[SILVEIRA, Francisco Rodrigues] - MEMORIAS DE UM SOLDADO DA INDIA : compiladas de um manuscripto portuguez do Museu Britannico por A. de S. S. Costa Lobo. Lisboa, Imprensa Nacional, 1877. In-8.º (19cm) de 344 p. ; E.
1.ª edição.
Valorizada pela dedicatória autógrafa de Costa Lobo (parcialmente obliterada com o intuito de suprimir o nome do destinatário da oferta).
Rara edição original de um dos mais importantes documentos quinhentistas, a par dos escritos de Diogo do Couto, sobre a presença e administração portuguesa na Índia.
"Em 1585 Francisco Rodrigues da Silveira [1558-1640?] embarcou como soldado para a India, onde militou por espaço de doze annos. Sentimentos patrioticos o determinaram a consignar por escripto a relação da anarchia e immoralidade que lá presenceára, e a traçar um plano de reformas, o qual, a seu pensar, seria o remedio para tamanhos males. Regressando a Portugal em 1598, este seu primeiro trabalho foi apresentado ao governo, que, como era de suppor, não lhe deu a minima attenção. Silveira, comtudo, não descoroçoou. Foi augmentando e melhorando a sua obra, e com infatigavel zêlo cruzava entre Lisboa e Madrid para a inculcar á consideração dos conselheiros da corôa portugueza em ambas as capitaes; mas sempre com o mesmo infeliz resultado. Pelo anno de 1608 graves attribulações pessoaes o forçaram a interromper esta fervorosa lida em favor da causa publica. Na comarca de Lamego, sua patria, onde residia, viu-se travado em terrivel combate forense com um tabellião, combate que se protrahiu por largos annos, que por varias vezes atirou com elle á cadeia, e em que foi, por derradeiro, piedosamente desbaratado. Querendo, ainda neste caso, tornar a sua triste experiencia em proveito da republica, recontou as peripecias do epico duello com o façanhoso tabellião, e apontou as reformas que na organisação judiciaria se deveriam introduzir para se acautelarem as injustiças de que fôra miseranda victima. São estes elementos, e reflexões avulsas sobre o estado do paiz, que constituem o corpo do seu livro.
Era o fim principal do escriptor não menos que o de sanear o regimen governativo da India e firmar no reino a vara da justiça que não vergasse ao mais leve sopro do interesse: os successos da sua vida não os refere senão como a base experimental sobre que assentam as reformas. [...]
O que no manuscripto de Silveira se faz digno de memoria é o seu testemunho, rude e chão, sobre a vida e os costumes contemporaneos, e a narrativa dos acontecimentos de que foi parte. Aqui se contém materia de historia e de util ensinamento. Como eram na India, no ultimo quartel do seculo XVI, as tradições e o comportamento do mundo official, o regimento das fortalezas, a disciplina militar, a direcção dos commettimentos navaes, quaes os sentimentos, habitos e propositos dos portuguezes no oriente; e, em confronto, qual fosse na metropole o nivel moral, o respeito pelos direitos civis, a probidade dos funccionarios, a situação economica: é sobre estes pontos que versam as informações de Silveira, e basta enuncia-los para perceber a valia do seu exacto conhecimento. Esses factos são um elo da cadeia historica: explicam os successos antecedentes, e influiram sobre os destinos do paiz: concorreram para a degeneração do caracter nacional: são um aviso solemne para o futuro. Constituem, demais, um subsidio para a historia do imperio portuguez no oriente."
(excerto do prefácio do compilador)
Meia encadernação francesa de chagrin com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa original anterior. Aparado somente à cabeça, com o corte das folhas pintado de azul.
Exemplar em bom estado de conservação. Capa suja, restaurada nos cantos; frontispício e página seguinte apresentam pequeno restauro no canto superior dto.; miolo escurecido.
Raro.
Com interesse histórico.
Peça de colecção.
90€
Reservado
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