19 fevereiro, 2021

AÇA, Zararias d' - UM DOM JOÃO DE CAPA E ESPADA. Estudo historico sobre a aristocracia e a sociedade portugueza no seculo XVII. Portugal Antigo. Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1900. In-8.º (21 cm) de [4], 71, [5] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante retrato da corte de setecentos, com as suas disputas e intrigas palacianas, através do percurso de D. João de Castro, conhecido "aventureiro" da sociedade portuguesa da época.
"D. João de Castro!... Nas historia e chronicas da vida portugueza encontra-se duas vezes este nome - illustre entre os illustres. No seculo XVI imortalisou-o um d'esses homens, raros, em todos os tempos, pela elevação do espirito, pela grandeza d'alma, pelo valor sobrehumano - um dos varões fortes, de que falla o poeta. Sabio com Pedro Nunes, cortezão com o infante D. Luiz, terror dos piratas nos mares africanos, assombro e vencedor dos asiaticos nas guerras do Oriente, modelo de fidalgos, no tempo em que elles já principiavam a escassear, este é o D. João de Castro da historia, o heroe de Jacintho Freire, o epico, o lendario defensor de Diu, o famoso vice-rei da India!
Depois, e não a par d'este, que figuraria com realce entre os varões illustres de Plutarcho, apparece-nos, no seculo seguinte, outro do mesmo nome, porventura do mesmo sangue, e bravo e destemido até á temeridade; porém os seus feitos tiveram mais estreito theatro, quasi não saíram das fronteiras do paiz; não os cantaram os poetas, nem os proclama a historia, e ficaram eternamente ignorados, se a chronica contemporanea não se encarregasse de nos transmittir as suas proezas e aventuras.
Um verdadeiro heroe dos romances de capa e espada - este segundo D. João de Castro! [...]
Pois bem, o nosso D. João poderia, se tivesse vivido na côrte de França, fornecer ao genial romancista [Dumas] o original d'um quadro mosqueteiro. Fidalgo, valente e aventureiro, é completo: não lhe faltaram a temeridade, levada até á loucura, nem esses desvairados assomos de vaidade, que fazem, ás vezes, d'um heroe um assassino! [...]
Completo para a phantasia - protagonista d'um poema, d'um drama ou d'um romance - representa admiravelmente a sua epocha. Não seria unico na sua especie, porém é typico - era genuinamente um valentão. Atravez da longa, emmaranhada e escandalosa chronica da côrte de D. Affonso VI e de D. Pedro II, por entre os factos politicos, religiosos, e amorosos do tempo, surge-nos esta figura, sempre illuminada de vermelho, sempre com a mascara da tragedia, sempre com a espada nua e gottejante!
A primeira vez que nos apparece este terrivel D. João é na Chamusca, pelo S. Martinho de 1667, em sanguinolenta aventura. O que lhe fez um capitão d'aquella villa, e quem era elle, é o que não sabemos. Coisa de monta seria, a avaliar pela desaffronta que d'elle tomou o nosso heroe. Mas, grande aggravo ou pequeno, que para taes homens não ha estalão, por onde os possamos julgar, o que é certo é que «a esta facção, tão lluzida, levou elle muita gente comsigo,» segundo reza a chronica, e que era grande a sua audacia, e não menor a crueldade, porque ao seu adversario, á sua victima, não lhe valeram nem o asylo sagrado da sua casa, nem a doença, que o tinha preso no leito, nem as supplicas, as lagrimas e os gritos da mulher e dos filhos, porque a elle o matou, e a todos feriu o seu implacavel inimigo! [...]
Escapou elle á justiça, ou não o quiz ella ver? Se se escondeu ou expatriou, não andou por muito tempo fugido, nem foi mui demorado o encerro; em todo o caso nem o arrependimento, nem o temor, tinham accesso n'aquella alma feroz e impenitente, porque n'aquelle mesmo anno de 1667, na noite de sabbado, 7 de dezembro, achamos envolvido o furioso bravo n'uma das tragedias mais celebres do tempo - a morte de Francisco de Mello, marquez de Sande!"
(Excerto do Cap. I, A morte do marquez de Sande)
Indice:
I - A morte do marquez de Sande. II - As «Monstruosidaes do tempo e da fortuna» e o seu auctor. III - Os livros de Memorias - Sua importancia para o conhecimento das épocas e dos costumes. IV - A aristocracia portugueza. V - O conde de Mesquitella - Final da tragedia de S. Domingos. VI - O casamento de D. Affonso VI. VII - As festas reaes. VIII - Os desafios dos fidalgos. IX - Patria, religião e amores. X - Em Hespanha. XI - Ultimas aventuras.
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
35€

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