30 outubro, 2021

CHAGAS, M. Pinheiro - POEMA DA MOCIDADE SEGUIDO DO ANJO DO LAR.
Por...
Lisboa, Livraria de A. M. Pereira, 1865. In-8.º (17,5 cm) de 243, [1] p. ; [1] f. il. ; E.
1.ª edição.
Edição original desta obra que ficou para a história por ter despoletado uma das maiores polémicas de sempre na literatura portuguesa, conhecida por «Questão Coimbrã» ou «Questão do Bom Senso e Bom Gosto», e por ter representado o ponto de viragem no panorama literário nacional. De um lado, os jovens estudantes de Coimbra, liderados por Antero de Quental, que pretendiam o rejuvenescimento das letras - do outro lado, os situacionistas de António Feliciano de Castilho, protector de Pinheiro Chagas (que contava à data 22 anos), e a corte de bajuladores da Escola Romântica.
O extenso posfácio de Castilho ao Poema da Mocidade - em carta dirigida ao editor António Maria Pereira - é um violento ataque a Antero e aos novos ventos que sopravam de Coimbra.
Livro muitíssimo valorizado pela dedicatória autógrafa de António Maria Pereira, fundador e proprietário da casa livreira com o seu nome - que teve participação indirecta na questão, já que foi a si que AFC dirigiu a carta-posfácio - "ao seu presado amigo Vicente Jorge de Castro", tipógrafo-editor, proprietário da Castro & Irmão, iniciador d'O Panorama (1837-1867), e com Tomás de Aquino Gomes, da magnífica revista Archivo Pittoresco (1856-1868).
Ilustrado em separado com o retrato de Pinheiro Chagas (que raramente acompanha a obra).
"Quando Antero de Quental publicou o Bom Senso e Bom Gosto, dando «oficialmente» início à Questão Coimbrã, já era evidente a hostilidade entre muitos dos intelectuais lisboetas que gravitavam em torno do velho escritor António Feliciano de Castilho e os jovens estudantes de Coimbra. A edição dos três primeiros livros de poesia de Antero de Quental e Teófilo Braga, principalmente o teor dos seus prefácios filosóficos, causaram forte abalo no grupo de Lisboa, conhecido por «sociedade do elogio mútuo».
Pinheiro Chagas, um dos mais queridos pupilos do «mestre», chamou a si o encargo de atacar nos seus folhetins as «tisanas filosóficas» dos jovens escritores. A polémica tornou-se inevitável quando Castilho, em carta ao editor que ia publicar o poema de Pinheiro Chagas, «Poema da Mocidade», seguido do poemeto «Anjo do lar», opina sobre a poesia que tinha deixado de ser fluente e inteligível, «conchegada com a nossa índole». Lamenta não perceber para onde irão Antero e Teófilo, nem que destino será o deles.
A resposta de Antero é uma refutação indignada e violenta às opiniões de Castilho. «Acabo de ler o escrito de V. Exª. onde, a propósito do bom senso e do bom gosto, se fala com áspera censura da chamada escola de Coimbra.» Mas Antero explica que não são as palavras nem mesmo as ideias que indignam Castilho. «A guerra faz-se à impiedade destes hereges das letras, que se revoltam contra a autoridade dos papas e pontífices […]. Faz-se contra quem entende pensar por si e ser só responsável pelos seus actos e palavras.» E Antero continua a alinhar acusações violentas contra o patriarca das letras que não lhe responderá.
Da multiplicidade de intervenções que se irão registar em 1866, trinta e duas ao todo, refira-se a de Ramalho Ortigão, «Literatura de Hoje» e a de Camilo Castelo Branco, «Vaidades Irritadas e Irritantes». Ramalho, no seu belo estilo «farpiano», analisa ponto por ponto, negativamente, a carta de Castilho, deixando-o bastante combalido. Quanto à intervenção de Antero, rejeita-a liminarmente, chamando-lhe covarde por se dirigir, naqueles termos, a um ancião. Tão severa opinião vai resultar num duelo entre os dois, ficando Ramalho levemente ferido num braço.
O choque entre Antero e Castilho teve um efeito libertador. De um e de outro lado os folhetos e os folhetins saltaram para a luz do dia. Uns, muitos, atacavam o patriarca das letras, outros censuravam Antero pela falta de respeito para com o paladino da instrução primária, velho, doente e cego."
(Fonte: http://www.bnportugal.gov.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=1076%3Aapresentacao-emissao-filatelica-questao-coimbra-28-set-14h15&catid=165%3A2015&Itemid=1096&lang=pt)
"Esmagou-me o titulo escolhido: Poema da Mocidade! Quem o poderia escrever? Talvez v. ex.ª, [Castilho], o eterno cantor de vinte annos, o poeta, cujo outono, como admiravelmente disse o nosso Thomaz Ribeiro, é uma primavera com fructos. Talvez Victor Hugo, o colosso talhado para todas as emprezas gigantes... mas eu?
O meu poema intitula-se pois falsamente, Poema da Mocidade. Se a etiqueta litteraria me deixasse passar um titulo tão extenso, denominal-o-hia «Uma Estrophe do Poema da Mocidade». Nada mais é efectivamente. É um dos relanços d'esse esplendido panorama, uma das flores d'esse mimoso jardim."
(Excerto da dedicatória do autor a AFC)

"Sonhos da mocidade! ardentes devaneios,
que me afagaes gentis, quando esmorece o sol!
frescas visões d'um amor! suavissimos gorgeios,
que desprende em meu peito ignoto rouxinol!

vagas aspirações! poemas indisiveis,
que na fragante balsa, e no rosal colhi!
vago e meigo scismar d'amores impossiveis,
com virgens ideaes, phantasmas que entrevi!
 
sois o enlevo gentil, que a mente me extasia!
Oh! loira juventude! Oh! nume incantador!
Quero no teu altar, que hoje profana a orgia,
puro incenso queimar, sagrar-te um casto amor!"

(Excerto de Invocação á Mocidade)

Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Manuseado; pastas cansadas.
Raro.
Com interesse histórico.
Indisponível

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