em muitos conservadores e em bastantes demagogos das minhas relações.
Decidi-me, pois, a publicar, n'um rapido esboço o systema das minhas idéas sobre a Representação do poder politico. Não lhe dei, nem penso dar-lhe o desenvolvimento conveniente, porque é provavel que o publico portuguez acolha o plano de um modo inteiramente diverso: isto é, com aquelle soberano desdem dos que possuem a consciencia de quanto valem."
(Preâmbulo)
"Cousa alguma demonstra melhor do que as eleições o conflicto permanente entre o modo real de sentir dos cidadãos e o modo convencional que faz com que á manifestação dos interesses e ambições de uma minoria minima se chame nos jornaes expressão da opinião publica.
O publico portuguez não tem opinião politica, nem partido. O interesse, quasi sempre nas suas fórmas mais elementares, muitas vezes nos seus aspectos mais abjectos, é o unico propulsor da machina eleitoral. Aquelles a quem nenhum interesse chama a votar, não votam; os que votam, fazem-no com um sentimento de tedio e de indifferença, e como quem tem a consciencia de praticar uma acção antiphatica.
Blazonar-se de não votar é cousa que se ouve a cada instante. Abster-se, passa por um acto nobre. Os que não tém politica, confessam-no com orgulho. Muitos dos que a tém chamam galés á profissão, e dizendo-o, ou exprimem o sentimento de nojo que se lhes levanta na consciencia, ou affectam partilhar uma repugnancia que a intelligencia lhe diz ser fundada.
As eleições são um acto condemnado. Quem as não verbera, escarnece-as. Quando não provocam anathemas, provocam chascos: duas fórmas de reprovação, identicas em si, mas expressas por modos que differem com os temperamentos. A maxima parte das vezes não provocam, porém, senão a indifferença com que quasi toda a gente olha para a miseria e para a immundice."
(Excerto do Cap. I)
Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845-1894). "Historiador, economista, antropólogo, crítico social e político, a sua ação e os seus trabalhos suscitaram controvérsia e tiveram considerável influência, não apenas em historiadores, críticos e literatos do seu tempo e do século XX, mas na própria vida política portuguesa contemporânea. Desde 1867, Oliveira Martins experimentou diversos géneros de divulgação cultural: romance e drama históricos, ensaios de reflexão histórica e política e doutrinária. Mas essas tentativas, de valor desigual, não alcançaram grande sucesso. Em 1879, dá-se uma inflexão no seu percurso intelectual, com o início da publicação da Biblioteca das Ciências Sociais, de sua exclusiva autoria. Embora alheia a intenções doutrinárias e ao espírito de sistema dominante na época (positivismo, determinismos vários), não deixaria de, pontualmente, exprimir estas tendências. Pelo largo fôlego e diversidade de matérias que pretendia abarcar - história peninsular, história nacional e ultramarina, história de Roma, antropologia, mitos religiosos, demografia, temas de economia e finanças, etc. - a coleção constituiu um projeto sem precedentes no meio cultural português da Regeneração, com o objetivo de generalizar todo um conjunto de saberes entre um público alargado. O empreendimento editorial ficaria marcado pelo autodidatismo de Oliveira Martins, uma curiosidade científica sem limites e um bem evidente pendor interdisciplinar e globalizante. Esse autodidatismo é afinal indissociável do próprio percurso biográfico e profissional do historiador."
(Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/oliveira-martins.html#.XVLSqkfOWM8)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos marginais; falha de papel no canto inferior esquerdo da contracapa. Deve ser encadernado.
Raro.
Com interesse histórico.
30€

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