BOCAGE – SONETOS ESCOLHIDOS. Lisboa, Edições Delta, 1921. In-16º (12cm) de 123, [1] p. ; il. ; E.
Ilustrado com um retrato de Bocage em página inteira (reprodução de uma gravura de Bartolozzzi).
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do editor/prefaciador Da Cunha Dias - datada de Abril de 1921 - a Abel da Mota Veiga.
Bonita edição organizada pelo editor, Da Cunha Dias, que é também o autor da extensa nota biográfica de Bocage, que precede a obra em jeito de preâmbulo.
“Manuel Maria Barbosa du Bocage, nasceu em Setubal aos 15 de Setembro de 1765. […]
De muito novo, Bocage, revelou a sua marcada personalidade. Impetuoso, de repente – (andava ao tempo estudando) – com grande surpresa do pai, assentou praça no Regimento de Infantaria 7, de Setubal.
Tinha, então, 14 anos.”
(excerto do preâmbulo)
“Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de faxa, o mesmo na figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de existir num só terreno,
Mais propenso ao furôr do que á ternura;
Bebendo em niveas mãos por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades…
(Digo!, de môças mil) num só momento;
Inimigo de hipocritas e frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento.
Saíram mesmo dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou… mais pachorrento."
(Soneto, pp 31)
Alberto da Cunha Dias (1886-1947). Cunha Dias - ou melhor, Da Cunha Dias, como sempre fazia questão de assinar o seu nome e passou a ser referido. Advogado, jornalista, polemista político, escritor e editor. Nascido em Sintra, em 1886, de uma família da classe média (o pai era notário), Cunha Dias entrou aos dez anos de idade para o Colégio Militar e aos vinte anos, em 1906, para a Universidade de Coimbra, onde o seu nome aparece ligado à greve estudantil de 1907. Foi uma das amizades mais duradouras de Fernando Pessoa, que a manteve durante mais de vinte anos. Em 1916 foi internado no Hospital de alienados Conde de Ferreira, no Porto, de onde fugiria cinco semanas mais tarde. Desta estadia e dos motivos que a tal haviam conduzido, aproveitou Cunha Dias para, nos anos seguintes, lançar duas campanhas jornalísticas com o intuito de “limpar o nome”, fazendo publicar inúmeros artigos e dando à estampa 2 livros. Em 1921 - ano também do seu regresso ao exercício da advocacia nos tribunais - Cunha Dias criou as Edições Delta. A editora publicou nesse mesmo ano diversas obras, entre as quais, uma edição dos sonetos de Bocage (Sonetos Escolhidos), de que também ofereceu a Pessoa um exemplar, com dedicatória de Abril de 1921 (Pizarro, Ferrari e Cardiello, 2010: 421) - este o livrinho que, segundo José Paulo Cavalcanti (2011: 676 e segs.), Pessoa teria no bolso do pijama, no Hospital de São Luís, quando morreu. Em 1934, foi Cunha Dias quem convenceu Pessoa a mudar o título do seu livro de poemas Portugal, depois publicado como Mensagem. Alberto da Cunha Dias morreu em 12 de Junho de 1947, com 61 anos. “Enfermo há bastante tempo, o último período da sua existência foi o desfecho de uma vida agitada e inquieta”, lê-se no necrológio que o vespertino Diário de Lisboa publicou no próprio dia da sua morte, salientando essencialmente, na vida de Cunha Dias, a sua actividade de polemista político e a exuberância da sua personalidade.
(Fonte: BARRETO, José, O mago e o louco: Fernando Pessoa e Alberto da Cunha Dias)
Encadernação cartonada com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
25€
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