23 fevereiro, 2020

VIDOEIRA, Pedro - AMBIÇÕES DE CORTEZÃ. (Scenas da vida burgueza). Porto,  Escriptorio de Publicações de J. Ferreira dos Santos, 1914. In-8.º (19 cm) de 499, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso romance, cuja género literário oscila entre o histórico e o de costumes. A acção decorre em Lisboa, na segunda metade do século XIX.
"- Dá licença, senhora D. Julia?
- O senhor Paulo Vieira! Ditosos olhos!...
E aquella, a quem o recemchegado se dirigira, accrescentou em voz baixa:
- Temos contas que ajustar.
Sem fazer maior cabedal da intenção que se occultaria naquellas palavras, o recemchegado continuou:
- Negocios particulares me levaram a Gouveia; e, a esse respeito, permitta-me...
Não poude proseguir. Ao mesmo tempo, outra senhora, entrando sem attentar na presença de extranhos, perguntou para a primeira:
- Julia, o meu vestido assenta bem na cintura?
- Então, Rita, não reparas em quem aqui está?
- O senhor Paulo Vieira! Que surpreza! Por onde é que tem andado?
- Quando V. Ex.ª chegou, ia explicar a sua irmã o motivo da minha ausencia. Estive em Gouveia, em casa deste meu amigo Ruy Meirelles, que tomo a liberdade de lhes apresentar.
- Seja bem vindo mais o senhor Ruy Meirelles, replicou Julia. Os amigos dos nossos amigos nossos amigos são.
 E as duas senhoras extenderam a mão ao apresentado. Eram ellas as filhas do conselheiro Valladares, chefe de repartição numa secretaria de Estado. Julia, a mais velha, de fartos cabellos escuros, olhos pretos e modos agradaveis, contava já vinte e nove annos e era casada com Miguel Refoios, um moço possuidor de grandes e rendosas propriedades no Alemtejo. A outra, Rita, de olhos verdes, cabellos castanhos e ar pretencioso, mais nova que Julia dois annos, conservava-se ainda solteira, porque pretendia só para marido um homem de superior posição ou de prosápia muito illustre. Além de Julia, de Rita e do marido de Julia, Miguel Refoios, havia ainda um filho varão, Isidoro Valladares, de vinte e seis annos, e uma afilhada de dezoito, de nome Celeste - o primeiro completamente inutil, sem nunca se ter dedicado ao estudo e ao trabalho; a segunda recolhida de pequenina pelo conselheiro, que a mandára educar como as suas proprias filhas.
As opulencias, de que dispunha esta familia, faziam do seu palacete de Lisboa a Santo André um centro de reunião pelos principios de 1868. Estava-se na tarde da segunda sexta-feira de quaresma, e o conselheiro Valladares aguardava algumas pessôas de intimidade para verem das suas janellas a procissão dos Passos da Graça, consagrada á espectaculosa exhibição do martyr do Calvario por varias ruas da capital."
(Excerto do Cap. I)
Pedro Alcântara Vidoeira (1834-1917). Poeta, escritor e tradutor português, natural de Lisboa. Emprestou a sua colaboração a jornais e revistas da época, onde se destaca a conhecida publicação Branco e Negro : semanario illustrado. A BNP dá conta de extensa lista de obras traduzidas por Vidoeira, sobretudo de Júlio Verne. Refere também duas obras poéticas - Lyrica popular (1895) e Nova lyrica popular (1913) - e dois romances: A fidalga do Juncal (1904) e Ambições de cortezã (1914).
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Com falta da capa frontal e da f. anterrosto. Deve ser encadernado.
Raro.
Indisponível

Sem comentários:

Enviar um comentário