04 março, 2023

AGUIAR, Prof. Doutor Asdrúbal de -
CAUSAS DAS MORTES DO REI D. CARLOS I E DO PRÍNCIPE REAL D. LUÍS FILIPE.
Separata das «Imprensa Médica : Ano XXIII - Outubro de 1959
. Lisboa, [s.n.], 1959. In-4.º (23,5cm) de 25, [1] p. ; B.
1.ª edição independente.
Importante subsídio médico-legal para o apuramento das causas que conduziram à morte do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao Dr. Armando Cavaleiro Pinto Basto.
"Até ao presente, e já vai decorrido mais de meio século, não foram indicados, de maneira decisiva ou pelo menos presumível, as causas das mortes do rei D. Carlos e do Príncipe Real D. Luís Filipe, sucedidas no Terreiro do Paço no dia 1 de Fevereiro de 1908, pelas 17 horas e meia ao regressarem com a Rainha D. Amélia a Lisboa, vindos de Vila Viçosa.
O regicídio perpetrado nessa ocasião filiou-se em acontecimentos políticos de vulto que de meses pretéritos vinham acontecendo. [...]
Poderia aludir aqui, com maior minúcia, a estes e outros precedentes imediatos ou distantes da anormal situação, esmiuçar as actividades dos revoltosos, enumerar-lhes os nomes, etc. Seria fastidioso fazê-lo. Demais nada disso importa para o propósito em vista: determinar as verdadeiras causas das mortes do rei e do príncipe real. Também não tratarei, pormenorizadamente, dos fins trágicos dos regicidas sucedidos igualmente no Terreiro do Paço, após o atentado. Apenas me referirei à maneira como foi executado o duplo homicídio de D. Carlos e de D. Luís Filipe, e isso, porque interessa para a boa compreensão de certos factos a que aludirei. [...]
A chegada a Lisboa, prevista para as 16 horas e 15 minutos, foi retardada de 1 hora e 5 minutos, atracando o vapor «D. Luís» que do Barreiro transportava o rei, a rainha, o príncipe e a comitiva às 17 horas e 20 minutos na estação fluvial do Terreiro do Paço, então alojada na margem do Tejo, próximo do torreão, pertença no Ministério da Guerra. [...]
O rei, a rainha, o príncipe real e o infante D. Manuel tomaram então lugar num «landau» aberto, tirado por duas parelhas de cavalos, ocupando D. Carlos e D. Amélia os lugares trazeiros - a rainha à direita do rei, e D. Luís Filipe e D. Manuel os lugares dianteiros, o príncipe em frente do rei e o infante em frente da rainha. A carruagem poz-se em marcha entrando na rua ocidental do Terreiro do Paço, sendo seguida, a curta distância, por outro «landau» igualmente tirado por duas parelhas, conduzindo os camaristas de serviço - condes de Figueiró e marquês de Alvito, e pela carruagem do presidente do Ministério. Nenhuma escolta militar acompanhava o «landau» real. De resto, não era costume fazer acompanhar o rei ou a rainha, nas suas passagens pelas ruas de Lisboa, de qualquer destacamento militar, a não ser em actos oficiais.
Quando a carruagem real atingiu as arcadas próximas da rua do Arsenal, sobre as quais se encontrava instalado o Ministério da Fazenda, predecessor do actual Ministério das Finanças, foram disparados seguidamente dois tiros de carabina sobre o rei por um indivíduo de nome Manuel da Silva Buíça, o qual saíra, de súbito, de entre os populares estacionados no passeio do lado do Terreiro e avançava para o leito da rua para trás da carruagem, e logo a seguir também dois tiros de pistola «Browning» por outro indivíduo, Alfredo Luís da Costa, que parece ter surgido de entre os mesmos populares, o qual correu igualmente para trás da carruagem, que ia já a voltar para a rua do Arsenal.
Mal foram disparados os tiros que atingiram o rei, este caiu para o lado direito. Semelhantemente apenas foram desfechados os tiros que alcançaram o príncipe, este tombou para a frente, para cima do corpo do rei.
D. Carlos pouco tempo teve de vida - uns escassos segundos. [...] O príncipe teve morte instantânea. [...]
Já de noite os cadáveres foram conduzidos para o Paço das Necessidades, cada um em seu «landau», precedidos por outro em que se transportavam as rainhas D. Amélia e D. Maria Pia e o infante D. Manuel. Foram recebidos pelo Dr. D. Tomaz de Mello Breyner, médico de serviço.
No dia seguinte, 2 de Fevereiro, procedeu-se ao embalsamamento de ambos após o exame dos ferimentos neles existentes.
O embalsamento foi demorado. Durou cerca de 12 horas. [...]
Não se realizaram as autópsias por determinação expressa do governo. Julgaram-nas dispensáveis. Realmente elas nada importavam para a organização do corpo de delito directo destinado a julgamento dos regicidas, pois estando estes mortos, não podiam ser julgados. Este e possivelmente outros motivos, levaram o governo a tal decisão."
(Excerto de Causas das mortes do Rei D. Carlos I...)
Matérias:
Medicina Legal - Causas das mortes do Rei D. Carlos I e do Príncipe Real D. Luís Filipe. [Introdução]. | Relatório do exame no cadáver de Sua Majestade El-Rei o Senhor D. Carlos. - Conclusões. | Relatório do exame no cadáver de Sua Alteza o Príncipe Real Senhor D. Luís Filipe. - Conclusões. | I. Efeitos traumáticos provocados no Rei D. Carlos pela agressão de que foi vítima. - II. Efeitos traumáticos provocados no Príncipe Real D. Luís Filipe pela agressão de que foi vítima. | Em resumo.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
20€
Reservado

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