QUEIROZ, Teixeira de - D. AGOSTINHO. Por... Comedia Burgueza. Lisboa, Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 1894. In-8.º (19 cm) de 338, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original do terceiro volume da série naturalista «Comédia Burguesa», e um dos mais notáveis romances do autor.
"Palmyra
estava só e triste. Enterrada na poltrona, a pequenina e airosa cabeça
entre as mãos constelladas de anneis, esperava anciosamente seu marido.
Pouco antes estivera ali a condessa de Franzuella a dispol-a para a
dolorosa noticia. As reticencias, as consolações vagas, as esperanças
sem horisonte deixadas nas suas palavras, fizeram-lhe peor, tornaram-na
excessivamente nervosa. O ranger das botas de Sallustio despertou-a.
Quando elle entrou, aquelle seu aspecto convencional de tristeza deu-lhe
logo a ideia de que tudo estava perdido. Agarrando-se-lhe
freneticamente ao pescoço, perguntou n'uma explosão soluçante:
- Então?...
Sallustio
beijou-a amoravelmente na testa, desprendeu-a do seu pescoço,
acompanhou-a até ao sophá e, sentando-a a seu lado, disse n'uma voz
resignada, designando-lhe o ceu com o olhar:
- Aquelle está melhor que nós
- Morreu! - exclama. Ai! meu querido pae! Tudo está acabado entre nós!
Atirou-se
ao troco do marido como a um arrimo. O soluçar doloroso e sentido
entrecortava-lhe as palavras de recordação e amor. Eram coisas da
infancia, do tempo em que ella já não tinha mãe. Durante a vida, elle,
seu pae, nunca tivera outra preocupação, outro pensamento, que não fosse
o bem estar, a felicidade de Palmyra. Trabalhou sá para ella,
dedicou-se-lhe absolutamente, como humilde escravo d'um sentimento
affectuoso e enorme."
(Excerto do Cap. I)
Francisco Teixeira de Queiroz (Arcos de Valdevez, 1848 - Sintra, 1919). “Romancista e contista,
Francisco Teixeira de Queirós licenciou-se em Medicina, tendo ocupado
diversos cargos públicos, entre os quais o de deputado, de vereador da
Câmara Municipal de Lisboa e de ministro dos Negócios Estrangeiros,
neste caso em 1915. Chegou a ser presidente da Academia das Ciências de
Lisboa. Fundou em 1880, com Magalhães Lima, Gomes Leal e outros, o
jornal «O Século», tendo também colaborado nos periódicos «O Ocidente»,
«Revista de Portugal», «Revista Literária», «Arte & Vida»,
«Ilustração Portuguesa», «A Vanguarda» e «A Luta», entre outros. Em
1876, publicou o seu primeiro romance, «Amor Divino», com o pseudónimo
de Bento Moreno, que viria a usar em outros livros. A sua vasta obra
está repartida em dois grupos: «Comédia de Campo» e «Comédia Burguesa»,
imitando assim a «Comédie Humaine», de Balzac, um dos seus mentores.
Durante cerca de 40 anos, reformulou o seu plano e a sua doutrinação
literária sobre o romance, procurando incansavelmente aplicar o seu
programa realista-naturalista de base científica. Cultivou uma escrita
de feição realista, fazendo uma crítica constante à alta sociedade
lisboeta, evidenciando os seus costumes, os seus modos de agir e de
estar perante a sociedade portuguesa em geral. Em algumas das suas
obras, por outro lado, retrata de uma forma carinhosa e saudosa os seus
tempos de infância, vividos na quietude da sua terra natal.”
Encadernação recente inteira de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom
estado de conservação.
Raro.
35€
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