LEMOS, João de – CANCIONEIRO. De… Primeiro Volume : Flores
e Amores [Segundo Volume : Religião e Patria e Terceiro Volume : Impressões e
Recordações]. Lisboa, Escriptorio do
Editor, 1858-1866. 3 vols in-8.º (15,5 cm) de XI, [1], 260, [2] p. (I), VII, [1],
273, [3] p. (II) e 277, [3] p. (III) ; E.
1.ª edição.
Apreciado Cancioneiro de João de Lemos, invulgar quando completo - o 3.º volume falta muitas vezes devido à sua publicação tardia relativamente aos dois primeiros.
"Coleção de poesias
de João de Lemos,
dividida em três volumes, "Flores e Amores" [1858], "Religião e
Pátria" [1859] e "Impressões
e Recordações" [1866], que
reúne, como o autor
explica no prefácio, várias composições dispersas
por periódicos literários
como a Revista Universal Lisbonense ou O Trovador. O
primeiro volume contém as composições de temática
amorosa e ultrarromântica
(incluindo a "Invocação"
ao arcanjo da poesia
que abriu O Trovador); o segundo acolhe
os "versos políticos";
o terceiro, distanciado
quase uma década dos anteriores, colige, como afirma o autor,
"alguns de (seus primeiros versos publicados)"
e "outros, que talvez ficassem melhor noutra parte, ou só
agora deu com eles, ou foram feitos
depois". Aqui se encontram algumas das composições mais famosas de João de Lemos,
como a célebre "Lua
de Londres", "O
sino da minha terra",
"Eu vivo só do passado" e "Na
morte do proscrito",
dedicado a D. Miguel."
(Fonte: infopédia)
"Em duas diversas epochas, com dois
títulos differentes, annunciei a publicação dos meus versos, e de ambas as
vezes deixei o annuncio por mentiroso.
Não me arrependo; ainda me não
arrependi até hoje.
De annunciar a publicação, sim; de
deixar de publicar, não.
Quando deitei o primeiro pregão,
estava ainda aos bancos da Universidade. Incitaram-me a isso applausos e
instancias de amigos, talvez cegos pela mizade e de certo tão inexperientes
como eu, que os attendi, ao principio, porque tambem a vaidade de criança me
andava seduzindo para lhes dar ouvidos.
Por fortuna, depois, ora com a
preguiça ora com a reflexão, resisti a mim e a elles. […]
Mas ainda bem que não publiquei
tudo quanto então publicaria! N'essa parte morro impenitente. Sabem do que me
tenho arrependido? É da publicidade que dei nos jornaes a muitos versos de
então. Verdade, verdade, a fogueira estava chamando por grande parte delles.
Entretanto a indulgencia do publico, que foi grande, os gabos com que, pela
imprensa, me animaram pessoas, que já não faziam declinar a competência por
suspeitas, visto que, a esse tempo, ou eram pouco, ou não eram, do meu
conhecimento, tudo isto me ia fazendo mandar mais versos para os jornaes, e
authorisava novas instancias. O amor-proprio já se sabe que repetia, e com
maior força, as suas lisongeiras persuasões.
Não posso deixar de me referir
principalmente ao senhor Antonio Feliciano de Castilho, que na REVISTA
UNIVERSAL me coroou por tantas vezes com um favor mais que generoso. Tome para
si a culpa que lhe cabe, que não a teve pequena, no segundo annuncio da
collecção dos meus versos, alguns annos de pois do primeiro.
Metteu-se, porém, a politica de
permeio a levar-me o tempo, foi-se-lhe ainda reunindo novamente a reflexão, e
faltei outra vez á promessa.
Com a divisão que fiz nos tres
volumes, quiz separar, até certo ponto, as epochas a que correspondem, embora
em todos elles haja composições que, pelo rigor das datas, não lhes pertenciam.
Mas são poucas, e, em todo caso, o genero de idéas exigia aquella collocação.
Procurei, quanto pude, que as correcções não alterassem as feições
características. No que, em vez dephysionomia, me pareceu deformidade, cortei
sem do; o resto, onde ainda havia bastante que podar, cuidei que era de minha
obrigação deixal-o. Intendi que no pequeníssimo logar que os meus versos hajam
de tomar, se tomarem, nas lettras patrias, fazia mais serviço em assignalar o
caminho com as minhas quedas, do que em pôr-me agora, com as minhas idéas de
hoje, a querer endireitar de todo corcovas, que já me pareceram bellezas, que
pertencem de nascença ao corpo em que estão, e que Deus sabe se por fim não
ficariam como aquella gambia de que falia Bocage - tortas para o outro lado.
Tem-se dito que introduzi, ou fiz correr, certa forma nova nas composições
lyricas, e até com esta prioridade me argumentavam alguns para eu me não ficar
atraz em reunir o que andava pelas folhas politicas e litterarias, receiando
que tambem assim ficasse atraz dos mais na historia que se fizesse da nossa
poesia moderna.
Não sei se se ha-de fazer tal
historia, nem se lá hei-de ou devo entrar, como não sei se fui adiante ou atraz
de ninguem. […]
Agora, os meus pobres versos que
vivam ou morram como poderem."
(Excerto da introdução)
João de Lemos
de Seixas Castelo Branco Nascimento (1819-1890). Poeta ultra-romântico
português, natural do Peso da Régua. “O «trovador» João de Lemos, como era
conhecido desde o tempo de Coimbra, onde se formou em direito, pela publicação
do jornal poético O Trovador, interessantíssimo repositório das
produções poéticas dum grupo de moços estudantes. Além dele, alma e director
dessa publicação, faziam parte do Trovador Luís da Costa Pereira,
António Xavier Rodrigues Cordeiro, José Freire de Serpa, Augusto Lima e Couto
Monteiro.”
“Além de poesias de pendor ultra-romântico, escreveu o livro
em prosa Serões da Aldeia. O seu lirismo piegas foi criticado pelos escritores
realistas. O poema "A Lua de Londres" é ridicularizado numa passagem
de Os Maias de Eça de Queirós.
Obras: Poesia – Cancioneiro
(1858-1867); O Livro de Elisa: Fragmentos (1869); Canções da Tarde
(1875); O Tio Damião (poema lírico, 1886); O Monge Pintor (1889).
Prosa – Serões de Aldeia (1876). Teatro – Maria Pais Ribeira
(drama em 4 atos); Um Susto Feliz (comédia).”
Encadernações coevas em meia de pele com ferros gravados a
ouro nas lombadas.
Exemplares em bom estado de
conservação. Defeitos nas extremidades das lombadas; assinatura de posse na f.
anterrosto dos três volumes.
Invulgar.
65€
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