16 fevereiro, 2021

LEMOS, João de – CANCIONEIRO. De… Primeiro Volume : Flores e Amores [Segundo Volume : Religião e Patria e Terceiro Volume : Impressões e  Recordações]. Lisboa, Escriptorio do Editor, 1858-1866. 3 vols in-8.º (15,5 cm) de XI, [1], 260, [2] p. (I), VII, [1], 273, [3] p. (II) e 277, [3] p. (III) ; E.
1.ª edição.
Apreciado Cancioneiro de João de Lemos, invulgar quando completo - o 3.º volume falta muitas vezes devido à sua publicação tardia relativamente aos dois primeiros.
"Coleção de poesias de João de Lemos, dividida em três volumes, "Flores e Amores" [1858], "Religião e Pátria" [1859] e "Impressões e Recordações" [1866], que reúne, como o autor explica no prefácio, várias composições dispersas por periódicos literários como a Revista Universal Lisbonense ou O Trovador. O primeiro volume contém as composições de temática amorosa e ultrarromântica (incluindo a "Invocação" ao arcanjo da poesia que abriu O Trovador); o segundo acolhe os "versos políticos"; o terceiro, distanciado quase uma década dos anteriores, colige, como afirma o autor, "alguns de (seus primeiros versos publicados)" e "outros, que talvez ficassem melhor noutra parte, ou só agora deu com eles, ou foram feitos depois". Aqui se encontram algumas das composições mais famosas de João de Lemos, como a célebre "Lua de Londres", "O sino da minha terra", "Eu vivo só do passado" e "Na morte do proscrito", dedicado a D. Miguel."
(Fonte: infopédia)
"Em duas diversas epochas, com dois títulos differentes, annunciei a publicação dos meus versos, e de ambas as vezes deixei o annuncio por mentiroso.
Não me arrependo; ainda me não arrependi até hoje.
De annunciar a publicação, sim; de deixar de publicar, não.
Quando deitei o primeiro pregão, estava ainda aos bancos da Universidade. Incitaram-me a isso applausos e instancias de amigos, talvez cegos pela mizade e de certo tão inexperientes como eu, que os attendi, ao principio, porque tambem a vaidade de criança me andava seduzindo para lhes dar ouvidos.
Por fortuna, depois, ora com a preguiça ora com a reflexão, resisti a mim e a elles. […]
Mas ainda bem que não publiquei tudo quanto então publicaria! N'essa parte morro impenitente. Sabem do que me tenho arrependido? É da publicidade que dei nos jornaes a muitos versos de então. Verdade, verdade, a fogueira estava chamando por grande parte delles. Entretanto a indulgencia do publico, que foi grande, os gabos com que, pela imprensa, me animaram pessoas, que já não faziam declinar a competência por suspeitas, visto que, a esse tempo, ou eram pouco, ou não eram, do meu conhecimento, tudo isto me ia fazendo mandar mais versos para os jornaes, e authorisava novas instancias. O amor-proprio já se sabe que repetia, e com maior força, as suas lisongeiras persuasões.
Não posso deixar de me referir principalmente ao senhor Antonio Feliciano de Castilho, que na REVISTA UNIVERSAL me coroou por tantas vezes com um favor mais que generoso. Tome para si a culpa que lhe cabe, que não a teve pequena, no segundo annuncio da collecção dos meus versos, alguns annos de pois do primeiro.
Metteu-se, porém, a politica de permeio a levar-me o tempo, foi-se-lhe ainda reunindo novamente a reflexão, e faltei outra vez á promessa.
Com a divisão que fiz nos tres volumes, quiz separar, até certo ponto, as epochas a que correspondem, embora em todos elles haja composições que, pelo rigor das datas, não lhes pertenciam. Mas são poucas, e, em todo caso, o genero de idéas exigia aquella collocação. Procurei, quanto pude, que as correcções não alterassem as feições características. No que, em vez dephysionomia, me pareceu deformidade, cortei sem do; o resto, onde ainda havia bastante que podar, cuidei que era de minha obrigação deixal-o. Intendi que no pequeníssimo logar que os meus versos hajam de tomar, se tomarem, nas lettras patrias, fazia mais serviço em assignalar o caminho com as minhas quedas, do que em pôr-me agora, com as minhas idéas de hoje, a querer endireitar de todo corcovas, que já me pareceram bellezas, que pertencem de nascença ao corpo em que estão, e que Deus sabe se por fim não ficariam como aquella gambia de que falia Bocage - tortas para o outro lado. Tem-se dito que introduzi, ou fiz correr, certa forma nova nas composições lyricas, e até com esta prioridade me argumentavam alguns para eu me não ficar atraz em reunir o que andava pelas folhas politicas e litterarias, receiando que tambem assim ficasse atraz dos mais na historia que se fizesse da nossa poesia moderna.
Não sei se se ha-de fazer tal historia, nem se lá hei-de ou devo entrar, como não sei se fui adiante ou atraz de ninguem. […]
Agora, os meus pobres versos que vivam ou morram como poderem."
(Excerto da introdução)
João de Lemos de Seixas Castelo Branco Nascimento (1819-1890). Poeta ultra-romântico português, natural do Peso da Régua. “O «trovador» João de Lemos, como era conhecido desde o tempo de Coimbra, onde se formou em direito, pela publicação do jornal poético O Trovador, interessantíssimo repositório das produções poéticas dum grupo de moços estudantes. Além dele, alma e director dessa publicação, faziam parte do Trovador Luís da Costa Pereira, António Xavier Rodrigues Cordeiro, José Freire de Serpa, Augusto Lima e Couto Monteiro.”
“Além de poesias de pendor ultra-romântico, escreveu o livro em prosa Serões da Aldeia. O seu lirismo piegas foi criticado pelos escritores realistas. O poema "A Lua de Londres" é ridicularizado numa passagem de Os Maias de Eça de Queirós.
Obras: Poesia – Cancioneiro (1858-1867); O Livro de Elisa: Fragmentos (1869); Canções da Tarde (1875); O Tio Damião (poema lírico, 1886); O Monge Pintor (1889). Prosa – Serões de Aldeia (1876). Teatro – Maria Pais Ribeira (drama em 4 atos); Um Susto Feliz (comédia).”
Encadernações coevas em meia de pele com ferros gravados a ouro nas lombadas.
Exemplares em bom estado de conservação. Defeitos nas extremidades das lombadas; assinatura de posse na f. anterrosto dos três volumes.
Invulgar.
65€

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