VIANNA, Silva – CARTA A EL-REI. Ácerca da insubordinação da
armada portuguesa. Semana Santa de 1906. Lisboa, Typographia do Commercio,
1906. In-8º (21cm) de 10, [2] p. ; B.
Opúsculo em verso publicado por ocasião da insubordinação da
Armada em pleno Tejo, no ano de 1906. O autor apela ao Rei pedindo clemência
para os envolvidos, terminando o seu trabalho com a seguinte estrofe:
“Se tendes, como nós, filhos estremecidos,
em nome d’elles dae perdão para os vencidos.
Não ficam mal a um Rei mil rasgos de bondade,
nem abrigar no manto a bella caridade,
quando empregando-a assim, é prova manifesta
Que quem aos pobres dá, ao grande Deus empresta…”
A insubordinação da Armada na Semana Santa de 1906
“Em Lisboa, a insubordinação dos marinheiros começa no
Domingo de Ramos no cruzador D. Carlos e as sucessivas peripécias vão-se
sucedendo ao longo da Semana Santa. Imagine-se a Lisboa de 1906, nestes dias
altamente simbólicos do cristianismo, com os navios da Armada a ameaçar
bombardear o Terreiro do Paço e as Necessidades! Mas quem corporiza a Marinha
neste movimento? São cabos, são marinheiros e grumetes – aparentemente, nenhum
sargento sequer e, evidentemente, nenhum oficial, os quais de resto são
escorraçados do navio em que prestavam serviço. O próprio Major-General da Armada,
almirante Ferreira do Amaral (que virá a ser o chefe do governo da Acalmação,
pósregicídio), a autoridade suprema da corporação, tem de ir a bordo por duas
vezes, sendo-lhe prestadas pela marinhagem as honras militares devidas, embora
de mau modo, mas acabando esta por acatar o seu discurso, dizendo que iriam ser
feitas averiguações mas que o navio passaria ao estado de meio-armamento, com
nomeação de um encarregado-do-comando e o desembarque da maioria da guarnição.
Quando, porém, no dia seguinte se procede a este desembarque, com as praças a
serem levadas entre baionetas (do Exército) e em vagões de caminho-de-ferro
para as prisões de Caxias e S. Julião da Barra, repercute o ânimo revoltado da marujada,
que encontra apoio nos familiares e população civil do bairro operário e
popular de Alcântara e nas guarnições de diversos outros navios da esquadra.
Assim, na Sexta-Feira Santa, a rebelião havia alastrado aos cruzadores Vasco da
Gama e Adamastor, à canhoneira-torpedeira Tejo e ao torpedeiro n.º 4, havendo
também movimentos de solidariedade na fragata de vela D. Fernando e em algumas
unidades da Marinha em terra. Há tiros de armas ligeiras e fala-se na ameaça de
torpedeamento dos navios revoltados. O almirante Moraes e Sousa, que comandava
a divisão naval, demite-se e os navios são afastados uns dos outros. A punição
judicial que se seguiu foi muito forte, embora selectiva: mais de quarenta
condenados a penas de prisão superiores a 3 anos ou deportação para as
colónias. […] De acordo com as informações contidas nos processos judiciais e
em outras fontes (de imprensa e memoriais), percebe-se que já havia um comité
de marinheiros organizado pelo movimento republicano português, quiçá
influenciado pela Maçonaria ou a Carbonária.” (Oliveira, Luísa Tiago de &
Freire, João (org.) – Militares e Sociedade, Marinha e Política. Um século de
História. Lisboa, ISCTE, 2012)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa
apresenta vinco vertical e pequena falha de papel no canto superior esquerdo.
Invulgar.
15€
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