06 janeiro, 2020

SILVA, José Seabra da - MEMORIAL // SOBRE // O SCISMA // DO SIGILLISMO // QUE // OS DENOMINADOS JACOBEOS, E BEATOS // LEVANTÁRAM NESTE REINO DE PORTUGAL // DIVIDIDO EM DUAS PARTES // E APRESENTADO // NA REAL MEZA CENSORIA // PELO DOUTOR // JOSEPH DE SEABRA DA SILVA // Desembargador da Casa da Supplicação, e Procurador da COROA // DE //SUA MAGESTADE. // NA PARTE PRIMEIRA // SE CONTÉM // HUM COMPENDIO HISTORICO // DOS FACTOS DO REFERIDO SCISMA // NA PARTE SEGUNDA // SE CONTÉM // HUM DISCURSO JURIDICO // SOBRE A INDISPENSAVEL NECESSIDADE, QUE HA DE SE ABOLIR // O MESMO PERNICIOSO SCISMA; // E SOBRE OS MEIOS, E MODOS // DE O ARRANCAR PELAS SUAS RAIZES. // LISBOA // NA REGIA OFFICINA TYPOGRAPHICA // ANNO MDCCLXIX.
In-fólio (31 cm) de [4], XVI, 268, [2] p. ; B.
1.ª edição.
"O estratagema do abuso do Sigillo Sacramental, para com elle se fazer caminho a intrigas, maquinações, e interesses humanos, nem he novo no Mundo, nem os Jacobeos o inventáram, nem cahíram nelle por ignorante, e mal entendido zelo espiritual.
Muito pelo contrario, tendo visto o que outros maliciosos haviam maquinado para fazerem mais abundantes as venenosas colheitas da sua hypocrisia; lhes seguíram cuidadosamente os passos, imitando-os em tudo, e por tudo; na errada consideração, de que não haveria quem fosse descubrir as nocivas fontes, donde os mesmos Jacobeos deriváram huma tão abominavel malignidade, para com ella arruinarem todo este Reino, que supunham desarmado de tão recônditas noções.
Porém para se fazerem notorios os pestilentes charcos, em que elles beberam as impurissimas aguas de tão perversas maximas, não he necessario retroceder aos tempos mais remotos. Basta lançar os olhos sobre os ultimos quatro Seculos da Igreja; e elles nos dam logo sinco famosos exemplos do mesmo sacrilego abuso, que mostram pela identidade das suas malicias haverem sido os certos, e verdadeiros typos, de que a infame Seita dos Jacobeos se servio para propagar o referido abuso.
[…]
E em fim se confirmou o mesmo juízo ha bem poucos annos neste Reino: Por huma parte, porque havendo-se levantado nelle no anno de 1744 a infame Seita dos Sigillistas, que fazem a materia da Parte Primeira do Memorial, a que serve de Prologo esta Introducção, se vio por factos decisivos, e Cartas originaes do proprio punho, que o Procurador, Propugnador, e acerrimo Aquiles dos ditos Sigillistas, e o seu intimo Confidente, que foi sempre contínua, e obstinadamente o famoso Jesuita Manoel de Azevedo: E pela outra com os abusos do Confessionario, que depois fez coherentemente nesta Corte, e Reino o infame Gabriel Malagrida, seguindo este abominável costume da sua Sociedade.
Estas foram em fim as venenosas fontes, onde os Jacobeos beberam as mortiferas aguas da especulação, e da pratica do abuso do Sigillo Sacramental, sem que os reportasse nem o horror do crime, nem os escarmento das penas: Porque entendêram, que assim como o tinham sustentado os referidos Jesuitas, o sustentariam eles armados com a sua natural soberba, e arrogância, e com as grandes forças, com que he a todos notório, que por muitos anos opprimíram, e arruinaram a todo este Reino até com o referido abuso tão animosa, e obstinadamente, como se manifestará pelo Compendio Historico, a que agora passo.”
(Excerto da Introducção previa)
José de Seabra da Silva (1732-1813). “Fidalgo cavaleiro e moço fidalgo com exercício na Casa Real, por alvará de 20 de setembro de 1753, grande estadista, Ministro de Estado e guarda-mor da Torre do Tombo. Doutorou-se em “Leis” com 19 anos na Universidade de Coimbra. Impressionado o seu exame vago ou de jure aperto, que presenciou, chamou-o o Marquês de Pombal para junto de si, e primeiro, como ele próprio diz, encarregou-o simplesmente de ser o seu amanuense particular, de lhe minutar os papéis de menos segredo. Auxiliando-o vivamente na sua campanha contra os jesuítas, foi conquistando cada vez mais as boas graças de Sebastião de Carvalho e Melo, que o fez seu ajudante de estado. Em 1765 foi nomeado procurador da coroa, e nessa qualidade continuou a ser um poderoso auxiliar do marquês de Pombal na sua guerra contra os jesuítas e contra os jacobinos ou sigilistas. Em 1765 foi nomeado procurador da coroa, e nessa qualidade continuou a ser um poderoso auxiliar do marquês de Pombal na sua guerra contra os jesuítas e contra os jacobinos ou sigilistas. Por isso, tendo sido nomeado a 25 de abril de 1765, foi logo a 11 de novembro do mesmo ano nomeado chanceler da Casa da Suplicação, a 29 de abril de 1766 guarda-mor da Torre do Tombo, sendo já desde 1757 fiscal da companhia do Grão-Pará e Maranhão, desde 1760 executor da real fazenda da rainha D. Maria Ana. A carta régia de 25 de janeiro de 1770 fazia-o desembargador do Paço, e finalmente a 3 de junho de 1771 era nomeado ministro de Estado adjunto ao marquês de Pombal. José de Seabra esteve no poder três anos, merecendo sempre a confiança mais completa do grande ministro. Em 1774, sem que nada o fizesse prever, foi detido por ordem de D. José e posteriormente deportado para o Brasil, seguindo-se Angola no seu calvário. Regressou ao Reino em 1778, após a morte de D. José, tendo sido reabilitado pela rainha D. Maria I. Nunca se soube verdadeiramente o que terá concorrido para a sua “descida aos infernos”, constituindo ainda hoje um dos maiores mistérios da História portuguesa. Aponta-se como causa mais provável, a sua indiscrição com um segredo de estado: afastar do trono a princesa herdeira, D. Maria - cujo fervor religiosos desagradaria a Pombal - em favor de seu filho, o príncipe D. José.”
Exemplar brochado em razoável estado geral de conservação. Apresenta no entanto, alguns defeitos de relevo: falha de papel (sem afectação do texto); folhas vincadas no canto inferior direito em grande parte do livro; vestígios antigos de humidade ao longo da obra, com particular incidência no início e no final.
Conserva as capas de brochura originais.
Muito raro.
Com interesse histórico.
55€

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