24 outubro, 2021

ATAVISMO DO TALENTO. Breves memorias de uma senhora lisbonense
. Evora, Minerva Commercial, de José Ferreira Baptista, 1909. In-8.º (21 cm) de [2], 47, [1] p. ; [1] f. il. ; B.
1.ª edição.
Obra algo insólita, composta pelas memórias da autora, senhora bem nascida, - protegida pela capa do anonimato, - reunidas a estâncias de uma pessoa, que sabendo da desilusão desta com o Montepio Geral e dos seus estatutos restritivos da condição feminina, lhe pediu que escrevesse sobre o assunto.
Livro ilustrado com uma folha extratexto contendo o retrato de quatro personalidades, que, julgamos familiares da autora, com descrição na folha seguinte dos nomes, datas, ocupações, predicados pessoais e datas relevantes.
Valorizado pela dedicatória manuscrita na capa da autora a uma sua prima.
"De ha muito pensamos nós que uma disposição dos Estatutos do Monte Pio Geral mais serve para dar a morte do que a vida, a morte de alma, aos beneficiados.
A pensionada, descendente de socio fallecido, perde a pensão, logo que mude de estado, logo que se casar.
É clara a illação que brota do preceito. Se a mulher não tiver outros meios de subsistencia do que os que perde com o casamento, e o marido que procura, ou a procurar a ella os não tiver, o prejuizo será grande, a miseria quasi certa, com o seu cortejo de angustias e de lancinantes dores... Foge a felicidade á pensionada.
É, pois, consequencia de tal disposição, que a mulher tem de viver sósinha, sem familia eleita de seu coração, solteira por toda a vida.
No campo da moral pode essa mulher solteira ser o prototypo da decencia e da honestidade, ou ser mesmo um modêlo de licenciosidada mascarada, vivendo como lhe aprouver, sempre solteira e privada dos encantos da familia, dos prazeres conjugaes das delicias da prole nos filhos, que podéra gerar, educar, idolatradamente amar. [...]
Conhecemos a uma dama solteira, honesta e respeitada, já não môça, victima do Monte Pio Geral. Por vezes lhe ouviramos alludir delicada a não poder ser na vida mais mais do que escrava e nunca senhora. [...]
Atrevemo-nos a lhe pedir que escrevesse suas memorias. Veio recusa: acudimos com reparos, salientando o quanto é pobre entre nós a bibliographia feminina, para ser mais do que extensa a masculina. [...]
Por fim de breve contenda, de divergencias fommos atendidos.
É-nos agradavel o tornar publicas as singelas memorias dessa senhora, a quem occultamos o nome, por não offender sua modestia..."
(Excerto de O Monte Pio mata)
Matérias:
O Monte Pio mata [preâmbulo]. | Do anno de 1860 a 1879. | De 1872 a 1877. | De 1877 a 1882. | De 1882 a 1890. | De 1890 a 1894. | De 1894 a 1909. | Em abril de 1909. | O piano - Ainda memorias. | Prazeres no estudo. | Illusões e verdade. | Referências topographicas: Estremoz; Evora e seus campos; Serpa e seus arredores; Braga e seus arredores; Bussaco e suas bellezas.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas cansadas, frágeis, com defeitos.
Raro.
20€

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