07 fevereiro, 2024

MACHADO, Julio Cesar - DA LOUCURA E DAS MANIAS EM PORTUGAL : estudos humoristicos. Por... Segunda edição. Lisboa, Livraria de A. M. Pereira - Editor, 1872. In-8.º (18x12 cm) de IX, [1], 244, [2] p. ; E.
Incursão do autor no Hospital de Rilhafoles (desde 1911, Hospital Miguel Bombarda), em visita ao "mundo" da loucura humana, aproveitando a "deixa" para se satirizar, nos capítulos seguintes, as "manias" relacionadas com a superstição popular. Obra invulgar e muito curiosa.
"Propunha-se este livro a dois fins: chamar a attenção dos governos para esse hospital de Rilhafoles em que ninguem pensava; e chamar a attenção do publico - a parte sã, a parte com juiso de entre elle - para castigar, rindo, as superstições, que com o invadirem de mais o paiz tornam Portugal uma nação de enguiçados. [...]
No que respeita ás crendices, diz tudo o acolhimento que teve este livro, a alegria com que foi saudada a idéa de combater pelo ridiculo este reviver dos oraculos - embaraço maior na vida do que os que a vida naturalmente dá."
(Excerto do preâmbulo)
"Tudo é alegre, á entrada: flores e arvores. D'ali a nada, - da porta para dentro parece já que passou o outomno por cima da primavera d'aquelle jardim!... Apagam-se as côres, escurece o céo, ouve-se estalar a casca das arvores... Principiam as physionomias a transtornar-se; já os olhos não são outra cousa senão buracos luzidios; cavam-se as faces, parecem caretas os sorrisos, não teem os gestos significação, as feições são vagas, a fórma tem contornos indecisos; tudo são personalidades phantasticas, existencias ficticias; linguagem que não se entende: gente estranha, que dá idéa dos habitantes da lua!...
Alguns dançam, e cantam; e passa a tristeza n'aquella alegria, e transpõem-se effeitos de claro e escuro na musica e na voz d'elles, envolvendo-lhes a idéa como n'um crespusculo!... [...]
Ás vezes chega a parecer-nos que é natural tudo aquillo; que o ser como nós somos e portar-se como nos portamos - é ser afectado, é ser pedante... [...]
Ha ali, hoje, quinhentos e onze d'esses infelizes; duzentas e cincoenta e sete mulheres, duzentos e cincoenta e quatro homens; tres creanças idiotas. [...]
Os doentes entram ali por ordem da auctoridade publica, ou a requerimento de particular, - com attestado do medico, auto de investigação, e, se são pobres, certidão do parocho, - e ficam quinze dias em observação; findos elles, ou a doença não se verifica e são immediatamente despedidos, ou, verificada a alienação, colloca-se o doente na repartição que o director lhe destina, e segue o tratamento.
O tratamento! Isto é, - o estudo, a observação constante, as experiencias, mil tentativas, o diligenciar permanente de chamar á razão e ao sentimento das cousas aquelas pobres cabeças cançadas de sonhos, de lutas, de prazer ás vezes, de amarguras, de esperanças, de enganos!... Vêl-os como medico, como philosopho, e como  morralista, - unica maneira de poder assenhorear-se-lhes dos segredos."
(Excerto de Rillhafoles - I. Os doidos)
Indice dos capitulos:
I - Os doidos. II - As doidas. III - Os idiotas. IV - Os furioso. V - Telha. VI - Enguiços. VII - Agouros. VIII - Feitiços. IX - Encantos. X - Sonhos. XI - Sinas. XII - Coisa má. XIII - As mulheres de virtude.
Júlio César Machado (Lisboa, 1835-1890). "Foi um escritor português do século XIX. Jornalista, tradutor, autor de romances, contos e peças de teatro, um dos mais destacados da segunda metade do seu século. Salientou-se, sobretudo, como folhetinista e cronista. Escreveu biografias, comédias, contos, crónicas, dramas e romances. Trabalhou como folhetinista no Diário de Notícias e colaborou com alguns textos da sua autoria no Paquete do Tejo (1866-1867), Revista Contemporânea de Portugal e Brasil (1859-1865), Renascença (1878-1879?), Ribaltas e Gambiarras (1881) e Lisboa creche: jornal miniatura (1884). Nas suas obras retratou a vida lisboeta, da sua época, de forma crítica e humorística. Foi iniciado na Maçonaria, entre 1853 e 1856 na Loja União Independente, do Grande Oriente Lusitano Unido, tendo como nome simbólico Balzac. Ironicamente, a sua vida, consagrada à escrita humorística do quotidiano, terminaria num ambiente de tragédia familiar. Dois meses depois do suicídio do filho único, Júlio da Costa Machado, no mesmo ano da morte do seu grande amigo Camilo Castelo Branco, Júlio César Machado, não resistindo à dor provocada pelo suicídio do único filho, pôs termo à vida na sua casa, terceiro andar do número 2 da Travessa do Moreira ao Salitre, em Lisboa."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação inteira de pele - executada nas oficinas do Estabelecimento Prisional de Coimbra - com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
25€

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