SILVA, José Seabra da - MEMORIAL // SOBRE // O SCISMA // DO SIGILLISMO // QUE // OS DENOMINADOS
JACOBEOS, E BEATOS // LEVANTÁRAM NESTE REINO DE PORTUGAL // DIVIDIDO EM DUAS PARTES // E APRESENTADO
// NA REAL MEZA CENSORIA // PELO DOUTOR // JOSEPH DE SEABRA DA SILVA // Desembargador da Casa da Supplicação, e
Procurador da COROA // DE //SUA MAGESTADE. // NA PARTE PRIMEIRA // SE CONTÉM // HUM COMPENDIO HISTORICO // DOS FACTOS DO REFERIDO SCISMA // NA PARTE SEGUNDA // SE CONTÉM // HUM DISCURSO JURIDICO // SOBRE A INDISPENSAVEL NECESSIDADE, QUE HA DE SE ABOLIR // O MESMO PERNICIOSO SCISMA; // E SOBRE OS MEIOS, E MODOS // DE O ARRANCAR PELAS SUAS RAIZES. // LISBOA // NA REGIA OFFICINA TYPOGRAPHICA // ANNO MDCCLXIX.
In-fólio (31 cm) de [4], XVI, 268, [2] p. ; B.
1.ª edição.
1.ª edição.
"O estratagema do abuso do Sigillo Sacramental, para com
elle se fazer caminho a intrigas, maquinações, e interesses humanos, nem he novo
no Mundo, nem os Jacobeos o inventáram, nem cahíram nelle por ignorante, e mal
entendido zelo espiritual.
Muito pelo contrario, tendo visto o que outros maliciosos
haviam maquinado para fazerem mais abundantes as venenosas colheitas da sua
hypocrisia; lhes seguíram cuidadosamente os passos, imitando-os em tudo, e por
tudo; na errada consideração, de que não haveria quem fosse descubrir as
nocivas fontes, donde os mesmos Jacobeos deriváram huma tão abominavel
malignidade, para com ella arruinarem todo este Reino, que supunham desarmado
de tão recônditas noções.
Porém para se fazerem notorios os pestilentes charcos, em
que elles beberam as impurissimas aguas de tão perversas maximas, não he
necessario retroceder aos tempos mais remotos. Basta lançar os olhos sobre os
ultimos quatro Seculos da Igreja; e elles nos dam logo sinco famosos exemplos
do mesmo sacrilego abuso, que mostram pela identidade das suas malicias haverem
sido os certos, e verdadeiros typos, de que a infame Seita dos Jacobeos se
servio para propagar o referido abuso.
[…]
E em fim se confirmou o mesmo juízo ha bem poucos annos
neste Reino: Por huma parte, porque havendo-se levantado nelle no anno de 1744
a infame Seita dos Sigillistas, que fazem a materia da Parte Primeira do
Memorial, a que serve de Prologo esta Introducção, se vio por factos decisivos,
e Cartas originaes do proprio punho, que o Procurador, Propugnador, e acerrimo
Aquiles dos ditos Sigillistas, e o seu intimo Confidente, que foi sempre
contínua, e obstinadamente o famoso Jesuita Manoel de Azevedo: E pela outra com
os abusos do Confessionario, que depois fez coherentemente nesta Corte, e Reino
o infame Gabriel Malagrida, seguindo este abominável costume da sua Sociedade.
Estas foram em fim as venenosas fontes, onde os Jacobeos
beberam as mortiferas aguas da especulação, e da pratica do abuso do Sigillo
Sacramental, sem que os reportasse nem o horror do crime, nem os escarmento das
penas: Porque entendêram, que assim como o tinham sustentado os referidos
Jesuitas, o sustentariam eles armados com a sua natural soberba, e arrogância,
e com as grandes forças, com que he a todos notório, que por muitos anos
opprimíram, e arruinaram a todo este Reino até com o referido abuso tão
animosa, e obstinadamente, como se manifestará pelo Compendio Historico, a que
agora passo.”
(Excerto da Introducção
previa)
José de Seabra da Silva (1732-1813). “Fidalgo cavaleiro e
moço fidalgo com exercício na Casa Real, por alvará de 20 de setembro de 1753,
grande estadista, Ministro de Estado e guarda-mor da Torre do Tombo.
Doutorou-se em “Leis” com 19 anos na Universidade de Coimbra. Impressionado o
seu exame vago ou de jure aperto, que
presenciou, chamou-o o Marquês de Pombal para junto de si, e primeiro, como ele
próprio diz, encarregou-o simplesmente de ser o seu amanuense particular, de
lhe minutar os papéis de menos segredo. Auxiliando-o vivamente na sua campanha
contra os jesuítas, foi conquistando cada vez mais as boas graças de Sebastião
de Carvalho e Melo, que o fez seu ajudante de estado. Em 1765 foi nomeado
procurador da coroa, e nessa qualidade continuou a ser um poderoso auxiliar do
marquês de Pombal na sua guerra contra os jesuítas e contra os jacobinos ou
sigilistas. Em 1765 foi nomeado procurador da coroa, e nessa qualidade
continuou a ser um poderoso auxiliar do marquês de Pombal na sua guerra contra
os jesuítas e contra os jacobinos ou sigilistas. Por isso, tendo sido nomeado a
25 de abril de 1765, foi logo a 11 de novembro do mesmo ano nomeado chanceler
da Casa da Suplicação, a 29 de abril de 1766 guarda-mor da Torre do Tombo,
sendo já desde 1757 fiscal da companhia do Grão-Pará e Maranhão, desde 1760
executor da real fazenda da rainha D. Maria Ana. A carta régia de 25 de janeiro
de 1770 fazia-o desembargador do Paço, e finalmente a 3 de junho de 1771 era
nomeado ministro de Estado adjunto ao marquês de Pombal. José de Seabra esteve
no poder três anos, merecendo sempre a confiança mais completa do grande
ministro. Em 1774, sem que nada o fizesse prever, foi detido por ordem de D.
José e posteriormente deportado para o Brasil, seguindo-se Angola no seu
calvário. Regressou ao Reino em 1778, após a morte de D. José, tendo sido
reabilitado pela rainha D. Maria I. Nunca se soube verdadeiramente o que terá
concorrido para a sua “descida aos infernos”, constituindo ainda hoje um dos
maiores mistérios da História portuguesa. Aponta-se como causa mais provável, a
sua indiscrição com um segredo de estado: afastar do trono a princesa herdeira,
D. Maria - cujo fervor religiosos desagradaria a Pombal - em favor de seu
filho, o príncipe D. José.”
Exemplar brochado em razoável estado geral de conservação. Apresenta no entanto, alguns defeitos de relevo: falha de papel (sem afectação
do texto); folhas vincadas no canto inferior direito em grande
parte do livro; vestígios antigos de humidade ao longo da obra, com particular
incidência no início e no final.
Conserva as capas de brochura originais.
Muito raro.
Com interesse histórico.
55€
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