ALMEIDA, Carlos Pinto d' - OS CONSPIRADORES. Romance original portuguez. Volume I. Lisboa, Typographia da Empreza Serões Romanticos, [1879?]. In-8.º (19,5 cm) de 307, [5] p. ; [3] f. il. ; E. Col. Bibliotheca Serões Romanticos - Volume I
1.ª edição.
Romance de capa e espada, exemplo típico do período literário do romantismo, que se desenrola durante a Revolução Francesa, numa primeira fase, em Lisboa, e depois, nos campos de batalha de França.
Livro ilustrado com 3 belíssimas estampas extra-texto, abertas em metal, com desenhos de Manuel de Macedo.
"O dia 27 de abril do anno da graça de 1792 estava bello e esplendido.
Um sol brilhante dourava as cumiadas dos montes e as mais altas serranias. O ambiente que se aspirava era embalsemado pelo aroma perfumado das flores, que, ridentes, alcatifavam as vastas planicies, que os lavradores deixavam incultas; e por onde não passára a relha do arado.
O vento soprava do norte, a temperatura era amena, propria da estação da primavera.
O brando ciciar dos arvoredos e o alegre chalrear dos passarinhos, convidava os pacificos habitantes da cidade de Lisboa, a darem um passeio pelo campo.
O Tejo espreguiçava-se com indolente voluptuosidade; e numerosas pessoas passeiavam pelo Terreiro do Paço, gosando o magnifico panorama, que offerece aquella praça.
Seriam cinco horas da tarde. As ruas de Lisboa estavam animadas cheias de vida, por ser de ha muitos annos, um centro de grande importancia commercial.
Quem n'aquelle dia passasse pela rua, que seguia desde as portas da Cruz da Pedra, até ao caes dos Soldados, havia de necessariamente reparar n'um joven, que, descuidoso, a percorria, montado n'uma pequena mulla, de grande orelhas e côr cinzenta. [...]
O mancebo teria dezoito annos; era de estatura meã, não excederia a sessenta pollegadas, a sua fronte era porém sympathica, bella e não destituida de energia. Tinha os olhos grandes, pretos; sobrancelhas arquedas; nariz aquilino, bocca regular. Nos labios, transparecia-lhe, por vezes, um sorriso zombeteiro, que revellava um espirito claro, um caracter travesso e picaresco.
Trajava uns calções de panno verde, uma vestia e collete da mesma côr; na cabeça trazia um chapéo tricornio com a aba dianteira levantada, ao lado caindo-lhe um formulavel espadim, que lhe batia constantemente nas pernas.
Quantas pessoas reparavam n'este original sorriam e diziam com os seus botões:
- É um pobre provinciano. Mais um pobre diabo que vem perder-se para esta Babilonia.
Mas se os velhos diziam esta geremiada, os rapazes riam-se; é certo porém que não se animavam a dirigir-lhe qualquer dito espirituoso, nem uma sombra de ridiculo!"
(Excerto do Cap. I - Duas aventuras)
Carlos Pinto de Almeida (1831-1891). Foi um escritor e tradutor português. Distinguiu-se na produção de romances históricos - género literário em voga na época - onde atingiu projecção de relevo.
Manuel de Macedo ( (Verride, 1839 - Lisboa, 1915)). "Foi conservador do Museu Nacional de Bellas Artes e Archeologia e do Museu Nacional de Arte Antiga, a partir de 1911. Professor na Escola de Belas Artes de Lisboa, dedicou-se a várias áreas artísticas. De 1864 a 1883 foi o cenógrafo de vários teatros lisboetas. Editou o Albúm de Costumes Portugueses, em 1888, em conjunto com Rafael Bordalo Pinheiro e Roque Gameiro. Foi aguarelista e caricaturista da sociedade burguesa lisboeta, tradutor e ilustrador de vários romances. Participou, como Director Artístico, na fundação da revista Ocidente, em 1878, publicada até ao ano da sua morte."
(Fonte: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4720933)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação, sendo que, as pastas se apresentam manuseadas e gastas, com falhas no revestimento.
Raro.
Sem registo na BNP (menciona apenas a 2.ª edição).
Indisponível
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