01 setembro, 2015

VIALE, A. J. - O EPISODIO DE D. INEZ DE CASTRO : excerpto do Canto III dos Lusiadas. Paraphraseados em versos latinos por... Lisboa, Lallemant Frères, Typ. Lisboa : Fornecvedores da Casa de Bragança, 1875. In-8º (20,5cm) de 15, [1] p. ; B.
1.ª edição. (Bilíngue: português-latim).
Muito valorizada pela dedicatória autógrafa do autor.
"Inês de Castro é um episódio lírico-amoroso que simboliza a força e a veemência do amor em Portugal. O episódio ocupa as estâncias 118 a 135 do Canto III de Os Lusíadas e relata o assassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu amante. É narrado, na sua maior parte, por Vasco da Gama, que conta a história de Portugal ao rei de Melinde. Considerado um dos mais belos momentos do poema, é a um só tempo um episódio histórico e lírico: por trás da voz do narrador, e da própria Inês, percebe-se a voz e a expressão pessoal do poeta. Camões, através da fala de Vasco da Gama, destaca do episódio sua carga romântica e dramática, deixando em segundo plano as questões políticas que o marcam."

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"Qual contra a linda moça Polyxena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Achilles a condemna,
Co'o ferro o duro Pyrrho se apparelha:
Mas ella, os olhos com que o ar serena,
Bem como paciente e mansa ovelha,
Na misera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrificio se offerece,


Taes contra Inez os brutos matadores,
No collo de alabastro que sustinha,
As obras com que amor matou de amores,
Aquelle, que depois a fez rainha,
As espadas banhando e as brancas flores
Que ella dos olhos seus regado tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

 

Bem poderas, ó sol, da vista d'estes,
Teus raios apartar aquelle dia,
Como da seva mesa de Thyestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
Vós, ó concavos valles que podestes
A voz extrema ouvir da bocca fria,
O nome do seu Pedro que lhe ouvistes,
Por muito longo espaço repetistes!

 

Assi como a bonina, que cortada
Antes de tempo foi, candida e bella,
Sendo das mãos lascivas maltratada
Da menina que a trouxe na capella,
O cheiro traz perdido e a côr murchada,
Tal está morta a pallida donzella,
Seccas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva côr, co'a doce vida.

 

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo, chorando, memoraram,
E, por memoria eterna, em fonte pura
As lagrymas choradas transformaram:
O nome lhe puzeram, que 'inda dura,
Dos amores de Inez, que alli passaram.
Vède que fresca fonte rega as flores,
Que lagrymas são a agoa, e o nome amores!
"


(excerto do poema)

Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas com manchas de oxidação, bem como a f. rosto.
Invulgar.
15€

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