11 setembro, 2015

CASTRO, José Augusto de - LABAREDAS. Lisboa, Composto e impresso na Imprensa Lucas & C.ª, 1924 [aliás 1925]. In-8º (18,5cm) de 191, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Obra curiosa. Trata-se de um diálogo imaginário entre o autor e um seu amigo (Alberto), solução encontrada por José Augusto de Castro - um republicano desiludido, mas não rendido, - para comentar a crise nacional e o desprezo pelos valores republicanos.
"Hoje é o que se tem visto, - republicanos que não só não protestam contra o aplauso dos inimigos da Republica, - e inimigos que se aproveitam dos meios mais indignos e infames, desde a injuria torpe á calúnia soez, desde o assalto ao incendio e assassinio, - mas procuram conquistar esse aplauso sem que a consciencia se lhes sobressalte...
E, sabes? Inimigos do numero daqueles dde que falo alvejaram-me com referencias de seu uso por eu dizer que foi uma iniquidade e uma infamia não ser abrangido José Julio da Costa pelo decreto da aministia.
As referencias não alteram coisa alguma o meu raciocinio, o meu criterio e o meu sentimento. Confirmo a classificação. Foi uma iniquidade, uma infamia, uma cobardia. Ele nem devia ter ficado na prisão desde que dominado o tripúdio dos trauliteiros do norte. [...]
- Admitir, por exemplo, que José Julio da Costa é mais criminoso do que os promotores da leva da morte, do que os responsaveis pelo assassinio de Ribeira Brava, do que os mandantes dos corsarios que levam os marinheiros para os presidios africanos, do que os chaveiros dos antros do Eden só é possivel aos tartufos e aos cinicos mais miseraveis. [...]
Ora, o acto de José Julio da Costa foi, nem mais nem menos, o acto de Manuel Buiça. Acto absolutamente igual, igualmente deve ser julgado. É a logica e é a justiça. O contrario é a iniquidade, a incoerencia, o ilogismo, a infamia. Como foi julgado Manuel Buiça?"
(excerto do Cap. IV)
- Em conclusão, podemos confessar que, se não estamos peor, estamos no mesmo. Assim não valia a pena fazer-se a revolução de 5 d'Outubro...
- Perdão, a beleza das idéas, como dos factos dessas idéas uriundos, não pode ser manchada pelos erros, desvarios e crimes dos homens.
Os homens passam, as idéas ficam.
A data 5 d'Outubro de 1910 representa uma idéa e um facto em que a beleza resplandece, mas contra a qual monarquicos e clericais, muitos mascarados de republicanos, teem arremessado e arremessam quanta lama pode fazer-se em almas indignas."
(excerto do Cap. V)
José Augusto de Castro (1862-1942). "Nasceu em Prova, concelho da Meda, mas cedo parte para o Porto à procura de emprego. Ainda jovem emigra para o Brasil, já marcado com as ideias, então em voga, da defesa de causas sociais e políticas, nomeadamente as do republicanismo. Neste país inicia a sua actividade jornalística, assistindo à proclamação da República Federativa do Brasil, em 1889, e toma parte activa na questão da escravatura que estava em discussão na sociedade brasileira.
Regressa à Guarda por motivos de saúde, à procura da cura para a tuberculose de que padecia.
Funda o jornal O Combate, em 1906, defensor da Ideia Republicana em Portugal, ainda sob o regime monárquico, o qual será um palatino do ideal que defende, combatendo ferozmente os opositores políticos e a própria Igreja Católica.
Este jornal, publicado até 1931, reflecte a sua visão pessoal, as ideias e o pensamento de uma luta entre a política monárquica e a republicana num estilo panfletário.
Publica também poesia, lírica e sentimental, ou textos do género epistolar, sendo este último caso um veículo para transmitir ideias polémicas e bairristas."
(Fonte: GOMES, Jesué Pinharanda , 1939 - Dicionário de escritores do Distrito da Guarda. Guarda)
Encadernação inteira de percalina com motivos florais, título e autor a seco e a cores nas pastas, e dourados na lombada. Conserva a bonita capa de brochura frontal.
Muito invulgar.
15€

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